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Carta do leitor

A carta do leitor é um gênero textual que tem como remetente o leitor do jornal ou revista a quem a carta se destina. Ela apresenta, geralmente, caráter opinativo.

Por Warley Souza

Ilustração de uma mulher lendo um jornal ao lado de mãos escrevendo uma carta do leitor.
A carta do leitor pode ser usada para expressar uma opinião sobre um texto de caráter jornalístico.
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
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Carta do leitor é um gênero de texto de caráter opinativo ou expositivo. Ela tem como autor ou remetente o leitor de determinado jornal ou revista. Por meio dela, tal leitor manifesta sua opinião ou acrescenta informações acerca de artigo publicado no periódico destinatário da carta. Esse gênero de texto é publicado em uma seção específica do jornal ou da revista, reservada para a publicação de cartas de leitores.

Leia também: Qual a diferença entre uma carta pessoal e uma carta aberta?

Resumo sobre carta do leitor

  • A carta do leitor é um gênero de texto publicado em jornais e revistas.
  • Ela tem como destinatário o jornal ou revista em que vai ser publicada.
  • Esse tipo de carta tem caráter expositivo, argumentativo ou opinativo.
  • Em sua estrutura, apresenta vocativo, introdução ou apresentação; exposição ou argumentação; conclusão; e assinatura do remetente.
  • O objetivo da carta do leitor é expressar opiniões ou fornecer informações acerca da temática trabalhada em artigo veiculado pelo periódico ao qual ela se destina.

Videoaula sobre carta do leitor

O que é carta do leitor?

A carta do leitor é um gênero textual que consiste em uma carta escrita pelo leitor de algum periódico, ou seja, direcionada a jornal ou revista.

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Características da carta do leitor

  • Seu destinatário é o jornal ou a revista na qual será publicada.
  • Tem caráter expositivo, argumentativo ou opinativo.
  • Linguagem formal.
  • Aspecto interativo.

Estrutura da carta do leitor

De forma geral, a carta do leitor segue esta estrutura:

  • vocativo, interpelação formal ou direcionamento;
  • parágrafo 1 — identificação do remetente e objetivo da carta;
  • demais parágrafos — exposição dos fatos e/ou argumentação;
  • último parágrafo — conclusão;
  • assinatura do autor (ou remetente) da carta.

Como fazer uma carta do leitor?

Se você quiser expressar opinião sobre algum artigo ou reportagem veiculada por um jornal ou revista, você deve respeitar a estrutura da carta do leitor. A primeira coisa a se fazer é colocar um vocativo, ou seja, o nome do destinatário de sua carta. Nesse caso, não é o nome de uma pessoa em particular, mas o nome do periódico.

Por exemplo, você pode colocar, simplesmente:

Revista Veja,

Folha de S. Paulo,

Nesse caso, você está usando um vocativo, que deve ser seguido de vírgula. Ainda, você pode fazer um direcionamento:

À revista Veja.

À Folha de S. Paulo.

Ao jornal Folha de S. Paulo.

Também é possível remeter a carta “Ao editor”, em vez de colocar o nome do periódico.

Ao escrever o primeiro parágrafo, é recomendável que você se apresente, ou seja, diga seu nome e outras informações que julgar importantes, como profissão ou formação, se isso agregar maior credibilidade à sua opinião. Afinal, se você é um professor que opina sobre uma reportagem sobre a escola pública, sua opinião deve ser mais considerada do que a de um médico, o qual entende de medicina e não de educação.

Nesse primeiro parágrafo, é imprescindível dizer qual é seu objetivo, isto é, por que você está escrevendo a carta: expressar opinião sobre..., apresentar informações sobre... Assim, nos próximos parágrafos, coloque argumentos que deem credibilidade à sua opinião, a qual pode ser divergente do que foi informado na reportagem ou de apoio ao conteúdo dessa reportagem.

Mas talvez você não queira fazer uma crítica ou dar apoio, e sim trazer informações que não foram contempladas no texto jornalístico. Nesse caso, em vez de argumentos, é preciso apresentar informações, as quais devem ser de fonte segura ou fruto da sua experiência. Por fim, faça um parágrafo de conclusão, que pode conter uma ideia final, um agradecimento ou uma frase de impacto para fazer as pessoas refletirem. Então, assine a sua carta.

No entanto, não se esqueça de que jornais e revistas nem sempre publicam a carta do leitor na íntegra, mas apenas trechos que eles consideram mais relevantes.

Exemplos de carta do leitor

A seguir, trechos de uma carta do leitor enviada à Revista Brasileira de Educação Médica:

Ao Editor

Tenho a satisfação de passar às suas mãos uma cópia da série de documentos que acabo de receber de parte do Doutor Bernard Lown, professor de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, relativos a uma reunião de caráter internacional que se realizou de 3 a 8 de abril deste ano, em Cambridge, Inglaterra, promovida por profissionais que atuam no vasto campo da medicina em países do hemisfério norte, com o objetivo de submeter a amplo debate, no plano estritamente médico, as consequências de eventual deflagração de uma guerra nuclear na Europa. Foi a segunda vez que a referida organização, criada nos Estados Unidos da América, em 1980, sob o título “Internacional Physicians for the Prevention of Nuclear War” (IPPNW), reuniu-se para um intercâmbio de ideias sobre a terrível ameaça para a saúde individual e coletiva, de um holocausto nuclear.

Em dramática declaração, aprovada em seu primeiro Congresso, realizado em Airlie, Virginia, de 20 a 25 de março de 1981, a IPPNW já deixara bem claro que, na eventualidade de um bombardeio nuclear, praticamente nenhum socorro médico poderá ser oferecido aos poucos sobreviventes da área devastada. De fato, a bomba de apenas treze quilotons que destruiu Hiroshima, matando instantaneamente um terço de sua população de duzentos e cinquenta mil habitantes, ferindo mais de cem mil pessoas e destruindo noventa por cento dos edifícios (aí incluídos quarenta e dois dos quarenta e cinco hospitais ali existentes), nada hoje representa face à terrível realidade que a Organização das Nações Unidas vem de revelar no número 17 da publicação “Notas Descritivas do Desarmamento”, ao referir-se a um relatório do Secretário Geral (documento das Nações Unidas A/ 35/ 392) que informa:

é provável que existam atualmente no mundo mais de quarenta mil ogivas nucleares;

a potência total dessas ogivas pode ser equivalente a cerca de um milhão de bombas como a de Hiroshima, isto é, para cada homem, mulher ou criança deste planeta há mais de três toneladas de TNT;

o tempo de voo de um projétil balístico intercontinental com base terrestre, desde o lançamento até alcançar seu objetivo, é de mais ou menos 30 minutos. Se o projétil for lançado de um submarino, o tempo de voo será ainda menor. Assim, por precoce que seja o sinal de alerta, impossível será evacuar as populações das cidades-alvo;

a explosão de uma única bomba com a potência de um megaton em uma cidade de quatro milhões de habitantes (como Detroit, ou Leningrado), teria os seguintes efeitos: em Detroit quinhentas mil pessoas morreriam imediatamente e seiscentas mil ficariam seriamente feridas; em Leningrado, devido à diferente distribuição da população, as cifras seriam de aproximadamente o dobro. A zona de destruição de edifícios superaria 300 km2; as queimaduras e lesões produzidas por irradiação seriam enormes.

[...]

Ao regressar do Congresso de Cambridge decidi encaminhar-lhe a mencionada documentação. Apresso-me a fazê-lo estimulado pela notícia publicada pelo “O Globo”, em sua edição de 08 do corrente mês, sobre a abertura da Segunda Assembleia sobre Desarmamento das Nações Unidas (neste momento em plena realização) informado que o Secretário Geral das Nações Unidas, após declarar que “o apocalipse não é mais uma figura bíblica, passou a ser uma possibilidade muito real”, pergunta: “Existe, ou não, um fim para esta loucura?

Ernani Braga
(Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública)

BRAGA, Ernani. Carta do leitor. Revista Brasileira de Educação Médica, Brasília, v. 6, n. 2, maio/ ago. 1982.

A seguir, trechos de outra carta do leitor publicada na mesma revista:

Ao Editor,

Gostaríamos de nos reportar à crônica do professor Clementina Fraga Filho, relativa ao novo convênio padrão INAMPS/ Hospitais de Ensino, publicada no Boletim da Associação Brasileira de Educação Médica, no 3, 1982.

Seu conteúdo otimista desperta algumas reflexões que formulamos à guisa de subsídio para debate.

Permitimo-nos fazê-lo por acreditarmos oportunos o intercâmbio de pontos de vista e a divulgação de resultados alcançados pelas diferentes instituições de ensino médico, a partir da utilização de um mesmo instrumento de ativação de seus Hospitais Universitários.

Só o testemunho da experiência pode validar a eficácia de uma declaração de intenções, ou reduzi-la ao vazio substantivo de um mero elenco de pretextos. Cada hospital de ensino tem muito o que dizer a respeito, e prestará, se o disser, uma contribuição preciosa para os avanços, ou recuos, que se devem esperar na evolução deste novo convênio.

Daí a decisão de comunicarmos um pouco do que temos a dizer, produto de uma visão conceitual, desenvolvida, durante dez anos, como professor e, durante dois, como Diretor da Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto.

As Faculdades de Medicina, como a nossa, que cobram anuidades escolares, ficaram estigmatizadas com o pejorativo indevido de “escolas particulares”. A denominação é de todo imprópria, se não injusta, ou equivocada.

Com efeito, estas faculdades não são empresas privadas de ensino. São, quando muito, arremedas de Fundação, porque carecem da sustentação garantida por um patrimônio inicial rentável. Não têm donos. E não os têm justamente porque não representam um empreendimento lucrativo, sendo até mesmo inevitavelmente deficitárias, considerados os elevados custos dos investimentos mínimos necessários às exigências de um curso médico.

Todo mundo sabe disso. E ninguém ignora que a receita das anuidades escolares não perfaz, sequer, o montante das despesas com a folha de pagamento dos professores.

Trata-se, à evidência, de uma curiosa modalidade de ensino público, derivada do empenho comunitário, subordinada aos limites da legislação federal pertinente e ao controle estrito dos organismos federais de educação, embora subsista sem os mesmos recursos orçamentários que asseguram o funcionamento das instituições públicas. São públicas pela própria natureza, mas permanecem na categoria de “particulares”, porque não são incluídas no orçamento do Estado ou da União, sendo obrigadas a cobrar a anuidade escolar, como alternativa de sobrevivência.

[...]

A Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto somente ressurgiu da crise a partir do instante em que recebeu o tratamento de escola pública, beneficiando-se, então, do dispositivo criado pelo Governo para o fortalecimento e diferenciação das instituições do ensino médico.

Esta forma de tratamento igualitário, concretizada no convênio padrão, salvou a Fundação, deu viabilidade à Faculdade de Medicina e elevou o hospital de ensino à categoria de centro de referência regional.

Resta a esperança de que as omissões e as demasias do convênio continuem sendo corrigidas, em busca do aprimoramento das vias governamentais de repasse orçamentário, importante para a melhoria das faculdades declaradamente públicas e vitais para a sobrevivência das faculdades virtualmente públicas, mas declaradas “particulares”.

Dioclécio Campos Junior
(Diretor da Fundação Faculdade Regional de Medicina de São José do Rio Preto)

CAMPOS JUNIOR, Dioclécio. Carta do leitor. Revista Brasileira de Educação Médica, Brasília, v. 6, n. 3, set./ dez. 1982.

Onde encontramos uma carta do leitor?

A carta do leitor é publicada em seção específica de jornais e revistas. No entanto, esses veículos da imprensa não costumam publicar a carta na íntegra, mas apenas trechos que mostram argumentos do autor da carta.

Finalidade da carta do leitor

Geralmente, por meio desse gênero textual, o leitor expressa sua opinião sobre tema de algum artigo do periódico destinatário da carta. Ela também pode servir para o leitor expor algumas informações que ele acha pertinentes sobre a temática do artigo lido.

Saiba mais: Ofício — tipo de correspondência oficial usada na administração pública e privada

Exercícios resolvidos sobre carta do leitor

Questão 1 (Enem)

Texto I

O Brasil sempre deu respostas rápidas através da solidariedade do seu povo. Mas a mesma força que nos motiva a ajudar o próximo deveria também nos motivar a ter atitudes cidadãs. Não podemos mais transferir a culpa para quem é vítima ou até mesmo para a própria natureza, como se essa seguisse a lógica humana. Sobram desculpas esfarrapadas e falta competência da classe política.

Cartas. Istoé. 28 abr. 2010.

Texto II

Não podemos negar ao povo sofrido todas as hipóteses de previsão dos desastres. Demagogos culpam os moradores; o governo e a prefeitura apelam para as pessoas saírem das áreas de risco e agora dizem que será compulsória a realocação. Então temos a realocar o Brasil inteiro! Criemos um serviço, similar ao SUS, com alocação obrigatória de recursos orçamentários com rede de atendimento preventivo, onde participariam arquitetos, engenheiros, geólogos. Bem ou mal, esse “SUS” organizaria brigadas nos locais. Nos casos da dengue, por exemplo, poderia verificar as condições de acontecer epidemias. Seriam boas ações preventivas.

Carta do Leitor. Carta Capital. 28 abr. 2010 (adaptado).

Os textos apresentados expressam opiniões de leitores acerca de relevante assunto para a sociedade brasileira. Os autores dos dois textos apontam para a

A) necessidade de trabalho voluntário contínuo para a resolução das mazelas sociais.

B) importância de ações preventivas para evitar catástrofes, indevidamente atribuídas aos políticos.

C) incapacidade política para agir de forma diligente na resolução das mazelas sociais.

D) urgência de se criarem novos órgãos públicos com as mesmas características do SUS.

E) impossibilidade de o homem agir de forma eficaz ou preventiva diante das ações da natureza.

Resolução:

Alternativa C.

Os dois textos apontam a incapacidade política para agir de forma diligente na resolução das mazelas sociais. O autor do texto I diz: “Sobram desculpas esfarrapadas e falta competência da classe política”. Já o autor do texto II: “Demagogos culpam os moradores; o governo e a prefeitura apelam para as pessoas saírem das áreas de risco e agora dizem que será compulsória a realocação. Então temos a realocar o Brasil inteiro!”.

Questão 2 (Enem)

Nós, brasileiros, estamos acostumados a ver juras de amor, feitas diante de Deus, serem quebradas por traição, interesses financeiros e sexuais. Casais se separam como inimigos, quando poderiam ser bons amigos, sem traumas. Bastante interessante a reportagem sobre separação. Mas acho que os advogados consultados, por sua competência, estão acostumados a tratar de grandes separações. Será que a maioria dos leitores da revista tem obras de arte que precisam ser fotografadas antes da separação? Não seria mais útil dar conselhos mais básicos? Não seria interessante mostrar que a separação amigável não interfere no modo de partilha dos bens? Que, seja qual for o tipo de separação, ela não vai prejudicar o direito à pensão dos filhos? Que acordo amigável deve ser assinado com atenção, pois é bastante complicado mudar suas cláusulas? Acho que essas são dicas que podem interessar ao leitor médio.

Disponível em: http://revistaepoca.globo.com. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado).

O texto foi publicado em uma revista de grande circulação na seção de carta do leitor. Nele, um dos leitores manifesta-se acerca de uma reportagem publicada na edição anterior. Ao fazer sua argumentação, o autor do texto

A) faz uma síntese do que foi abordado na reportagem.

B) discute problemas conjugais que conduzem à separação.

C) aborda a importância dos advogados em processos de separação.

D) oferece dicas para orientar as pessoas em processos de separação.

E) rebate o enfoque dado ao tema pela reportagem, lançando novas ideias.

Resolução:

Alternativa E.

O autor da carta rebate o enfoque dado ao tema pela reportagem, a qual parece ter falado sobre a separação ou divórcio de pessoas ricas. Assim, o autor da carta lança novas ideias, tais como: “Não seria mais útil dar conselhos mais básicos? Não seria interessante mostrar que a separação amigável não interfere no modo de partilha dos bens? Que, seja qual for o tipo de separação, ela não vai prejudicar o direito à pensão dos filhos? Que acordo amigável deve ser assinado com atenção, pois é bastante complicado mudar suas cláusulas?”.

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; ABAURRE, Maria Bernadete M. Produção de texto: interlocução e gêneros. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2015.

GUARALDO, Tamara de Souza Brandão. Cartas de leitores como espaços privilegiados de apropriação da informação e dos efeitos de sentido. Informação & Informação, Londrina, v. 25, n. 1, p. 373-404, jan./ mar. 2020.

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