A terceira geração do Romantismo no Brasil é caracterizada por uma postura liberal e social.
Leia um trecho do poema de Castro Alves:
O navio negreiro
V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
(…)
Percebe-se que o eu lírico expressa um sentimento de revolta à escravidão e ao tráfico de seres humanos, utilizando-se da personificação de elementos da natureza com o objetivo de criticar a omissão deles diante da maldade que se via no processo de escravidão dos afrodescendentes. A expressão da perplexidade do eu lírico pode ser percebida pelo uso de frases exclamativas e interrogativas ao questionar a indiferença das forças divinas e naturais ante tanto sofrimento.
Temas como esse, em que se vê uma preocupação social e a denúncia da escravidão, são característicos dessa geração do Romantismo no Brasil. Essa geração teve como símbolo o condor, ave que, por voar muito alto, simbolizava o voo da imaginação em busca da liberdade e a visão dos poetas sobre si mesmos enquanto possuidores de anseios elevados. Além disso, teve influência do escritor francês Victor Hugo, deslocando o centro da atenção no “eu” (presente na geração anterior) para o outro, do mundo interno para o mundo externo, para os problemas sociais.
Assim, tendo a liberdade como foco temático central, os autores participaram diretamente das campanhas republicana e abolicionista. Refletindo tais anseios, acreditavam ser capazes de influenciar a forma de pensar e colaborar para mudanças sociais.
Por tais influências, essa geração é também conhecida como condoreira ou hugoana.
Agora, leia este outro poema de Castro Alves:
O "adeus" de Teresa
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala
E ela, corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa
E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!
E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"
Note que, diferentemente das gerações anteriores, Castro Alves corporifica mais a mulher, dando-lhe sensualidade e expressão de sentimentos. Anteriormente, ela era um ser idealizado e inatingível, mas, agora, um ser real, representando os planos espiritual e físico do amor que supera, portanto, os amores irrealizáveis da geração anterior.
Características da 3ª geração do Romantismo no Brasil:
Liberdade
Abolicionismo
Erotismo
Negação do Amor platônico
Principal Autor
Castro Alves: Espumas Flutuantes (1870), A cachoeira de Paulo Afonso (1876), Os escravos (1883), Gonzaga (drama - 1875)
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Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.
O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.
Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.
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