Murilo Rubião nasceu em 1º de junho de 1916, em Carmo de Minas. Mais tarde, fez faculdade de Direito em Belo Horizonte, escreveu para a Folha de Minas, dirigiu a rádio Inconfidência, foi oficial de gabinete do governador Juscelino Kubitschek (1902-1976), além de trabalhar como chefe do Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil na cidade de Madri, na Espanha.
Principal representante do realismo mágico ou fantástico no Brasil, o contista, que morreu em 16 de setembro de 1991, publicou livros caracterizados por narrativas que mostram realidades absurdas, marcadas pelo nonsense, além de apresentarem o monólogo interior de personagens imersos em seus conflitos existenciais.
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Murilo Rubião nasceu em 1º de junho de 1916, em Carmo de Minas, no estado de Minas Gerais. Viveu na cidade natal durante o seu primeiro ano de vida apenas. Seu pai — Eugênio Álvares Rubião — era filólogo e poeta, e, portanto, foi uma grande influência para o filho.
Antes de fixar residência em Belo Horizonte, Murilo Rubião viveu em Conceição do Rio Verde e em Passa Quatro. Com 19 anos de idade, escreveu seu primeiro conto. Em 1938, quando era estudante na Universidade de Minas Gerais, foi um dos fundadores da revista Tentativa.
Foi em 1939 que começou a trabalhar como redator na Folha de Minas, e, no ano seguinte, na revista Belo Horizonte. Após se formar em Direito, em 1942, sem se destacar nos estudos, como o próprio autor reconheceu, tornou-se diretor da Associação dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais. Em 1943, dirigiu a rádio Inconfidência.
No início de 1945, participou do I Congresso Brasileiro de Escritores, em São Paulo. Nesse mesmo ano, o autor se tornou presidente da Associação Brasileira de Escritores em Minas Gerais. Em seguida, em 1946, foi nomeado para ocupar o cargo de oficial de gabinete do interventor federal de Minas Gerais João Beraldo (1891-1960).
O primeiro livro de Murilo Rubião — O ex-mágico — foi publicado em 1947. No ano seguinte, a obra recebeu o prêmio Othon Lynch Bezerra de Melo. No entanto, o contista continuou a conciliar sua carreira literária com o serviço público, e, em 1948, trabalhou como diretor do Serviço de Radiodifusão do estado de Minas Gerais.
Em 1949, Murilo Rubião se mudou para o Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de chefe do Serviço de Documentação da Comissão do Vale do Rio São Francisco. Contudo, voltou a Minas Gerais para atuar como oficial de gabinete do governador Juscelino Kubitschek, além de dirigir a Imprensa Oficial e a Folha de Minas.
A mudança para a Espanha aconteceu em 1956, quando o escritor trabalhou como chefe do Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil, na cidade de Madri. Foi nesse país, em 1960, pouco antes de voltar ao Brasil, que ele recebeu uma condecoração do governo espanhol.
De volta a Belo Horizonte, em 1961, trabalhou novamente na Imprensa Oficial, onde criou o Suplemento Literário do Minas Gerais, em 1966. No ano seguinte, dirigiu, novamente, a rádio Inconfidência. Já em 1974, finalmente, atingiu o sucesso como escritor ao publicar seus livros O pirotécnico Zacarias e O convidado.
A aposentadoria no serviço público ocorreu em 1975, ano em que foi eleito presidente do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais e ganhou o prêmio Luísa Cláudio de Souza, pela obra O pirotécnico Zacarias. Já em 1983, voltou a dirigir a Imprensa Oficial e recebeu a medalha da Ordem do Mérito Legislativo da Assembleia Legislativa do estado de Minas Gerais, além da Medalha de Honra da Inconfidência.
Dessa forma, o contista Murilo Rubião teve uma vida dividida entre a escrita literária e as diversas funções que exerceu como jornalista e funcionário público, antes de falecer, em 16 de setembro de 1991, em Belo Horizonte, com 75 anos de idade, devido a um câncer.
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A obra de Murilo Rubião está inserida no contexto da terceira geração modernista (ou pós-modernismo), mas é conhecida, principalmente, por sua filiação ao realismo mágico ou fantástico. Portanto, os contos do autor apresentam situações absurdas associadas a um universo literário mágico ou fantástico.
Esse nonsense é acompanhado pela ambiguidade e fragmentação da narrativa, construída por meio do monólogo interior dos personagens, o que permite ao narrador, via fluxo de consciência, apresentar conflitos existenciais. Assim, leitoras e leitores experimentam o estranhamento diante de uma realidade absurda, mas distanciada de questões sociais.
O ex-mágico (1947)
A estrela vermelha (1953)
Os dragões e outros contos (1965)
O pirotécnico Zacarias (1974)
O convidado (1974)
A casa do girassol vermelho (1978)
O homem do boné cinzento e outras histórias (1990)
O principal conto da obra O ex-mágico é “O ex-mágico da Taberna Minhota”, que dá título ao livro, além de ser um dos contos mais famosos do autor. Essa pequena narrativa traz a história de um mágico que se transforma em funcionário público. Nela, sobressaem a ironia e o absurdo.
A narrativa é em primeira pessoa, portanto, o protagonista conta a sua história. Entretanto, ele não conhece a própria origem. De repente, ele está grisalho na Taberna Minhota, isto é, ele aparece do nada: “Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude”. Nesse momento, ele retira o dono do restaurante do bolso.
O dono do restaurante fica surpreso, mas o narrador não sabe lhe explicar como fez aquilo. De qualquer forma, é convidado a trabalhar como mágico na taberna. No entanto, logo é demitido, por “oferecer aos espectadores almoços gratuitos”, que ele “extraía misteriosamente de dentro do paletó”.
O mágico, então, vai trabalhar em uma companhia de espetáculos e faz muito sucesso. No entanto, ele não teve “um nascimento e um passado”, e essas são suas grandes ambições. Além disso, ele não tem controle sobre suas mágicas, que ocorrem sem que ele as tenha planejado.
Todavia, as pessoas em torno acham que elas são propositais, e sua fama cresce muito, fazendo com que sua existência se torne insuportável. Ele decide, então, acabar com a própria vida. Para isso, tira dos bolsos uma dúzia de leões, mas eles não o devoram, acham o mundo tedioso e pedem para desaparecer.
O mágico fica com muita raiva, mata os leões e os come, na esperança de ter uma indigestão, mas só tem uma dor de barriga, e sua vida continua. Além disso, pula de uma serra, mas, do nada, ele é “amparado por um paraquedas”. Ainda, ao tentar atirar na própria cabeça, a pistola se transforma em um lápis.
Quando ouve, na rua, um homem triste dizer que “ser funcionário público era suicidar-se aos poucos”, o mágico consegue um emprego numa secretaria de estado. Não obstante, em vez da morte, só experimenta mais aflições e desconsolo, já que agora não tem mais a distância do palco e precisa lidar com as pessoas e “disfarçar a náusea” que elas lhe causam.
Além disso, ele teme perder o emprego e não tem mais seus poderes de mágicos, pois o serviço público acaba com qualquer magia. Desse modo, sem os “dons de mago”, ele não consegue abandonar “a pior das ocupações humanas”, ou seja, ser funcionário público. Assim, o ex-mágico sente falta daquilo que ele perdeu.
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Em 2007, o escritor Antonio Olinto (1919-2009) chamou Murilo Rubião de “nosso Kafka”, mas o evidente elogio só foi possível a partir do momento em que os críticos literários perceberam que havia algo de literário, irônico e fantástico nas realidades absurdas criadas pelo autor em seus contos.
Desse modo, o seu primeiro livro, em 1947, não teve a mesma valorização que lhe é dada hoje. Isso porque foi a partir do chamado “boom latino-americano”, nos anos 1960, que o realismo mágico ou fantástico passou a ser supervalorizado pela crítica especializada, e as obras do autor foram associadas a ele.
Antes disso, parte da crítica considerava sua obra apenas “pós-modernista e original”, devido ao estranhamento que ela causa. Atualmente, no entanto, muitos críticos o consideram um precursor do realismo mágico ou fantástico no Brasil, apesar de haver traços dessa estética em obras de autores que o antecederam, como Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (1839-1908), e Macunaíma, de Mário de Andrade (1893-1945).
A seguir, vamos ler algumas frases de Murilo Rubião, retiradas de seus contos O pirotécnico Zacarias e O ex-mágico da Taberna Minhota:
“Em verdade morri, o que vem ao encontro da versão dos que creem na minha morte.”
“Sem cor jamais quis viver.”
“A polícia [está] sempre ávida de achar mistério onde nada existe de misterioso.”
“Amanhã o dia poderá nascer claro, o sol brilhando como nunca brilhou.”
“Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior.”
“Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura.”
“Confiara demais na faculdade de fazer mágicas e ela fora anulada pela burocracia.”
Créditos das imagens
[1] Ronaldo Almeida / Shutterstock
[2] Companhia das Letras (reprodução)
Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.
O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.
Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.
Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.
As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.