José Saramago, escritor português, nasceu em 16 de novembro de 1922. Publicou seu primeiro livro, Terra do pecado, em 1947. Além de escritor, foi serralheiro mecânico e tradutor. Em 1998, Saramago ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Sua obra mais polêmica é O evangelho segundo Jesus Cristo (1991), que gerou muitas críticas ao autor na época de sua publicação. Mas a obra mais conhecida é Ensaio sobre a cegueira (1995), devido à sua bem-sucedida adaptação para o cinema.
As obras literárias de José Saramago são realistas, apresentam temática social, crítica política e religiosa, elementos do realismo fantástico e a defesa do protagonismo humano como solução para os problemas sociais. A principal característica do escritor é a intertextualidade, principalmente em relação a autores portugueses clássicos, como Camões. O autor, que morreu em 18 de junho de 2010, sabia da importância de sua obra, pois, como disse em uma entrevista: “Utilizo o romance como veículo para a reflexão”.
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José Saramago, autor português, nasceu em 16 de novembro de 1922, na província do Ribatejo. Ele tinha um ano de idade quando sua família se mudou para Lisboa. Filho de trabalhadores rurais, não pôde fazer faculdade, mas fez curso técnico em serralheria mecânica, que concluiu em 1940, ano em que conseguiu seu primeiro emprego na área. Trabalhava durante o dia e, à noite, dirigia-se a uma biblioteca municipal para ler.
Seu primeiro livro publicado foi o romance Terra do pecado, de 1947. Em 1955, começou a trabalhar como tradutor. Em 1969, filiou-se ao Partido Comunista Português. Além de tradutor, Saramago foi crítico literário na revista Seara Nova e, nos anos de 1972 e 1973, trabalhou no jornal Diário de Lisboa. Em 1974, depois da Revolução de 25 de Abril|1| (Revolução dos Cravos), organizou uma equipe do Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ), do Ministério da Educação.
Em 1975, atuou no Movimento Unitário de Trabalhadores Intelectuais para a Defesa da Revolução (MUTI). Nesse mesmo ano, foi diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias. Além de todas essas atividades, fez parte da direção da Associação Portuguesa de Escritores e, de 1985 a 1994, foi presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.
Em 1992, o governo português impediu a candidatura de O evangelho segundo Jesus Cristo ao Prêmio Literário Europeu. Esse romance, publicado pela primeira vez em 1991, causou bastante polêmica, pois mostra Jesus como um personagem mais humano e menos divino, com defeitos inclusive, além de manter um relacionamento amoroso com Maria de Magdala.
José Saramago filiou-se ao Parlamento Internacional de Escritores em 1993. No ano seguinte, foi nomeado como presidente honorário da Sociedade Portuguesa de Autores. Em 1998, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2007, o autor, consagrado mundialmente, criou a Fundação José Saramago. Morreu três anos depois, em 18 de junho de 2010.
José Saramago faz parte da literatura contemporânea portuguesa. Esse período da literatura no Ocidente não é de fácil classificação, não só em Portugal, mas também no Brasil e em outros países. Isso porque há uma variedade de produções, com características particulares, que às vezes podem ser comuns entre alguns autores e autoras.
Assim, é preciso analisar individualmente cada escritor ou escritora em busca de características específicas, que podem, às vezes, coincidir com as de outros escritores. No caso de José Saramago, ao analisar a sua biografia, fica claro que o escritor esteve sempre envolvido com questões políticas de sua época, além do trabalho com a palavra, seja como romancista e poeta, seja como tradutor. Portanto, inevitavelmente, elementos sociais e políticos estão em suas obras.
De maneira geral, os estudos que vêm sendo feitos sobre a obra de Saramago apontam as seguintes características literárias:
Jesus recuou um pouco e chamou a mulher, Zelomi, ela ergueu a custo a cabeça, Que queres, perguntou, Leva-me à cova onde nasci, ou diz-me onde é, se não podes andar, Custa-me caminhar, sim, mas tu não a encontrarias se eu não te levasse lá, É longe, Não, há outras covas, parecem todas iguais, Vamos, Pois sim, vamos, disse a mulher.
E, por fim, a intertextualidade. Segundo Eduardo Calbucci|2|:
De todas as características da obra de José Saramago, a mais importante, por ser a mais renitente, é a intertextualidade, baseada no uso repetido da paródia. Vários nomes da literatura portuguesa desfilam entre as frases dos romances estudados, criando um discurso polifônico. Vale lembrar que o romancista, na maioria das vezes, não “avisa” ao leitor que está usando o recurso paródico, de maneira que identificar essas relações intertextuais torna-se uma tarefa difícil, pois é necessário perceber no meio daqueles longos parágrafos, de repente, um verso de Os Lusíadas ou um trecho de Mensagem.
Defesa reiterada por Lívia Braga Barreto|3|: “A intertextualidade é um forte traço da literatura do autor, comentado pela maior parte dos críticos de seu trabalho. Ele parafraseia, parodia, reescreve ou alude diretamente obras tão diversas quanto a Bíblia, discursos de reis e clássicos da Literatura, como Mensagem ou Os Lusíadas, além de reinterpretar ou desconstruir ditados, provérbios e adágios populares”.
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Os livros em prosa de José Saramago são:
Já os livros de poesia de Saramago são:
Algumas obras de José Saramago foram adaptadas para o cinema, tais como:
José Saramago, além de inúmeras distinções honrosas, recebeu também os seguintes prêmios literários:
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A seguir, vamos ler algumas frases de José Saramago, retiradas dos seguintes textos: conferência Diálogos de culturas, caminho da cooperação (DC), de 1988; entrevista à revista Margem Esquerda (ME), em 1992; livro Cadernos de Lanzarote (CL), de 1994; discurso da cerimônia do Prêmio Nobel de Literatura (PNL), em 1998; entrevista à revista Época (RE), em 2005; e conferência Mantegna: uma ética, uma estética (MEE), de 2006.
São elas:
“O diálogo, a cooperação, a paz são demasiado preciosos para continuarem entregues, quase exclusivamente, ao exercício político.” (DC)
“Nos tempos históricos, desde a Antiguidade, sempre a cultura viajou de país a país, quer nos fardos dos comerciantes quer nas pontas das lanças.” (DC)
“E eu suponho que tenho todos os direitos do mundo de escrever sobre tudo aquilo que eu entender.” (ME)
“Ninguém tem o direito de chegar ao pé de outra pessoa e dizer-lhe que o seu Deus é falso.” (ME)
“Todos somos homens e todos somos mulheres.” (ME)
“A Europa não passa de um conselho administrativo governado pelos países mais fortes.” (ME)
“Os homens [seres humanos] é que são terríveis e são magníficos.” (ME)
“É inevitável o sofrimento, o sangue, o genocídio, porque o homem não é bom, pronto!” (ME)
“Não são os colonizadores portugueses e espanhóis que dominam a América Latina hoje.” (ME)
“Eu creio que de todos os meus livros se pode fazer uma leitura política, ainda que não seja esse o objetivo de nenhum deles.” (ME)
“Não aceito nem os dez mandamentos da Igreja Católica nem os dez mandamentos, se os houvesse, que me viessem do Partido.” (ME)
“E eu não tenho nem que provar a existência de Deus nem a sua inexistência.” (ME)
“Um imbecil é um imbecil, mesmo quando escreve livros.” (CL)
“Neste meio século não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados.” (PNL)
“Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante.” (PNL)
“Com a mesma veemência com que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres.” (PNL)
“Talvez o mundo possa tornar-se um pouco melhor.” (PNL)
“Utilizo o romance como veículo para a reflexão.” (RE)
“Citar-se a si próprio é um ato narcísico de que os autores sempre tentam desculpar-se.” (MEE)
“O homem, felizmente, inventou primeiro a fotografia, e só depois os bombardeamentos aéreos.” (MEE)
Notas
|1| A Revolução de 25 de Abril ou Revolução dos Cravos, ocorrida em 1974, foi responsável pelo fim do regime ditatorial do Estado Novo em Portugal.
|2| Citado por Lívia Braga Barreto, Eduardo Calbucci é doutor em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP).
|3| Lívia Braga Barreto é mestre em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB).
Créditos das imagens
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[2] Grupo Companhia das Letras (Reprodução)
Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.
O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.
Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.
Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.
As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.