Rubem Fonseca, escritor mineiro, com seu estilo direto, objetivo e coloquial, foi autor de uma vasta obra, constituída por contos e romances, caracterizada pela representação de enredos em que a violência urbana é a grande protagonista. Sua experiência como policial, no Rio de Janeiro, na década de 1950, muniu-lhe para explorar a problemática em torno da violência cotidiana do Brasil, como se nota nas premiadas narrativas A grande arte (1983) e Agosto (1990), do gênero romance, e no livro de contos Feliz Ano Novo (1975).
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José Rubem Fonseca, ou simplesmente Rubem Fonseca, como assinava seus livros, foi contista, romancista e roteirista. Natural de Juiz de Fora, cidade de Minas Gerais, o escritor nasceu em 11 de maio de 1925, mas mudou-se muito cedo para o Rio de Janeiro, quando tinha oito anos de idade. Em 1949, formou-se em Direito, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre 1950 e 1960, foi escrivão da Polícia Civil, executando funções administrativas até ser exonerado, em 1958.
Na escola de polícia, destacou-se em psicologia, vindo, em seguida, em 1954, a lecionar essa disciplina na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Entre 1953 e 1954, foi, com outros policiais, aos Estados Unidos para fazer curso de aperfeiçoamento em segurança pública. Aproveitou essa oportunidade para também estudar administração de empresas na New York University. De regresso ao Brasil, entre 1958 e 1979, foi executivo da Light, empresa de distribuição de energia do estado do Rio de Janeiro.
Nos anos 1970, foi diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes). Esse órgão público foi apontado como o responsável pela sistematização da base ideológica que resultou no Golpe Militar de 1964. Por essa razão, Rubem Fonseca foi tido como um escritor favorável à Ditadura Militar, fato negado pelo escritor em entrevista à imprensa.
Em 1976, uma de suas obras, o livro de contos Feliz Ano Novo, foi censurada pelo regime autoritário, sob a alegação de que ela atentava contra a moral e os bons costumes. Rubem Fonseca morreu no dia 15 de abril de 2020, vítima de um infarto. Foi casado por 42 anos e teve três filhos.
Estilo direto, objetivo;
Uso de uma linguagem coloquial;
Enredos centrados na violência urbana;
Mescla de informações históricas com elementos ficcionais;
Criação de personagens marginalizados socialmente, como prostitutas, e de personalidades ligados à criminalidade, como assassinos e assaltantes;
Explicitação dos defeitos e das contradições dos personagens, como o comportamento de luxúria;
Caracterização psicológica dos personagens.
O caso Morel (1973)
A grande arte (1983)
Bufo & Spallanzani (1986)
Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (1988)
Agosto (1990)
O selvagem da ópera (1994)
E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (1997)
O doente Molière (2000)
Diário de um fescenino (2003)
Mandrake, a Bíblia e a bengala (2005)
O seminarista (2009)
José (2011)
Os prisioneiros (1963)
A coleira do cão (1965)
Lúcia McCartney (1969)
O homem de fevereiro ou março (1973)
Feliz Ano Novo (1975)
O cobrador (1979)
Romance negro e outras histórias (1992)
O buraco na parede (1995)
Histórias de amor (1997)
A confraria dos Espadas (1998)
Secreções, excreções e desatinos (2001)
Pequenas criaturas (2002)
64 contos de Rubem Fonseca (2004)
Ela e outras mulheres (2006)
Axilas e outras histórias indecorosas (2011)
Amálgama (2013)
Histórias curtas (2015)
Calibre 22 (2017)
Carne crua (2018)
O romance morreu (2007)
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O romance Agosto, publicado em 1990, narra as conspirações que resultaram no suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954. Nessa obra, em que elementos ficcionais e históricos se mesclam, Alberto Mattos, um investigador do Departamento Federal de Segurança Pública, investiga o assassinato de um milionário em sua própria residência, um luxuoso apartamento na cidade do Rio de Janeiro.
Investigação que transcorre em meio a um contexto político agitado: Getúlio Vargas, então presidente da república, começa a perder sua popularidade, momento em que a população encontra-se polarizada entre o presidente e o oposicionista Carlos Lacerda, jornalista crítico ao governo. Leia um fragmento desse impactante romance:
“Grupos compactos de pessoas começaram a sair do Colégio São José. Nem Climério nem Alcino, que cuidadosamente perscrutavam o rosto de todos, conseguiram divisar o jornalista Lacerda. Afinal as portas do colégio foram fechadas.
‘Puta merda! O homem já tinha ido embora. Está vendo o que você fez?’
‘Só recebi o recado às nove horas.’
‘Vamos para a rua Tonelero, em Copacabana. É lá que o Corvo mora. Vamos ver se dessa vez damos sorte e pegamos o filho da puta’, disse Climério. Ele não podia voltar para Gregório e confessar mais um erro; tinha medo da reação do seu chefe.
‘O edifício do home é aquele’, disse Climério, já na rua Tonelero.
Alcino saltou. Climério mandou Nelson estacionar logo adiante, na rua Paula Freitas, perto da esquina de Tonelero. ‘Espera aqui. Olho vivo.’ Saltou e foi ao encontro de Alcino.
‘O puto é capaz de já ter chegado’, disse Climério, ‘mas de qualquer maneira vamos esperar um pouco.’
Climério e Alcino ficaram conversando uns quinze minutos. Iam desistir de esperar quando um carro parou na porta do edifício do jornalista, quarenta minutos depois da meia-noite. De dentro saltaram três pessoas. Lacerda, seu filho Sérgio, de quinze anos, e o major Vaz, da Aeronáutica.
‘É ele, você está vendo?’, disse Climério.
‘O de óculos?’
‘Claro que é o de óculos, porra! O outro é o milico capanga dele.’
Lacerda se despediu do major e caminhou com o filho para a porta da garagem do edifício. Vaz foi em direção ao carro. Alcino atravessou a rua e atirou em Lacerda, que correu para o interior da garagem. O estrondo do revólver ao disparar surpreendeu Alcino, que por instantes ficou sem saber o que fazer. Notou então que o major se aproximara e agarrava sua arma. Novamente Alcino acionou o gatilho. O major continuou agarrando o cano do revólver até que Alcino, num repelão, soltou a arma dos dedos que a prendiam, caindo com o esforço que fizera. Viu que o major caía também, para o outro lado. Alcino levantou-se e atirou novamente, sem direção. Ouviu estampidos de arma de fogo e fugiu para onde estava o táxi de Nelson. Um guarda surgiu, correndo e atirando, ‘Pare! É a polícia!’. Alcino atirou no guarda, que caiu. Entrou no carro, que estava com o motor ligado.
‘E o Climério? Onde está o Climério?’, perguntou Nelson.
‘Pensei que ele estivesse aqui. Vamos embora!’
Nelson arrancou com o carro. Ouviram ainda um disparo e o ruído de lataria do carro sendo rompida. Era o guarda, que atirara, mesmo caído e ferido.
Dentro do táxi de Nelson, que corria em alta velocidade pela avenida Copacabana, Alcino embrulhou o revólver e os seis cartuchos numa flanela amarela. Chegando ao Flamengo, Alcino disse a Nelson para seguir pela avenida Beira Mar, pois tinha instruções de Climério para se livrar da arma jogando-a ao mar. Sua intenção era fazer isso sem sair do carro. [...]”
(Fragmento do romance Agosto)
Observa-se, nesse fragmento de Agosto, traços típicos da escrita de Rubem Fonseca, como o uso sistemático de uma linguagem muito próxima da oralidade, como se nota nos trechos entre aspas, os quais representam as falas dos personagens.
Além disso, nota-se a instauração de um clima típico dos enredos policiais, também outra marca de Fonseca, com menção a revólveres, perseguições, troca de tiros, fugas em meio ao cenário urbano, traços que fizeram dele um escritor premiado e que prende o leitor do início ao fim de suas histórias.
Prêmio Jabuti, de 1969, pelo livro de contos Lúcia McCartney.
Prêmio Jabuti, de 1983, pelo romance A grande arte.
Prêmio Jabuti, de 1996, pelo livro de contos O buraco na parede.
Prêmio Jabuti, de 2002, pelo livro de contos Secreções, excreções e desatinos.
Prêmio Jabuti, de 2003, pelo livro de contos Pequenas criaturas.
Prêmio Camões (Portugal), de 2003, pelo conjunto de sua obra.
Prêmio de Literatura Latino-Americana e do Caribe Juan Rulfo (México), de 2003, pelo conjunto da obra.
Prêmio Ibero-Americano de Narrativa Manuel Rojas (Chile), de 2012, pelo romance Bufo & Spallanzani.
Prêmio Literário Casino da Póvoa (Portugal), de 2012, pelo romance Bufo & Spallanzani.
Prêmio Jabuti, de 2014, pelo livro de contos Amálgama.
Prêmio Machado de Assis, de 2015, pelo conjunto de sua obra.
Crédito da imagem
[1] Nova Fronteira (reprodução)
Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.
O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.
Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.
Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.
As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.