Busca

O que é contexto?

Contexto é a situação de produção ou recepção de um texto. Há contextos de produção, de uso, linguístico e sociocognitivo. Eles interferem na construção de sentido do texto.

Por Warley Souza

Diagrama com conceito e tipos de contexto.
A construção do sentido de um texto depende de fatores como conhecimentos linguísticos e extralinguísticos.
Imprimir
Texto:
A+
A-

PUBLICIDADE

Contexto é a situação em que um texto é produzido ou lido. Assim, existem os contextos de produção (relacionado às circunstâncias da escrita), de uso (referente às circunstâncias da leitura), linguístico (referente às relações gramaticais) e sociocognitivo (relacionado aos conhecimentos gerais do produtor e do receptor).

Estão envolvidos no processo de contextualização textual a linguagem utilizada (formal ou informal), o gênero textual, a época em que o texto foi produzido ou lido, além do veículo de transmissão desse texto, que pode ser jornal, revista, livro etc. Portanto, para a construção de sentido do texto, são acionados conhecimentos linguísticos e extralinguísticos.

Leia também: Coesão e coerência — fatores fundamentais na construção de sentido de um texto

Resumo sobre contexto

  • O contexto é a situação em que o texto é produzido ou lido e interfere no processo de construção de sentido do texto.

  • Existem o contexto de produção, o contexto de uso, o contexto linguístico e o contexto sociocognitivo.

  • São elementos contextuais:

    • a linguagem;

    • o gênero textual;

    • a época de produção;

    • o meio ou veículo.

  • O contexto também está associado a situações formais ou informais, as quais interferem na construção de sentido do texto.

  • Para saber o contexto de um texto, é necessário identificar a linguagem utilizada nele; seu gênero; a época de sua produção; e seu veículo de transmissão.

Exemplos de contexto

Vamos analisar dois parágrafos de um texto de Machado de Assis. São de uma crônica publicada em 5 de abril de 1888. Tais informações, ou seja, o gênero de texto e a data de publicação já são elementos de contextualização. Com essas informações, a leitora e o leitor sabem que o texto fala de fatos atuais ou contemporâneos da época.

A data de publicação da crônica também nos prepara para acionar conhecimentos históricos. Além disso, o veículo de publicação do texto foi um jornal.

Bons dias! Hão de reconhecer que sou bem-criado. Podia entrar aqui, chapéu à banda, e ir dizendo o que me parecesse; depois ia-me embora, para voltar na outra semana. Mas não, senhor; chego à porta, e o meu primeiro cuidado é dar-lhe os bons dias. Agora, se o leitor não me disser a mesma coisa, em resposta, é porque é um grande malcriado, um grosseirão de borla e capelo; ficando, todavia, entendido que há leitor e leitor, e que eu, explicando-me com tão nobre franqueza, não me refiro ao leitor, que está agora com este papel na mão, mas ao seu vizinho. Ora bem!

A expressão “para voltar na outra semana” está relacionada, provavelmente, ao fato de que o cronista publicava uma crônica por semana no jornal, como é comum. Quando ele diz que o leitor “está agora com este papel na mão”, ele está se referindo ao jornal em que foi publicada a crônica. Sem esse conhecimento situacional, a construção de sentido pode ser perturbada.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Feito esse cumprimento, que não é do estilo, mas é honesto, declaro que não apresento programa. Depois de um recente discurso proferido no Beethoven, acho perigoso que uma pessoa diga claramente o que é que vai fazer; o melhor é fazer calado. Nisto pareço-me com o príncipe (sempre é bom parecer-se com príncipes, em alguma coisa, dá certa dignidade), e faz lembrar um sujeito muito alto e louro, parecidíssimo com o imperador, que há cerca de trinta anos ia a todas as festas da Capela Imperial, pour étonner le bourgeois; os fiéis levavam a olhar para um e para outro, e a compará-los, admirados, e ele teso, grave, movendo a cabeça à maneira de Sua Majestade. São gostos de Bismarck. O príncipe de Bismarck tem feito tudo sem programa público; a única orelha que o ouviu, foi a do finado imperador, — e talvez só a direita, com ordem de o não repetir à esquerda. O parlamento e o país viram só o resto.

Nesse parágrafo, há mais elementos que precisam ser contextualizados:

  • Beethoven se refere ao Clube Beethoven, fundado no Rio de Janeiro em 1882.

  • O imperador é D. Pedro II.

  • No século XIX, a língua estrangeira de prestígio era o francês, não o inglês, daí palavras, expressões ou frases em francês serem muito comuns na época, como “pour étonner le bourgeois” (para pasmar o burguês).

  • Bismarck era o chanceler do imperador alemão Guilherme I (falecido em 9 de março de 1888).

Além disso, saber que Machado de Assis é conhecido por sua ironia também é um elemento importante na contextualização do texto, ou seja, o texto está escrito de acordo com o estilo irônico do autor.

Agora analise esta campanha de 2023, do Ministério da Saúde:

Homem e mulher negros em campanha do governo contra o racismo
Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/campanhas-da-saude/2023/racismo-faz-mal-a-saude.

A afirmação “Racismo faz mal à saúde” pode não fazer sentido sem a contextualização do texto. Como complemento a essa afirmação, o texto verbal diz: “O Ministério da Saúde está comprometido em garantir equidade de raça e a promoção da saúde da população negra no Sistema Único de Saúde (SUS)”.

Então, se associamos o SUS à “equidade de raça” e à “promoção da saúde da população negra”, entendemos que o objetivo da campanha é combater o racismo nas unidades de saúde ou afirmar que o Ministério da Saúde está agindo nesse sentido. Portanto, para entender o texto, é preciso considerar o contexto social do país, onde há racismo, inclusive nos ambientes de promoção à saúde.

Veja também: O que é preciso para construir um bom texto?

Quais os tipos de contexto?

  • Contexto de produção

As circunstâncias em que o texto é escrito interferirão no sentido dele. Tais circunstâncias podem estar relacionadas à época de produção, à linguagem utilizada, aos objetivos da escrita ou mesmo à projeção de um(a) leitor(a), por exemplo.

  • Contexto de uso

As circunstâncias em que um texto é lido interferirão no sentido desse texto. Tais circunstâncias podem estar relacionadas à época em que o texto é lido, à linguagem, aos objetivos da leitura ou mesmo às expectativas do(a) leitor(a), por exemplo.

  • Contexto linguístico

O contexto linguístico está relacionado às normas gramaticais utilizadas na produção do texto e, principalmente, às relações sintáticas ali presentes. Assim, a compreensão do texto depende do conhecimento linguístico do receptor da mensagem. Esse tipo de contexto está centrado na estrutura textual.

  • Contexto sociocognitivo

Esse tipo de contexto faz referência a conhecimentos linguísticos, de mundo, de interações e comportamentos sociais etc. Assim, para a construção de sentido, é preciso que produtor e receptor compartilhem de, pelo menos, parte desses conhecimentos.

Portanto, a produção e a leitura de um texto são duas faces de uma mesma moeda. Afinal, as condições, circunstâncias ou situações em que um texto é escrito e lido fazem parte do processo de produção de sentido de um texto.

Como saber o contexto de um texto?

Na contextualização do texto, é necessário analisar o tipo de linguagem utilizada. Por exemplo, é formal ou informal? A linguagem formal é típica de situações mais sérias ou solenes. Assim, não é permitido linguagem informal em um texto jurídico ou didático. Já o contrário, usar formalidade em uma carta ou um bilhete para um amigo íntimo, seria inadequado. A linguagem fora de contexto provocaria estranhamento em ambos os casos.

Conhecer os gêneros textuais também é importante na contextualização de um texto. As características do gênero piada, por exemplo, exigem um contexto mais descontraído e conta com o conhecimento de mundo e a cooperação do receptor da mensagem, disposto a perceber a comicidade, o humor ou, até mesmo, capaz de perceber a ironia.

Já o gênero relatório exige maior formalidade, uma linguagem objetiva, sem figuras de linguagem, em respeito às regras da gramática normativa. Além da linguagem e do gênero textual, é preciso identificar a temática do texto. Ela deve ser condizente com o gênero e a linguagem utilizados.

Outra forma de entender o contexto de um texto é saber quando ele foi produzido. Cada época tem características linguísticas específicas e situações históricas particulares. Por exemplo, um texto do século XVIII que fala de escravidão como se fosse algo natural e aceitável (situação que, obviamente, não tem nada de natural nem de aceitável) só pode ser compreendido se o(a) leitor(a) entender o contexto histórico de produção.

Por fim, o meio em que o texto é ou foi veiculado também nos ajuda a perceber seu contexto. É um texto publicado em jornal ou revista? Que tipo de jornal e revista? Mais popular, mais elitista ou de caráter científico? Portanto, para saber o contexto de um texto, é preciso identificar:

  • a linguagem utilizada no texto;

  • o gênero do texto;

  • a época de produção do texto;

  • o veículo de transmissão do texto.

Contexto na redação do Enem

A redação do Enem é um texto que deve apresentar contexto linguístico formal, relacionado às competências I (Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa) e IV (Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação), respeitando as características de um texto dissertativo-argumentativo em prosa.

Qual a importância do contexto?

O contexto é essencial para o entendimento de um texto. Afinal, para a compreensão textual, não basta apenas conhecimentos linguísticos, é preciso conhecimento enciclopédico (ou conhecimento de mundo), além de identificar a situação em que o texto foi produzido ou a situação em que o texto está inserido.

Os conhecimentos extralinguísticos são tão importantes quanto os conhecimentos linguísticos na hora de interpretar um texto. Desse modo, o sentido do texto é construído no processo de interação entre leitor(a), texto e autor(a). O texto traz elementos linguísticos que, por si só, não fazem sentido, pois precisam estar aliados ao contexto sociocognitivo do produtor e do receptor do texto.

Na perspectiva linguística atual, não se considera mais o texto como único produtor de sentido. A construção do sentido só é completa quando o(a) leitor(a) considera também os elementos extralinguísticos, ou seja, o contexto, as situações de produção e recepção. Portanto, texto e contexto têm a mesma importância.

Saiba mais: Denotação e conotação — sentido literal e sentido figurado de um texto

Exercícios resolvidos sobre contexto

Questão 1 (Enem)

Em uma conversa ou leitura de um texto, corre-se o risco de atribuir um significado inadequado a um termo ou expressão, e isso pode levar a certos resultados inesperados, como se vê nos quadrinhos abaixo.

Rosinha fotografando Chico Bento em uma tirinha usada em questão do Enem.
SOUZA, Mauricio de. Chico Bento. Rio de Janeiro: Ed. Globo, n. 335, nov./ 99.

Nessa historinha, o efeito humorístico origina-se de uma situação criada pela fala da Rosinha no primeiro quadrinho, que é:

A) Faz uma pose bonita!

B) Quer tirar um retrato?

C) Sua barriga está aparecendo!

D) Olha o passarinho!

E) Cuidado com o flash!

Resolução:

Alternativa D.

Na história, faltou conhecimento de mundo para Chico Bento. O personagem parece não saber que, no contexto da fotografia, é (ou era) comum dizer “Olha o passarinho!” para o fotografado olhar para a câmera. Chico Bento, fora de contexto, olha para seu órgão sexual, o qual, no contexto infantil, pode ser chamado de “passarinho”.

Questão 2 (Enem)

O senhor

Carta a uma jovem que, estando em uma roda em que dava aos presentes o tratamento de você, se dirigiu ao autor chamando-o “o senhor”:

Senhora:

Aquele a quem chamastes senhor aqui está, de peito magoado e cara triste, para vos dizer que senhor ele não é, de nada, nem de ninguém.

Bem o sabeis, por certo, que a única nobreza do plebeu está em não querer esconder sua condição, e esta nobreza tenho eu. Assim, se entre tantos senhores ricos e nobres a quem chamáveis você escolhestes a mim para tratar de senhor, é bem de ver que só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa e na prata de meus cabelos. Senhor de muitos anos, eis aí; o território onde eu mando é no país do tempo que foi. Essa palavra “senhor”, no meio de uma frase, ergueu entre nós um muro frio e triste.

Vi o muro e calei: não é de muito, eu juro, que me acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.

BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record, 1991.

A escolha do tratamento que se queira atribuir a alguém geralmente considera as situações específicas de uso social. A violação desse princípio causou um mal-estar no autor da carta. O trecho que descreve essa violação é:

A) “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma frase ergueu entre nós um muro frio e triste.”

B) “A única nobreza do plebeu está em não querer esconder a sua condição.”

C) “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa.”

D) “O território onde eu mando é no país do tempo que foi.”

E) “Não é de muito, eu juro, que acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.”

Resolução:

Alternativa A.

Na situação mostrada no texto, houve uma divergência entre dois personagens em função do contexto social. A interlocutora do autor da carta o chamou de “senhor”, expressão típica de um contexto formal, que provoca distância entre os interlocutores. Isso gerou um mal-estar, já que o autor sentiu esse distanciamento ao ser chamado de “senhor”. Pelo conteúdo de sua carta, ele esperava maior intimidade com sua interlocutora e, portanto, preferia um tratamento mais informal.

Fontes

BRASIL. A redação do ENEM: cartilha do(a) participante 2024. Brasília: Inep, 2024.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

MACHADO DE ASSIS. Crônicas escolhidas. Organização de John Gledson. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.