Manuel Maria Barbosa du Bocage

Por Warley Souza

Manuel Maria Barbosa du Bocage é um poeta português. Suas obras apresentam características árcades e românticas. Bocage é mais lembrado por escrever poemas satíricos.

Manuel Bocage em pintura de Francisco Augusto Flamengo.
Retrato de Bocage, obra de Francisco Augusto Flamengo (1852-1915).

Manuel Maria Barbosa du Bocage é um escritor português. Ele nasceu na vila de Setúbal, em Portugal, no dia 15 de setembro de 1765. Mais tarde, foi militar, morou na Índia, esteve em Macau e também conheceu o Rio de Janeiro. Porém, acabou sendo mais uma das vítimas da Inquisição portuguesa.

O autor, que faleceu em 21 de dezembro de 1805, em Lisboa, produziu obras árcades e pré-românticas. E ficou muito conhecido por suas sátiras, seu posicionamento anticlerical, sua vida boêmia e seus poemas de cunho erótico ou pornográfico. A poesia de Bocage também fala de amor e morte.

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Resumo sobre Manuel Maria Barbosa du Bocage

  • Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 1765 e morreu em 1805.

  • Além de poeta, Bocage ingressou na carreira militar e foi tradutor.

  • Suas obras possuem elementos de transição entre o Arcadismo e o Romantismo.

  • A crítica sociopolítica, a ironia e o erotismo são marcantes em seus textos.

  • É autor do livro Queixumes do pastor Elmano contra a falsidade da pastora Urselina.

Biografia de Manuel Maria Barbosa du Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 15 de setembro de 1765, na vila de Setúbal, em Portugal. Por parte de mãe, tinha ascendência francesa. Ainda na infância do poeta, sua família foi viver em Beja, onde o pai assumiu o cargo de ouvidor. Porém, logo o pai foi preso, ficando a mãe de Bocage com a tarefa de criar os filhos, com auxílio do sogro.

A mãe faleceu quando o pequeno poeta tinha aproximadamente nove anos de idade. Mais tarde, com 16 anos, Bocage viajou com destino ao Oriente. Em seguida, ingressou na Infantaria de Setúbal, depois foi guarda-marinha na Armada Real. Deixou o serviço militar em 1784, sendo considerado desertor.

Por essa época, já fazia versos e mantinha uma agitada vida boêmia. Em 1786, viajou à Índia em missão governamental. No percurso, conheceu a cidade do Rio de Janeiro e Moçambique. Por fim, desembarcou em Goa, onde viveu durante dois anos. Em 1789, se tornou tenente de infantaria.

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Logo abandonou o posto, partiu para Macau e depois voltou a Lisboa em 1790. Nesse ano, com a fundação da Academia Literária de Belas Artes (Nova Arcádia), assumiu o pseudônimo árcade de Elmano Sadino. A partir daí, passou a ser conhecido e respeitado como escritor.

Em 1791, publicou seu primeiro livro — Rimas. As sátiras contra os membros da Nova Arcádia, contudo, acabaram fazendo o poeta obter inimizades. Em 1797, caiu nas mãos do Santo Ofício e, durante meses, esteve preso na cadeia do Limoeiro. Em seguida, foi enviado para o convento de São Bento.

Em liberdade, Manuel Maria Barbosa du Bocage desistiu das críticas e sátiras. E se ocupou em fazer traduções do latim e francês. Um fim melancólico para um artista revolucionário e inconformado com as injustiças e imposições religiosas e estatais. Faleceu em 21 de dezembro de 1805, em Lisboa.

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Características da obra de Bocage

As obras de Bocage possuem características do Arcadismo e do Romantismo português. Isso porque elas estão situadas em um período de transição entre esses dois estilos de época. A poesia do autor apresenta amor idealizado e erotismo. A racionalidade árcade convive com o sentimentalismo romântico.

Bocage é conhecido por sua irreverência, transgressão e ironia. Assim, a sátira e a anedota fazem parte das produções do autor. Além de confissão amorosa, suas obras também apresentam questões existenciais e crítica social. De aspecto anticlerical, seus poemas valorizam a liberdade.

Outras características de suas obras são o bucolismo e os elementos greco-latinos valorizados pelo Arcadismo. Mas também o aspecto individualista romântico é evidenciado em seus poemas. A melancolia associada à temática da morte é recorrente em seus textos.

Principais obras de Bocage

Capa do livro Bocage, da coleção Melhores Poemas, editora Global.
Capa do livro Bocage, da coleção Melhores Poemas, editora Global.[1]
  • Queixumes do pastor Elmano contra a falsidade da pastora Urselina (1791).
  • Rimas (1791).

  • Idílios marítimos (1791).

  • Elegia (1800).

  • Improvisos de Bocage (1805).

  • Mágoas amorosas de Elmano (1805).

  • A virtude laureada (1805).

  • À morte de D. Inês de Castro (1824).

  • A pavorosa ilusão (1837).

Poemas de Bocage

A seguir, vamos ler dois sonetos de Bocage. O primeiro traz o bucolismo árcade misturado ao caráter sombrio do Romantismo. O eu lírico mostra um ambiente português escuro, melancólico e solitário. Acordado nessa noite triste, ele anseia pela morte:

Já sobre o coche de ébano estrelado
Deu meio giro a noite escura e feia;
Que profundo silêncio me rodeia
Neste deserto bosque, à luz vedado!

Jaz entre as folhas Zéfiro abafado,
O Tejo adormeceu na lisa areia;
Nem o mavioso rouxinol gorjeia,
Nem pia o mocho, às trevas costumado:

Só eu velo, só eu, pedindo à sorte
Que o fio, com que está minh’alma presa
À vil matéria lânguida, me corte:

Consola-me este horror, esta tristeza;
Porque a meus olhos se afigura a morte
No silêncio total da Natureza.

o segundo é plenamente árcade. Nele, o eu lírico tem Marília como interlocutora. As características dessa mulher idealizada são explicitadas nos versos. Além disso, Minerva é uma referência greco-latina. Por fim, o eu lírico personifica a Virtude e a Formosura, como se elas fossem divindades mitológicas:

Marília, nos teus olhos buliçosos
Os Amores gentis seu facho acendem;
A teus lábios voando os ares fendem
Terníssimos desejos sequiosos:

Teus cabelos sutis e luminosos
Mil vistas cegam, mil vontades prendem:
E em arte de Minerva se não rendem
Teus alvos curtos dedos melindrosos:

Resiste em teus costumes a candura,
Mora a firmeza no teu peito amante,
A razão com teus risos se mistura:

És dos céus o composto mais brilhante;
Deram-se as mãos Virtude e Formosura
Para criar tua alma e teu semblante.

Frases de Bocage

A seguir, vamos ler algumas frases de Manuel Maria Barbosa du Bocage. Para isso, fizemos uma adaptação e transformamos seus versos em prosa:

  • “É menos triste, menos duro estado, a Desesperação, que o Sofrimento.”

  • “Quase tudo o que é raro, estranho, ilustre, da vaidade procede.”

  • “Não é loucura o meu amor, é fado.”

  • “Vão prazer dos crédulos amantes, mais fugaz que os alígeros instantes!”

  • “Em amor, antes só ser desgraçado, que de outrem na ventura acompanhado.”

  • “A Morte não se rende à Formosura.”

Séries e filmes sobre Bocage

  • Bocage (1936) — longa-metragem dirigido por Leitão de Barros (1896-1967).

  • Bocage: o triunfo do amor (1997) — longa-metragem dirigido por Djalma Limongi Batista (1950-2023).

  • Bocage (2006) — série dirigida por Fernando Vendrell.

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Por que Bocage foi um autor polêmico?

O caráter polêmico de Bocage está relacionado ao erotismo de alguns de seus poemas. Principalmente, aos poemas pornográficos que foram atribuídos a ele. Além disso, os poemas satíricos do autor evidenciavam problemas sociais de Portugal. A sátira de Bocage é assinada com o pseudônimo de Elmano Sadino.

Bocage foi expulso da Nova Arcádia (uma academia de intelectuais) quando lhe foi atribuído certo soneto satírico que criticava essa instituição. A partir de então, por meio de seus poemas satíricos, ele passou a atacar os integrantes dessa agremiação. O principal alvo de suas sátiras foi o poeta Agostinho de Macedo (ou Elmiro Tagideu).

O estilo de vida de Bocage, contrário à moral e aos bons costumes, incomodava muitas pessoas conservadoras da época. Porém, o maior incômodo estava relacionado ao caráter político de sua poesia, que criticava a Igreja, vista por ele como manipuladora. O poeta via com maus olhos a relação entre Igreja e Estado.

Créditos da imagem

[1] Editora Global (reprodução)

Fontes

BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL. Cronologia da vida e da obra de Bocage. Disponível em: https://purl.pt/1276/1/cronologia.html.

BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL. Eis Bocage… duzentos anos depois. Disponível em: https://purl.pt/1276/1/bocage.html.

BOCAGE. Sonetos e outros poemas. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000059.pdf.

COSTA, Marilene Meira da. Algumas considerações sobre a poesia de Bocage. 2014. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

PIRES, Daniel. Bocage anedótico. Disponível em: https://purl.pt/1276/1/anedotico.html.

PIRES, Daniel. Bocage lírico. Disponível em: https://purl.pt/1276/1/lirico.html.

PIRES, Daniel. Bocage poeta da liberdade. Disponível em: https://purl.pt/1276/1/liberdade.html.

PIRES, Daniel. Bocage tradutor. Disponível em: https://purl.pt/1276/1/tradutor.html.

PIRES, Daniel. Poesia erótica de Bocage. Disponível em: https://purl.pt/1276/1/erotismo.html.

PIRES, Daniel. Uma perspectiva brasileira de Bocage. Disponível em: https://purl.pt/1276/1/brasileiro.html.    

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