Denotação e conotação

Por Warley Souza

Denotação e conotação são conceitos opostos. A denotação é o sentido literal de uma palavra ou expressão. Já a conotação é o sentido figurado, que depende de um contexto.

Conceitos e exemplos de denotação e conotação.
Denotação e conotação possuem significados opostos.

Denotação e conotação são conceitos linguísticos opostos. A denotação se refere ao sentido básico ou literal de uma palavra ou expressão. Já a conotação se refere ao sentido figurado de uma palavra ou expressão. Por ser objetiva, a linguagem denotativa tem função utilitária. Por ser plurissignificativa, a linguagem conotativa tem função estética ou estilística.

Leia também: Figuras de linguagem — expressões conotativas usadas para causar diferentes efeitos de sentido

Resumo sobre denotação e conotação

  • Denotação e conotação são dois conceitos linguísticos que têm significados opostos.
  • A denotação é o sentido literal de uma palavra ou expressão.
  • A conotação é o sentido figurado de uma palavra ou expressão.
  • A denotação está relacionada à objetividade e à clareza.
  • A conotação está relacionada à subjetividade e à ambiguidade.

Videoaula sobre denotação e conotação

O que é denotação?

A denotação é o sentido próprio ou primitivo de uma palavra ou expressão.

Veja esta frase:

O arroz que meu pai fez estava muito salgado.

A palavra “salgado” é usada com seu sentido próprio, ou seja, significa “com muito sal”. Além disso, todas as outras palavras da frase apresentam o sentido original. Portanto, nesse enunciado, ocorre a denotação.

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O que é conotação?

A conotação é o sentido figurado de uma palavra ou expressão.

Observe esta frase:

Meu pai disse que o arroz está com um preço muito salgado.

A palavra “salgado” é usada com seu sentido figurado, isto é, significa “preço alto”. Já as outras palavras da frase apresentam o sentido original. Portanto, nesse enunciado, ocorre também a conotação. Vale lembrar que, se você não consegue perceber o sentido figurado da frase, ela vai ficar sem sentido. Afinal, como é que um preço pode ter muito sal? Preço não é um objeto que você possa colocar na boca e sentir o gosto.

Veja também: Você sabe quando usar um eufemismo?

Diferenças entre denotação e conotação

A denotação é o significado básico de um termo ou expressão. Desse modo, ela não depende de um contexto. Já a conotação é o sentido figurado de um termo ou expressão e depende de um contexto. Assim, a denotação está associada a um sentido único, à objetividade e à clareza, enquanto a conotação está relacionada à subjetividade, à ambiguidade e a uma multiplicidade de sentidos.

Função da denotação e conotação

  • Função utilitária: a denotação é utilizada em textos de caráter utilitário, ou seja, que têm uma utilidade prática, como uma notícia, uma carta, um relatório etc.
  • Função estética ou estilística: a conotação é utilizada em textos artísticos ou literários, isto é, que não apresentam uma utilidade prática, como uma poesia, um conto, um romance etc.

Apesar de a linguagem conotativa ser mais utilizada em textos artísticos, ela também pode ser encontrada em textos utilitários. Afinal, esse tipo de linguagem está presente também em nosso cotidiano, seja por meio das expressões idiomáticas ou de palavras com sentido figurado que são usadas em nosso dia a dia.

Do mesmo modo, textos artísticos também utilizam a linguagem denotativa, já que nem tudo nesses textos é plurissignificação. No entanto, a linguagem conotativa está mais presente nesse gênero de texto do que em um texto utilitário, no qual prevalece a denotação.

Tipos de denotação e conotação

Não existem tipos de denotação e conotação específicos. No entanto, a intenção do enunciador pode caracterizar a denotação ou conotação de uma frase:

Aquele vereador tem a sabedoria de um asno.

É possível dizer, por exemplo, que a frase apresenta uma conotação irônica.

Há muito tempo, Jéssica arrastava as asas por mim.

Já no enunciado anterior, temos uma conotação romântica.

A seguir, apresentamos uma frase que denota preconceito:

Idosos não sabem utilizar novas tecnologias.

Portanto, ela apresenta uma denotação preconceituosa.

Cuido muito bem do meu animal de estimação.

Já essa frase denota afeto e, portanto, é possível dizer que ela apresenta uma denotação afetiva.

Sentido denotativo e conotativo

O sentido denotativo é o sentido literal e impessoal. Já o sentido conotativo é o sentido contextual ou subjetivo, sendo sinônimo de plurissignificação. Vejamos, na tabela a seguir, alguns exemplos de palavras ou expressões que podem apresentar sentido denotativo e conotativo.

TERMO OU EXPRESSÃO

SENTIDO DENOTATIVO

SENTIDO CONOTATIVO

Anjo

Ser celestial, que é parte de algumas religiões

Pessoa generosa

Cobra

Réptil da ordem dos ofídios

Pessoa má

Gato

Mamífero domesticado da família dos felídeos

Homem bonito

Comer mosca

Colocar uma mosca na boca, mastigar e engolir

Perder a chance

Quebrar um galho

Partir um galho de uma planta

Ajudar alguém

Lavar a égua

Dar banho em uma égua, a fêmea do cavalo

Aproveitar

Esconder o leite

Ocultar o leite, o líquido branco que mamíferos costumam beber

Ser modesto

Denotação e conotação em textos não verbais

Textos não verbais são aqueles que não utilizam palavras. Assim, uma pintura, uma música, uma imagem etc. são considerados textos não verbais. Quando os textos não verbais são funcionais ou utilitários, eles são denotativos, como, por exemplo:

Placa de proibição de fumo em texto sobre denotação e conotação.

Esse texto diz, sem palavras, que é proibido fumar.

um texto não verbal conotativo apresenta plurissignificação e, portanto, possui características artísticas:

Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, em texto sobre denotação e conotação.

O texto não verbal acima é a pintura mais famosa de todos os tempos, produzida por Leonardo da Vinci (1452-1519). Qual a função dessa pintura? Para que ela serve? Se ela fosse um texto funcional ou utilitário, você não precisaria pensar muito para responder a essas perguntas. Porém, ela é uma obra de arte e pode apresentar múltiplos significados.

Saiba mais: Anúncio publicitário — gênero que combina texto verbal e não verbal com linguagem clara e criativa para atingir seu objetivo

Exercícios resolvidos sobre denotação e conotação

Questão 1 (Enem)

O termo (ou expressão) destacado que está empregado em seu sentido próprio, denotativo, ocorre em

A) “[....]

É de laço e de nó

De gibeira o jiló

Dessa vida, cumprida a sol [...]”

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos. setembro de 1992.)

B) “Protegendo os inocentes

é que Deus, sábio demais,

põe cenários diferentes

nas impressões digitais.”

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova./ s.n.b.)

C) “O dicionário-padrão da língua e os dicionários unilíngues são os tipos mais comuns de dicionários. Em nossos dias, eles se tornaram um objeto de consumo obrigatório para as nações civilizadas e desenvolvidas.”

(Maria T. Camargo Biderman. O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)

(D) Tirinha do personagem Menino Maluquinho em exercícios sobre denotação e conotação.

(O Globo. O menino maluquinho. agosto de 2002.)

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico para se fazer.”

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br. acessado em julho de 2005.)

Resolução:

Alternativa C.

O termo “dicionário-padrão” está sendo empregado em sentido denotativo, ou seja, literal. Já “cumprida a sol”, “cenários”, “bateria” e “fazer cócegas no raciocínio” são expressões conotativas, já que apresentam sentido figurado.

Questão 2 (UFLA)

TEXTO 1

Ler é chato. Será?

O tempo histórico não tem um compromisso muito grande com o tempo cronológico, ou mesmo o tempo psicológico: décadas no Egito dos faraós pode corresponder a anos no período da expansão ibérica ou meses do século XXI. A percepção da velocidade do tempo histórico decorre do ritmo dos acontecimentos, assim como da rapidez dos meios de transportes e comunicações. Talvez por isso, sempre que estamos em algum local tranquilo, geralmente no interior, somos tentados a dizer que ali as coisas não acontecem e que é como se estivéssemos em pleno século XIX. É possível que, para evitar a ideia de que possamos ser vistos como retrógrados, ou fora do nosso tempo, busquemos acelerar tudo: músicas não podem ser lentas, filmes buscam ritmos alucinantes e, se não tiverem dois mortos por minuto de projeção, em média, são considerados acadêmicos. Propaga-se a ideia idiota de que tudo que não é muito veloz é chato. Alunos trocaram a investigação bibliográfica por informações superficiais dos sites “de pesquisa” pasteurizados, textos bem cuidados cedem espaço aos recados sem maiúsculas e acentos dos bilhetes nos correios eletrônicos. O importante não é degustar, mas devorar; não é usufruir, mas possuir apressadamente. O tempo, o tempo correndo atrás.

[...]

Antes que alguém pense que sou contra o cinema, ou até a televisão, devo dizer que isso não acontece, mas é que ando mesmo um pouco preocupado. Já não há mais quase nenhum consultório, laboratório e até sala de espera em prontos-socorros de hospitais que não tenham a sua televisão. E, o que é pior, ligada. O infeliz chega quebrado, estropiado, ou apenas dolorido e se lhe impinge humor chulo, falsas “pegadinhas”, loiras igualmente falsas, com síndrome de eternas adolescentes, de botinha e coxas de fora, animando crianças de olhares perdidos.

A sala tem pouca iluminação, já nem sequer tem aquelas revistas semanais atrasadas. A luz que falta e o ruído que sobra impedem que aqueles que trouxeram seus livros possam ler. Com um livro na mão poderiam estar viajando, sonhando, apreendendo, conhecendo gente e lugares interessantes, ideias fascinantes, desbravando, questionando, maravilhando-se. Contudo, continuam sentados olhando uns para os outros e para a telinha que cobra o tributo da dependência, da elaboração de frases feitas e ideias gastas.

A ideia de que livro é chato só pode partir de quem não sabe o prazer que a leitura proporciona. Assim, quero lançar aqui um pedido, ou vários: aos médicos, para que iluminem melhor suas salas de espera, o que, além de deixá-las menos lúgubres, permitiria que as pessoas pudessem ler enquanto esperam. Aos hotéis, para que não se esqueçam de colocar luzes de leitura nos quartos. Uns e outros poderiam manter uma pequena biblioteca, ao alcance dos clientes. A concepção bastante corrente em nosso país de que diversão está sempre e necessariamente ligada ao ruído e ao álcool só pode partir de alguém que não gosta de fato do Brasil. E ele ainda merece uma oportunidade. Ou não?

Jaime Pinsky — Correio Braziliense — Com adaptações.

TEXTO 2

“O ato de ler é geralmente interpretado como a decodificação daquilo que está escrito. Dessa forma, saber ler consiste num conhecimento baseado principalmente na habilidade de memorizar sinais gráficos (as letras). Uma vez adquirido tal conhecimento, a leitura passa a ser um processo mecânico, [...].”

TEXTO 3

“...Os livros que você ama de fato dão a impressão, quando são abertos pela primeira vez, de que você esteve lá. É uma criação, quase uma câmera na memória. Lugares onde você nunca esteve, coisas que nunca foram vistas nem ouvidas, mas de uma solidez que é como se você já estivesse estado lá...”

Os escritores. São Paulo. Companhia das Letras, 1991.

De acordo com a definição de leitura expressa nos textos, marque a alternativa CORRETA:

A) Nos dois textos, a definição do ato de ler é semelhante: consegue-se “viajar” mesmo com uma leitura mecânica.

B) No texto 3, a linguagem é denotativa, as palavras são empregadas em seu sentido real.

C) A ideia de que a leitura é um ato mecânico de decodificação de símbolos vai de encontro à ideia de leitura expressa no texto 3.

D) No texto 2, a linguagem é conotativa; o autor faz uso de metáforas.

E) A definição do que é leitura como uma viagem a lugares diversos contradiz a ideia expressa no texto 1.

Resolução:

Alternativa C.

Os textos 2 e 3 trazem ideias opostas. O texto 2 é denotativo e considera ler como decodificação apenas. Já o texto 3 é conotativo e associa a leitura a uma espécie de “viagem” realizada pela subjetividade de quem lê.

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; ABAURRE, Maria Bernadete M.; PONTARA, Marcela. Português: contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008. v. 1.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15. ed. São Paulo: Scipione, 1999.

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