O parnasianismo no Brasil, oficialmente, durou de 1882 a 1893, portanto, ocorreu em um contexto de transição entre a monarquia e a república. No entanto, ao contrário da prosa realista, que se dedicou a refletir sobre a realidade social, econômica e política do país, a poesia parnasiana preferiu isentar-se dessas questões. Assim, os autores tentaram fazer uma poesia comprometida com a objetividade e o rigor formal, em consonância com o conceito de “arte pela arte”, defendido pelo poeta francês Théophile Gautier.
No Brasil, os principais autores parnasianos são: Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, Vicente de Carvalho e Francisca Júlia. Já na França, berço do parnasianismo, além de Gautier, temos os poetas Leconte de Lisle e José María de Heredia. Em Portugal, temos os escritores João Penha, Gonçalves Crespo, António Feijó e Cesário Verde.
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No século XIX, a economia brasileira começou a entrar em decadência com a proibição do tráfico negreiro, em 1950. Nesse contexto, os políticos conservadores, defensores da escravidão e da monarquia, perderam força, o que levaria à abolição da escravatura, em 1888, e à proclamação da república, em 1889. Antes disso, porém, de 1864 a 1870, o Brasil esteve envolvido na Guerra do Paraguai, que gerou grande custo aos cofres públicos. O resultado foi o endividamento do país e sua dependência em relação aos países ricos.
Diante dessa situação, o romantismo, com seu nacionalismo ufanista, entrou em decadência, já que a situação do país exigia então uma visão mais crítica da realidade brasileira e não mais a idealização patriótica empreendida por grande parte desse movimento no país. Assim, o realismo assumiu o protagonismo na arte brasileira e apresentou, na literatura, uma prosa que apontava e analisava os problemas sociais, econômicos e políticos do país.
No entanto, a poesia realista, ou seja, parnasiana, ao contrário da prosa, optou pela alienação social, mas manteve o culto à objetividade, no caso, evidenciado na construção do poema e na temática distanciada de subjetividades. Tentou conservar, portanto, as características originais do parnasianismo europeu, que surgiu no contexto da Revolução Industrial e do forte desenvolvimento tecnocientífico. Portanto, a razão (e não a emoção) foi a norteadora dessa poesia.
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Antirromantismo, pois antissentimental;
Objetividade;
Poesia descritiva;
Rigor formal: metrificação e rimas;
Arte como sinônimo de beleza formal;
Alienação social: indiferença a questões sociais;
Defesa de que a finalidade da arte é a própria arte;
Distanciamento do eu lírico da temática do poema;
Referências greco-latinas;
Uso de polissíndeto: repetição da conjunção “e”.
O parnasianismo no Brasil durou, oficialmente, de 1882 a 1893. Assim, para alguns críticos, o primeiro livro no país com características parnasianas é a obra Fanfarras (1882), de Teófilo Dias (1854-1889). Além desse autor, a poesia parnasiana também conta com os seguintes nomes:
Olavo Bilac (1865-1918): Poesias (1888)
Raimundo Correia (1859-1911): Versos e versões (1887)
Alberto de Oliveira (1857-1937): Sonetos e poemas (1885)
Vicente de Carvalho (1866-1924): Ardentias (1885)
Francisca Júlia (1871-1920): Mármores (1895)
Olavo Bilac é o autor mais aclamado do parnasianismo brasileiro. No entanto, sua poesia, muitas vezes, contraria a objetividade e recorre a elementos mais subjetivos, como é possível verificar neste soneto, que faz parte da obra Via Láctea:
Tudo ouvirás, pois que, bondosa e pura,
Me ouves agora com melhor ouvido:
Toda a ansiedade, todo o mal sofrido
Em silêncio, na antiga desventura...
Hoje, quero, em teus braços acolhido,
Rever a estrada pavorosa e escura
Onde, ladeando o abismo da loucura,
Andei de pesadelos perseguido.
Olha-a: torce-se toda na infinita
Volta dos sete círculos do inferno...
E nota aquele vulto: as mãos eleva,
Tropeça, cai, soluça, arqueja, grita,
Buscando um coração que foge, e eterno
Ouvindo-o perto palpitar na treva.
Na primeira estrofe, o eu lírico diz a uma mulher, bondosa e pura, que ela ouvirá tudo o que ele tem a dizer, pois agora ela está disposta a isso. Ele promete contar-lhe toda a ansiedade e todo o mal sofrido, em silêncio, durante um antigo infortúnio.
Na segunda estrofe, o eu lírico fala que, hoje, ele está acolhido nos braços dessa mulher e, assim, quer rever “a estrada pavorosa e escura”, isto é, a triste situação que ele viveu no passado, quando, à beira da loucura, foi perseguido por pesadelos.
Já na terceira estrofe, ele diz à mulher que olhe para essa estrada (metáfora para a sua experiência “pavorosa e escura”), e, exageradamente, descreve-a: “torce-se toda na infinita/ Volta dos sete círculos do inferno...”. Em seguida, diz à mulher para ela observar um vulto (que é o próprio eu lírico em sua experiência passada), que ele começa a descrever nessa estrofe para finalizar a descrição na quarta e última.
Dessa maneira, ele relata o seu sofrimento passado, em busca de um “coração que foge”, ou seja, de uma pessoa que rejeita o seu amor; possivelmente, refere-se à sua atual interlocutora. Na busca desse coração, ele eleva, suplicante, as mãos ao céu, “Troçeça, cai, soluça, arqueja, grita”, enquanto o coração foge em meio à treva (sofrimento) do eu lírico.
De parnasiano, o soneto de Olavo Bilac tem o rigor formal, já que apresenta versos decassílabos (10 sílabas poéticas) e rimas, além de alguns trechos descritivos. No entanto, é possível perceber desvios da estética parnasiana, pois o eu lírico coloca-se na poesia, que se torna subjetiva, também devido ao excesso de sentimentalismo evidenciado em adjetivos como “bondosa”, “pura”, “sofrido”, “pavorosa” e “escura”, além do uso de reticências e da hipérbole “torce-se toda na infinita/ Volta dos sete círculos do inferno”.
Se quiser saber mais sobre esse poeta, assim como sobre sua produção literária, leia: Olavo Bilac.
Como contraponto à poesia subjetiva de Olavo Bilac, vamos analisar, a seguir, o soneto “Musa impassível I”, do livro Mármores (1895), de Francisca Júlia.
Musa impassível I
Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho, e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.
Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.
Dá-me o hemistíquio d’ouro, a imagem atrativa;
A rima cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d’alma; a estrofe limpa e viva;
Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
Ora o surdo rumor de mármores partidos.
Assim, na primeira estrofe, o eu lírico invoca a Musa, em diálogo com a mitologia greco-latina. Ele deseja que nenhum gesto de dor ou luto torne feio o semblante puro dessa divindade. Diante de um Jó, ou seja, diante da miséria, ela deve manter o orgulho, e, diante de um morto, ela deve conservar o mesmo olhar e fisionomia austera, séria.
Na segunda estrofe, o eu lírico diz que não quer ver lágrima nos olhos da Musa, isto é, não quer que ela chore, que demonstre emoção, e nem quer que ela cante (declame) o amor. A Musa deve celebrar “um fantasma anguiforme de Dante” — referência ao livro A divina comédia, de Dante Alighieri (1265-1321), que retoma elementos da Antiguidade, estando na Idade Média — e também um guerreiro de Homero, autor da Ilíada e Odisseia. Novamente, o eu lírico busca referências na Antiguidade clássica.
No primeiro terceto, o eu lírico pede à Musa que lhe dê o “hemistíquio [metade de um verso] d’ouro”, a “imagem atrativa”, a rima de uma harmonia frequente, constante, que seja ouvida pela alma, e a “estrofe limpa e viva”.
Sabendo que as musas eram divindades da Antiguidade que tinham o poder de inspirar os artistas, entendemos que o eu lírico, durante todo o poema, pede essa inspiração. No entanto, não se trata de qualquer uma, mas sim de uma inspiração baseada na objetividade, para que ele possa criar um poema parnasiano, como diz o segundo terceto, com versos “que lembrem, com seus bárbaros ruídos”, o barulho de uma pedra que se quebra, o que indica uma poesia fria, dura, antissentimental.
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O marco do parnasianismo europeu foi a publicação de O Parnaso contemporâneo, uma coleção de poemas distribuídos em três volumes, nos anos de 1866, 1871 e 1876, com edição de Alphonse Lemerre (1838-1912).
Esse estilo de época nasceu na França e teve como referência o poeta Théophile Gautier (1811-1872), defensor da “arte pela arte”. Além dele, outros poetas são associados a essa estética na França, como: Leconte de Lisle (1818-1894) e José María de Heredia (1842-1905), este último era cubano naturalizado francês.
Já em Portugal, o parnasianismo acabou sendo integrado ao realismo-naturalismo (1865-1900), devido ao fato de apresentar uma produção mais dispersa. Assim, a poesia lusitana de cunho parnasiano conta com estes principais autores:
João Penha (1838-1919): Rimas (1882).
Gonçalves Crespo (1846-1883): Miniaturas (1871).
António Feijó (1859-1917): Líricas e bucólicas (1884).
Cesário Verde (1855-1886): O livro de Cesário Verde (1901).
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Questão 1 - (Enem)
Anoitecer
Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
Delineiam-se além da serrania
Os vértices de chamas aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.
Um mundo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua.
A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
CORREIA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 13 ago. 2017.
Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um modelo particularmente ajustado à poesia parnasiana. No poema de Raimundo Correia, remete(m) a essa estética
a) as metáforas inspiradas na visão da natureza.
b) a ausência de emotividade pelo eu lírico.
c) a retórica ornamental desvinculada da realidade.
d) o uso da descrição como meio de expressividade.
e) o vínculo a temas comuns à Antiguidade clássica.
Resolução
Alternativa D.
O uso da descrição é uma característica da poesia parnasiana, como é possível observar neste trecho: “Esbraseia o Ocidente na agonia/ O sol... Aves em bandos destacados,/ Por céus de ouro e púrpura raiados”.
INSTRUÇÕES: Leia, a seguir, um poema de autoria de Olavo Bilac, grande poeta da estética parnasiana, para responder às questões 2 e 3.
A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e a trama viva se construa
e tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E natural, o efeito agrade
em lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Questão 2 - (UFLA)
A escola parnasiana busca a perfeição formal, valendo-se de uma linguagem elaborada, com muitas inversões na estrutura sintática do texto, para alcançar um resultado perfeito. No que diz respeito aos recursos formais utilizados por Bilac no poema apresentado, verifica-se que
a) o recurso estilístico do polissíndeto não é utilizado no poema.
b) o esquema de rima de todo o poema é ABBA e CDC.
c) os versos têm 12 sílabas, destacando o trabalho fonético e gramatical.
d) os versos são decassílabos e trata-se de um soneto.
Resolução
Alternativa D.
Os versos são decassílabos (10 sílabas poéticas). Como exemplo, temos: “Ri/ ca/ mas/ só/ bria,/ co/ mo um/ tem/ plo/ gre/go. Vale lembrar que devemos contar somente até a última sílaba tônica. Além disso, o poema é um soneto, pois possui dois quartetos e dois tercetos.
Questão 3 - (UFLA)
Em relação ao conteúdo do poema, observa-se que se trata de um texto metalinguístico. Com base na sua leitura, é CORRETO afirmar que
a) a palavra “beneditino” é uma metáfora para o poeta paciente.
b) o trabalho do poeta está associado a uma força emotiva.
c) o poeta deve deixar claro, na poesia, seu empenho intelectual.
d) a poesia é resultado da conjugação de técnica e inspiração.
Resolução
Alternativa A.
O soneto demonstra o fazer poético parnasiano, baseado no trabalho e não na inspiração. Portanto, Beneditino é um poeta parnasiano, usado, no texto, como metáfora para o poeta paciente, já que “Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!” em busca da forma perfeita. Vale lembrar que a palavra “beneditino”, em seu significado de dicionário, está também associada à paciência e dedicação dos monges beneditinos.
Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.
O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.
Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.
Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.
As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.