Gênero narrativo
O gênero narrativo é constituído por textos que narram acontecimentos, como romances e contos. Tais textos apresentam narrador, personagens, enredo, tempo e espaço.
Por Warley Souza

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O gênero narrativo é composto por textos narrativos, ou seja, que relatam fatos, tais como conto, novela, romance, fábula e epopeia. Esses textos apresentam narrador, personagens, enredo, tempo e espaço. E podem ser monofônicos, polifônicos, abertos, fechados, lineares, verticais e/ou psicológicos.
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Resumo sobre gênero narrativo
- Textos do gênero narrativo relatam fatos e apresentam os seguintes elementos:
- narrador;
- personagens;
- enredo;
- tempo;
- espaço.
- Conto, novela, romance, fábula e epopeia são textos do gênero narrativo.
- Textos do gênero narrativo podem ser:
- monofônicos;
- polifônicos;
- fechados;
- abertos;
- lineares;
- verticais;
- psicológicos.
Videoaula sobre gênero narrativo
O que é o gênero narrativo?
Textos do gênero narrativo são aqueles que contam (narram) histórias.
Características do gênero narrativo
O gênero narrativo apresenta personagens, tempo, espaço e enredo. Além disso, para contar a história ou fazer a narrativa, o autor se vale da voz de um narrador. A presença desses elementos caracteriza o gênero narrativo.
Estrutura da narrativa
A estrutura básica de uma narrativa é a seguinte:
- introdução: o narrador inicia a história e apresenta as personagens principais;
- desenvolvimento: a trama é detalhada pelo narrador, que desenvolve o enredo;
- conclusão: o narrador apresenta o fim de sua história, as possíveis consequências dos acontecimentos narrados e o destino final das personagens.
Algumas obras, no entanto, iniciam a história pelo final, isto é, colocam o desfecho ou parte dele no início da narrativa para, em seguida, desenvolver a trama. É o caso, por exemplo, de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. No início desse romance, já sabemos que o protagonista vai morrer no final, já que ele narra a história após a sua morte
Leia também: Foco narrativo — o ponto de vista daquele que narra a história
Elementos da narrativa
ELEMENTOS |
DEFINIÇÃO E TIPOS |
Narrador |
Aquele que conta a história. O narrador pode ser onisciente (conhecedor de todos os detalhes), observador (apenas espectador) ou personagem (participa da história). |
Personagens |
Os agentes da ação narrada. A personagem pode ser plana (previsível) ou redonda (complexa). |
Enredo |
A trama ou história narrada. |
Tempo |
A passagem do tempo na narrativa. O tempo pode ser cronológico (sequência linear de fatos) ou psicológico (evidencia o fluxo de consciência ou pensamentos da personagem). |
Espaço |
Lugar em que transcorre a ação. |
Quais os tipos de discurso no gênero narrativo?
TIPOS DE DISCURSO |
DEFINIÇÃO E EXEMPLO |
Direto |
Indica a fala das personagens: — Eu acho que até sei cantar essa música. Lá-lá-lá-lá-lá. — Você até parece uma muda cantando. Voz de cana rachada. — Deve ser porque é a primeira vez que canto na vida. LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. |
Indireto |
O narrador menciona a fala das personagens, de forma indireta: Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Tanto que (explosão) nada argumentou em seu próprio favor quando o chefe da firma de representante de roldanas avisou-lhe com brutalidade (brutalidade essa que ela parecia provocar com sua cara de tola, rosto que pedia tapa), com brutalidade que só ia manter no emprego Glória, sua colega, porque quanto a ela, errava demais na datilografia, além de sujar invariavelmente o papel. Isso disse ele. [...] LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. |
Indireto livre |
Indicação do pensamento da personagem mesclado à voz do narrador: Glória era toda contente consigo mesma: dava-se grande valor. Sabia que o sestro molengole de mulata, uma pintinha marcada junto da boca, só para dar uma gostosura, e um buço forte que ela oxigenava. Sua boca era loura. Parecia até um bigode. Era uma safadinha esperta mas tinha força de coração. Penalizava-se com Macabéa mas ela que se arranjasse, quem mandava ser tola? [...]. LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. |
Subgêneros narrativos
- Conto: breve narrativa em prosa.
- Novela: narrativa em prosa de tamanho intermediário entre o conto e o romance.
- Romance: extensa narrativa em prosa.
- Fábula: breve narrativa, com animais como personagens e uma lição de moral.
- Epopeia: narrativa em versos, de caráter heroico.
Classificação dos textos do gênero narrativo
TIPOS |
DEFINIÇÃO |
Monofônico |
Texto narrativo que mantém o foco sobre o protagonista da história. |
Polifônico |
Texto narrativo que coloca em evidência várias personagens, sem privilegiar uma personagem principal. |
Fechado |
Texto narrativo que valoriza a ação e não deixa abertura para a interpretação do leitor, já que lhe dá todas as informações. |
Aberto |
Texto narrativo que valoriza a reflexão e deixa abertura para a interpretação do leitor, que deve preencher as lacunas da narrativa, já que ela não lhe oferece todas as informações. |
Linear |
Texto narrativo centrado na ação, que apresenta uma sequência cronológica de fatos. |
Vertical |
Texto narrativo centrado na reflexão do narrador acerca dos acontecimentos da narrativa. |
Psicológico |
Texto narrativo que privilegia o fluxo de consciência; portanto, valoriza a expressão de pensamentos das personagens em vez da sequência de fatos. |
Exercícios sobre gênero narrativo
Questão 1 (Enem)
Texto I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 (fragmento).
Texto II
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros homens.
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).
Com base no trecho de Morte e vida severina (Texto I) e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para um problema social expresso literariamente pela pergunta “Como então dizer quem fala/ ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da
A) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-narrador.
B) construção da figura do retirante nordestino como um homem resignado com a sua situação.
C) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição.
D) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta, em sua crise existencial.
E) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.
Resolução:
Alternativa C.
O texto de João Cabral de Melo Neto é uma narrativa em versos. Essa narrativa tem um narrador-personagem, ou seja, Severino. Esse personagem representa outros Severinos, isto é, nordestinos que compartilham das mesmas condições de vida do narrador. Daí a pergunta do personagem “Como então dizer quem fala?”, já que ele não é único, pois os Severinos como ele são vários.
Questão 2 (Enem)
As cores
Maria Alice abandonou o livro onde seus dedos longos liam uma história de amor. Em seu pequeno mundo de volumes, de cheiros, de sons, todas aquelas palavras eram a perpétua renovação dos mistérios em cujo seio sua imaginação se perdia. [...] Como seria cor e o que seria? [...]. Era, com certeza, a nota marcante de todas as coisas para aqueles cujos olhos viam, aqueles olhos que tantas vezes palpara com inveja calada e que se fechavam, quando os tocava, sensíveis como pássaros assustados, palpitantes de vida, sob seus dedos trêmulos, que diziam ser claros. Que seria o claro, afinal? Algo que aprendera, de há muito, ser igual ao branco. [...]
E agora Maria Alice voltava outra vez ao Instituto. E ao grande amigo que lá conhecera. [...]. Lembrava-se da ternura daquela voz, da beleza daquela voz. De como se adivinhavam entre dezenas de outros e suas mãos se encontravam. De como as palavras de amor tinham irrompido e suas bocas se encontrado... De como um dia seus pais haviam surgido inesperadamente no Instituto e a haviam levado à sala do diretor e se haviam queixado da falta de vigilância e moralidade no estabelecimento. E de como, no momento em que a retiravam e quando ela disse que pretendia se despedir de um amigo pelo qual tinha grande afeição e com quem se queria casar, o pai exclamara, horrorizado:
— Você não tem juízo, criatura? Casar-se com um mulato? Nunca!
Mulato era cor. Estava longe aquele dia. Estava longe o Instituto, ao qual não saberia voltar, do qual nunca mais tivera notícia, e do qual somente restara o privilégio de caminhar sozinha pelo reino dos livros, tão parecido com a vida dos outros, tão cheio de cores...
LESSA, O. Seleta de Orígenes Lessa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.
No texto, a condição da personagem e os desdobramentos da narrativa conduzem o leitor a compreender o(a)
A) percepção das cores como metáfora da discriminação racial.
B) privação da visão como elemento definidor das relações humanas.
C) contraste entre as representações do amor de diferentes gerações.
D) prevalência das diferenças sociais sobre a liberdade das relações afetivas.
E) embate entre a ingenuidade juvenil e a manutenção de tradições familiares.
Resolução:
Alternativa A.
O foco da narrativa é a discriminação racial. Na narrativa, a jovem Maria Alice se apaixona por um rapaz negro, chamado pelo pai da moça, de forma preconceituosa, de “mulato”. A protagonista constata que “mulato” era uma cor.
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
GOULART, Audemaro Taranto; SILVA, Oscar Vieira da. Introdução ao estudo da literatura. Belo Horizonte: Lê, 1994.
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática: teoria e prática. 26. ed. São Paulo: Atual Editora, 2001.