Prosa

Por Warley Souza

A prosa é um texto formado por linhas e parágrafos. Ela apresenta conteúdo mais objetivo e denotativo. Já a poesia possui conteúdo mais subjetivo e plurissignificativo.

Óculos sobre página de livro aberto com texto em prosa.
Prosa é um texto constituído por parágrafos. Também pode se referir a um texto que apresenta conteúdo não poético.[1]

A prosa é um texto composto por linhas, que formam parágrafos. A palavra “prosa” também pode se referir a um conteúdo textual mais objetivo e denotativo, em oposição à poesia. Afinal, o texto poético apresenta um conteúdo mais subjetivo e conotativo. Assim, a prosa poética é um texto escrito na forma de prosa, mas com conteúdo de poesia.

Leia também: O que é poesia?

Resumo sobre prosa

  • A prosa é um texto composto por linhas, as quais formam parágrafos.
  • Ela pode ser narrativa, expositiva, argumentativa ou injuntiva.
  • O conteúdo da prosa apresenta maior objetividade, denotação e clareza.
  • O conteúdo da poesia possui maior subjetividade, conotação e ambiguidade.
  • A prosa poética é um texto escrito em forma de prosa, mas com conteúdo poético.

O que é prosa?

Prosa é como definimos um texto escrito em linhas, em oposição a um texto escrito em versos. Um exemplo de texto em prosa é este que você está lendo neste exato momento. Perceba que estou escrevendo seguidamente e preenchendo todas as linhas até chegar ao final deste parágrafo.

E se você não lembra o que é um verso, veja estes três versos da obra A divina comédia, de Dante Alighieri (1265-1321):

Da nossa vida, em meio da jornada,
Achei-me numa selva tenebrosa,
Tendo perdido a verdadeira estrada.

Note que os versos formam uma estrofe e não um parágrafo.

Até agora falamos da prosa como estrutura textual. Porém, a palavra “prosa” também pode se referir a um texto que apresenta conteúdo não poético. Isso quer dizer que a prosa é um texto mais objetivo, com menor conotação e, portanto, mais fácil de ser entendido do que uma poesia.

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Quais são os tipos de prosa?

→ Prosa narrativa

Prosa expositiva ou argumentativa

  • ensaio;
  • artigo;
  • crônica argumentativa.

→ Prosa injuntiva

  • manual de instruções;
  • receita de bolo etc.

Portanto, a prosa pode ser literária ou não literária.

Veja também: Qual a diferença entre um texto literário e um texto não literário?

Principais características da prosa

Estruturalmente, a prosa consiste em linhas de texto que formam parágrafos. Nessa perspectiva, ela se opõe ao verso, o qual forma estrofes de um poema. Quanto ao conteúdo da prosa, ele é caracterizado pelo uso de linguagem menos subjetiva e, portanto, mais direta do que a de um texto poético.

A prosa narrativa apresenta narrador ou narradora, enredo, personagens, tempo e espaço. Já a prosa expositivo-argumentativa é usada para expressar pensamentos ou ideias de seu autor ou de sua autora. Nesse caso, predomina a linguagem objetiva e denotativa. Afinal, esse tipo de prosa expõe informações ou defende argumentos de forma clara. Por fim, a prosa injuntiva é um texto marcado pela instrução, pedido ou ordem.

Estrutura da prosa

A prosa apresenta linhas, que formam parágrafos, sendo essa sua estrutura básica. De acordo com o gênero textual, a prosa pode apresentar estruturas variadas, tais como a estrutura de um bilhete, uma carta, um contrato, um conto etc.

Exemplo de prosa

Capa do livro Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus.
O diário é um exemplo de texto escrito em prosa.[2]

A seguir, trecho do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Essa obra literária é escrita em forma de prosa, ou seja, não é escrita em versos:

16 DE JULHO. Levantei. Obedeci a Vera Eunice. Fui buscar agua. Fiz o café. Avisei as crianças que não tinha pão. Que tomassem café simples e comesse carne com farinha. Eu estava indisposta, resolvi benzer-me. Abri a boca duas vezes, certifiquei-me que estava com mau olhado. A indisposição desapareceu sai e fui ao seu Manoel levar umas latas para vender. Tudo quanto eu encontro no lixo eu cato para vender. Deu 13 cruzeiros. Fiquei pensando que precisava comprar pão, sabão e leite para a Vera Eunice. E os 13 cruzeiros não dava! Cheguei em casa, aliás no meu barracão, nervosa e exausta. Pensei na vida atribulada que eu levo. Cato papel, lavo roupa para dois jovens, permaneço na rua o dia todo. E estou sempre em falta. A Vera não tem sapatos. E ela não gosta de andar descalça. Faz uns dois anos, que eu pretendo comprar uma maquina de moer carne. E uma maquina de costura.

[...]

Diferenças entre prosa e poesia

Quando falamos em diferenças entre prosa e poesia, estamos nos referindo ao tipo de conteúdo de um texto e não à sua forma. Desse modo, tanto o conteúdo da prosa quanto o da poesia podem ser escritos em verso ou em prosa (lembre que prosa também pode se referir a uma estrutura textual, ou seja, linhas que formam parágrafos).

Portanto, o conteúdo de prosa apresenta estas características:

  • maior objetividade;
  • maior denotação;
  • maior clareza;
  • menor plurissignificação.

Em oposição à prosa, o conteúdo poético possui estes elementos:

  • maior subjetividade;
  • maior conotação;
  • maior ambiguidade;
  • maior plurissignificação.

Prosa no Brasil

A prosa no Brasil teve início, em 1500, com a Carta de Pero Vaz de Caminha (1450-1500). Mas se consolidou no Romantismo brasileiro, no século XIX, com autores como José de Alencar (1829-1877) e Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). Outros famosos autores brasileiros de prosa são:

  • Machado de Assis (1839-1908);
  • Aluísio Azevedo (1857-1913);
  • Lima Barreto (1881-1922);
  • Graciliano Ramos (1892-1953);
  • Erico Verissimo (1905-1975);
  • Rachel de Queiroz (1910-2003);
  • Jorge Amado (1912-2001);
  • Clarice Lispector (1920-1977);
  • Lygia Fagundes Telles (1923-2022);
  • Caio Fernando Abreu (1948-1996).

O que é a prosa poética?

A prosa poética é um texto escrito em forma de prosa (com linhas que formam parágrafos), mas com conteúdo de poesia (texto plurissignificativo). Observe como o trecho de prosa a seguir — do romance Catatau, de Paulo Leminski (1944-1989) —, apresenta grande ambiguidade, subjetividade e plurissignificação típicas da poesia:

[...] Este mundo é o lugar do desvario, a justa razão aqui delira. Pinta tanto bicho quanto anjo em ponta de agulha bisantina, a insistência irritante desses sisteminhas nervosos em obstar uma Ideia! Nunca se acaba de pasmar bastante, novo pânico põe fora de ação o pensamento. Bichos se fazem reverência, camaleões aos salamaleques viram salomões de doutos cromatismos, afinidades infinitas afinam e desafinam espécies. Formigas da noite picam uma árvore com bandos de papagaios e tudo, acabando de dormir para esticar o esqueleto. Este calor acalma o silêncio onde o pensamento não entra, ingressa e integra-se na massa. Sussurros clandestinos acusam a aproximação de peregrinos. O senhor vai assim toda vida e termina a vida por aí. Muito me admira mas admitir pouco, cada localidade ponha-se no seu lugar. Não, esse pensamento recuso, refuto e repilo! Constato crescerem em mim, contra o degas e em prol dessa joça. Sabe de que está falando? Não? Estranho proceder! Nada aqui onde apoies pensar, não é casa da sogra essa falta de estátuas nas tumbas, sarcófagos nos palácios, epitáfios nos obeliscos, triunfos nos arcos, estirpes nos nomes. Fico feito um sísifo, deixando insatisfeitas as voltas automáticas das hipóteses. Coordenadas em ordem, a própria, entregue à própria sorte. A linha é o menor ponto entre dois caminhos: a bom, meia, a mais ou menos, uma. Este pensar permanente prossegue pesando no presente momento. [...]

Saiba mais: Tipos textuais — quais são, características, estruturas e exemplos

Poema em prosa

O poema em prosa foi criado, no século XIX, pelo poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867). E se configura em uma prosa curta, a qual apresenta características de poema e também de prosa. Nessa perspectiva, “poema em prosa” é o mesmo que “prosa poética”, como comprova a citação que Fernando Paixão, doutor em Comunicação e Semiótica, faz de uma carta de Baudelaire:

Num dos parágrafos da carta, Baudelaire vai diretamente ao ponto: “Qual de nós, em seus dias de ambição, não sonhou com o milagre de uma prosa poética, musical sem ritmo e sem rima, bastante maleável e bastante rica em contrastes para se adaptar aos movimentos líricos da alma, às ondulações do devaneio, aos sobressaltos da consciência?”.

Desse modo, o poema em prosa é uma prosa poética de curta extensão, ou seja, um texto breve. Um exemplo é este poema em prosa, sem título, da escritora brasileira Ana Cristina Cesar (1952-1983):

Segunda história rápida sobre a felicidade — descendo a colina ao escurecer — meu amor ficou longe, com seu ar de não ter dúvida, e dizia: meus pais... — não posso mais duvidar dos meus passinhos, neste sítio — agora você fala até mais baixo, delicada que eu reparo mais que os outros depois de um tempo fora — é como voltar e achar as crianças crescidas, e sentar na varanda para trocar pensamentos e memórias de um tempo que passou — mas quando eu fui (aquele dia no aeroporto) ainda havia ares de mistério — agora, é agora, descendo esta colina, sem nenhum, que eu conto então do amor distante, e não imito a minha nostalgia, mas a delicadeza, a sua, assim feliz.

Exercícios resolvidos sobre prosa

Questão 1 (Enem)

Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No princípio. As mulheres, principalmente as mortas do álbum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha avó. Na nossa família, frisava, lançando em redor olhares complacentes, lamentando os que não faziam parte do nosso clã. [...]

Quando Margarida resolveu contar os podres todos que sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa. [...]

É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima. Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o convento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem mais uma coisa ainda, minha queridinha”, anunciou Margarida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima, mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?

TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Representante da ficção contemporânea, a prosa de Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar descortina um(a)

A) convivência frágil ligando pessoas financeiramente dependentes.

B) tensa hierarquia familiar equilibrada graças à presença da matriarca.

C) pacto de atitudes e valores mantidos à custa de ocultações e hipocrisias.

D) tradicional conflito de gerações protagonizado pela narradora e seus tios.

E) velada discriminação racial refletida na procura de casamentos com europeus.

Resolução:

Alternativa C.

O trecho da prosa de Lygia Fagundes Telles revela uma estrutura familiar em que as atitudes e valores são mantidos por meio de ocultações e hipocrisias. Isso fica evidente quando a personagem Margarida decide “contar os podres todos” e acabar com a harmonia familiar, o que causa a fúria da narradora.

Questão 2 (Enem)

O exercício da crônica

Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa como se faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.

MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.

Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui

A) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista.

B) nos elementos que servem de inspiração ao cronista.

C) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica.

D) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica.

E) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica.

Resolução:

Alternativa E.

O texto é uma crônica que fala das dificuldades de se escrever uma crônica. Portanto, utiliza a metalinguagem, também porque é um texto em prosa que se refere ao ato de escrever uma prosa.

Créditos das imagens

[1] Janine Passos/ Shutterstock

[2] Coletivo Leitor / Editora Ática (reprodução)

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

ALIGHIERI, Dante. A divina comédia. Tradução de José Pedro Xavier Pinheiro. São Paulo: Atena Editora, 1955.

BERRÍO, Orlando Cárcamo. El concepto de metarrelato en el postmodernismo. Aulas y Maestros, año 1, n. 1, 2007.

CESAR, Ana Cristina. A teus pés. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

CLAVER, Ronald. Uma pitada de poesia em cada dedo de prosa. Belo Horizonte: RHJ, 2009.

GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 13. ed. São Paulo: Ática, 2001.

GOULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 10. ed. São Paulo: Ática, 2014.

LEMINSKI, Paulo. Catatau: um romance-ideia. São Paulo: Iluminuras, 2012.

PAIXÃO, Fernando. Poema em prosa: poética da pequena reflexão. Estudos Avançados, São Paulo, v. 26, n. 76, p. 273-286, 2012.

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