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Terceira fase do modernismo.

A terceira fase do modernismo brasileiro também é chamada de pós-modernismo. Ela engloba a narrativa pós-moderna, a poesia de 1945 e a poesia concreta brasileira.

Por Warley Souza

Alguns autores e autoras da terceira fase do modernismo brasileiro.
Alguns autores e autoras da terceira fase do modernismo brasileiro. (Créditos da imagem: Gabriel Franco | Português)
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A terceira fase do modernismo ou pós-modernismo foi o período literário da literatura brasileira iniciado em 1945 e finalizado no final dos anos 1970. Ela englobou a prosa pós-moderna, a poesia de 1945, o concretismo e movimentos menos expressivos, como o neoconcretismo, a poesia práxis e o poema-processo.

Os principais autores desse período foram os romancistas Clarice Lispector e João Guimarães Rosa, os poetas Ferreira Gullar e João Cabral de Melo Neto (da geração de 1945), além dos poetas concretistas Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari.

Leia também: O que foi o modernismo?

Resumo sobre a terceira fase do modernismo brasileiro

  • A terceira fase do modernismo teve início em 1945 e perdurou até os anos 1970.

  • A poesia de 1945 é caracterizada pela crítica social e política.

  • A poesia concreta está centrada na verbivocovisualidade.

  • A prosa pós-moderna apresenta monólogo interior e metalinguagem.

  • Os principais poetas da geração de 1945 foram Ferreira Gullar e João Cabral de Melo Neto.

  • Os principais romancistas da terceira fase do modernismo foram Clarice Lispector e Guimarães Rosa.

  • Os três principais autores da poesia concreta foram Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari.

Videoaula sobre a terceira fase do modernismo

O que foi a terceira fase do modernismo?

A terceira fase do modernismo, também conhecida como pós-modernismo, foi um período da literatura modernista brasileira iniciado em 1945 e encerrado no final da década de 1970.

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Quais as características da terceira fase do modernismo?

Poesia

A poesia produzida pela geração de 1945 apresenta:

  • crítica social e política;

  • temática realista;

  • metalinguagem;

  • aspecto mais objetivo e menos sentimental;

  • uso de termos da linguagem cotidiana;

  • preocupação com a estrutura do texto poético.

O concretismo, que teve seu lançamento oficial em 1956, foi marcado pelo experimentalismo e pela exploração do caráter verbivocovisual da poesia, isto é, a poesia concreta centrada na palavra, no som e na imagem.

o neoconcretismo, cujo manifesto foi publicado em 1959, privilegia a interação do leitor, de forma a defender a existência de um poema não objeto, uma vez que a existência do poema estaria condicionada à interação com o leitor. Além disso, valoriza obras com dobras, recortes ou formas geométricas.

A poesia práxis foi um movimento literário criado em 1961, caracterizado pelo enaltecimento da palavra, do ritmo e do verso, de forma que é anticoncreta. Apresenta questões sociais e multivocidade (vários significados). Por fim, o poema-processo foi um movimento estético inaugurado em 1967, de caráter antidiscursivo, isto é, valorizava mais os signos gráficos (figuras ou perfurações) do que as palavras.

Prosa

A narrativa pós-moderna valoriza o monólogo interior, a fragmentação e a metalinguagem. Sua estrutura textual não é convencional ou tradicional. Ela privilegia a temática universal, que sobressai em relação à temática local ou particular. Além disso, apresenta linguagem de caráter experimental, como o uso de neologismos.

Leia também: 5 poemas do concretismo

Obras da terceira fase do modernismo

  • Ciranda de pedra (1954), de Lygia Fagundes Telles — romance

  • Morte e vida severina (1955), de João Cabral de Melo Neto — poesia

  • Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa — romance

  • A ave (1956), de Wlademir Dias-Pino — poesia

  • Lavra lavra (1962), de Mário Chamie — poesia

  • A hora dos ruminantes (1966), de José J. Veiga — contos

  • Linguaviagem (1967), de Augusto de Campos — poesia

  • Exercício findo (1968), de Décio Pignatari — poesia

  • Júbilo, memória, noviciado da paixão (1974), de Hilda Hilst — poesia

  • O pirotécnico Zacarias (1974), de Murilo Rubião — contos

  • Poema sujo (1976), de Ferreira Gullar — poesia

  • A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector — novela

  • Galáxias (1984), de Haroldo de Campos — poesia

Autores da terceira fase do modernismo

Clarice Lispector, a autora mais famosa da terceira fase do modernismo.
Clarice Lispector, a autora mais famosa da terceira fase do modernismo.
  • João Guimarães Rosa (1908-1967);

  • José J. Veiga (1915-1999);

  • Murilo Rubião (1916-1991);

  • Clarice Lispector (1920-1977);

  • João Cabral de Melo Neto (1920-1999);

  • Lygia Fagundes Telles (1923-2022);

  • Décio Pignatari (1927-2012);

  • Wlademir Dias-Pino (1927-2018);

  • Haroldo de Campos (1929-2003);

  • Hilda Hilst (1930-2004);

  • Ferreira Gullar (1930-2016);

  • Augusto de Campos (1931-);

  • Mário Chamie (1933-2011).

Contexto histórico da terceira fase do modernismo

As obras da terceira fase do modernismo brasileiro foram produzidas durante a Guerra Fria, que marcou a disputa entre países capitalistas e socialistas após a Segunda Grande Guerra Mundial. Foi um período de tensão política mundial gerada pela rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética.

No Brasil, teve fim a Era Vargas em 1945, dando lugar à democracia brasileira. Durante esse período, o destaque foi o governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976), iniciado em 1956. Tal governo foi marcado por uma política econômica desenvolvimentista e pela construção de Brasília.

Mundialmente, e no Brasil, havia o culto às estrelas de rádio e do cinema, particularmente do cinema americano, responsável por forte influência cultural. A chegada da televisão ao Brasil em 1950 também foi responsável pelo fortalecimento da cultura de massa e do estímulo ao consumo.

Nesse contexto, a poesia concreta apresenta um caráter mais material, enquanto a prosa, por valorizar a metalinguagem, estimula a participação do leitor no processo de construção do sentido da obra.

Contudo, as obras da terceira fase do modernismo brasileiro, por apresentarem caráter experimental, se distanciam da recepção fácil das obras de entretenimento, de maneira a se opor à cultura de massa. Além disso, a poesia de 1945 tem caráter político, com engajamento do autor em questões sociais e uma visão anticapitalista.

Leia também: Características, autores e obras da segunda fase do modernismo brasileiro

Exercícios sobre a terceira fase do modernismo

Questão 1 (Enem)

O poema abaixo pertence à poesia concreta brasileira. O termo latino de seu título significa “epitalâmio”, poema ou canto em homenagem aos que se casam.

Poema “Epithalamium – II”, pertencente ao concretismo.

Considerando que símbolos e sinais são utilizados geralmente para demonstrações objetivas, ao serem incorporados no poema “Epithalamium – II”,

A) adquirem novo potencial de significação.

B) eliminam a subjetividade do poema.

C) opõem-se ao tema principal do poema.

D) invertem seu sentido original.

E) tornam-se confusos e equivocados.

Resolução:

Alternativa A.

No poema, o símbolo & e o sinal de = adquirem novo potencial de significação, já que contribuem para a plurissignificação. A obra está centrada na palavra “She” (“ela”, em inglês). A forma como a palavra é exposta lembra o símbolo &, que aponta a união entre S, H e E, letras cujo significado é indicado pelo sinal de =, de maneira a mostrar a relação entre serpente, homem e eva.

Questão 2 (Enem)

Açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café

Nesta manhã de Ipanema

Não foi produzido por mim

Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

[...]

Em lugares distantes,

Onde não há hospital,

Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome

Aos 27 anos

Plantaram e colheram a cana

Que viraria açúcar.

Em usinas escuras, homens de vida amarga

E dura

Produziram este açúcar

Branco e puro

Com que adoço meu café esta manhã

Em Ipanema.

GULLAR, F. Toda poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1980 (fragmento).

A Literatura Brasileira desempenha papel importante ao suscitar reflexão sobre desigualdades sociais. No fragmento, essa reflexão ocorre porque o eu lírico

A) descreve as propriedades do açúcar.

B) se revela mero consumidor de açúcar.

C) destaca o modo de produção do açúcar.

D) exalta o trabalho dos cortadores de cana.

E) explicita a exploração dos trabalhadores.

Resolução:

Alternativa E.

Ferreira Gullar foi integrante da geração de 1945 do modernismo brasileiro, marcada por poesias com crítica sociopolítica. No poema Açúcar, o eu lírico mostra a exploração dos trabalhadores que plantaram e colheram a cana e produziram o açúcar em usinas. Homens “que não sabem ler e morrem de fome aos 27 anos”, “homens de vida amarga”.

Fontes:

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

COSTA, Tiago Leite. A poesia práxis contextualizada. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL LITERATURA, CRÍTICA, CULTURA, 4., 2010, Juiz de Fora. Anais [...]. Juiz de Fora: Darandina, 2010. v. 3.

VELLOSO, Ana Paula Meyer. Neomodernistas de 1945: uma querela de gerações. 2017. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2017.