Condoreirismo é uma tendência da poesia romântica brasileira da terceira geração, marcada por realismo social. Seus principais nomes foram Castro Alves e Sousândrade.
O condoreirismo foi uma vertente da poesia romântica brasileira, relacionado à terceira geração romântica. Os poetas condoreiros foram autores de uma poesia de cunho social e distante da idealização. No entanto, essa poesia de transição para o realismo tem forte caráter emotivo. Um de seus principais representantes foi o poeta baiano Castro Alves.
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O condoreirismo foi uma vertente literária do romantismo brasileiro.
A palavra tem origem no termo “condor”, ave símbolo de liberdade.
Os poetas da terceira geração romântica foram, portanto, condoreiros.
A poesia condoreira apresenta realismo social e forte caráter emotivo.
O poeta abolicionista Castro Alves foi o principal nome do condoreirismo.
O condoreirismo é uma tendência literária associada à terceira geração do romantismo brasileiro. O nome vem da palavra “condor”, um pássaro típico da Cordilheira dos Andes e considerado pelos românticos um símbolo de liberdade. Os poetas condoreiros tinham a função de denunciar os problemas sociais.
O condoreirismo teve seu auge entre 1870 e 1881. Portanto, esteve inserido no Segundo Reinado, período histórico brasileiro compreendido entre 1840 e 1889. Assim, os poetas condoreiros viveram em um contexto brasileiro marcado por importantes acontecimentos históricos:
Lei Eusébio de Queirós (1850): criminalizou o tráfico de escravos.
Lei do Ventre Livre (1871): decretou que filhos e filhas de mães escravizadas, nascidos após a promulgação da lei, eram pessoas livres.
Lei dos Sexagenários (1885): tornava livres todas as pessoas escravizadas com 60 anos de idade ou mais.
Início da imigração para substituir a mão de obra escravizada, a partir de 1860.
Guerra do Paraguai (1864-1870): contribuiu para o endividamento do país e o desprestígio da monarquia.
Nesse contexto, os poetas românticos da terceira geração sentiram a necessidade de falar sobre a realidade brasileira. A escravidão se tornou uma das principais temáticas na poesia de Castro Alves, um abolicionista que, devido à sua morte prematura, não pôde assistir à abolição da escravatura, em 1888.
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O condoreirismo esteve relacionado a uma poesia social. Esteve situado, assim, em um período de transição entre o romantismo e o realismo brasileiros. A crítica social e política está presente na poesia condoreira. É, portanto, uma poesia mais realista e distante da idealização romântica.
A subjetividade romântica, no entanto, se manteve. O condoreiro buscava fazer uma poesia de caráter emotivo, com muitas exclamações e imagens fortes. Seu objetivo era despertar no(a) leitor(a) ou ouvinte dessa poesia o sentimento de rejeição a alguma injustiça ou violência social, como a escravidão.
Nesse intuito, o vocativo usado em alguns poemas aproxima o eu lírico do(a) leitor(a), que deve encarar a realidade e seus aspectos negativos. Mais que isso, tomar uma atitude para mudar tal realidade. O poeta condoreiro era um idealista, abolicionista e valorizava a liberdade de ação e de expressão.
O poeta Castro Alves foi o grande abolicionista dessa terceira geração romântica. Já Sousândrade extrapolou a realidade brasileira para pensar na realidade do continente americano, valorizou a liberdade dessa geração e a origem indígena americana, como é possível perceber no início do “Canto I”, de seu livro O guesa errante:
Eia, imaginação divina!
Os Andes
Vulcânicos elevam cumes calvos,
Circundados de gelos, mudos, alvos,
Nuvens flutuando — que espetac’los grandes!
Lá, onde o ponto do condor negreja,
Cintilando no espaço como brilhos
D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos
Do lhama descuidado; onde lampeja
Da tempestade o raio; onde deserto,
O azul sertão, formoso e deslumbrante,
Arde do sol o incêndio, delirante
Coração vivo em céu profundo aberto!
“Nos áureos tempos, nos jardins da América
Infante adoração dobrando a crença
Ante o belo sinal, nuvem ibérica
Em sua noite a envolveu ruidosa e densa.
“Cândidos Incas! Quando já campeiam
Os heróis vencedores do inocente
Índio nu; quando os templos s’incendeiam,
Já sem virgens, sem ouro reluzente,
“Sem as sombras dos reis filhos de Manco,
Viu-se... (que tinham feito? e pouco havia
A fazer-se...) num leito puro e branco
A corrupção, que os braços estendia!
[...]
Tobias Barreto (1839-1889)
Castro Alves (1847-1871)
Dias e noites (1881), de Tobias Barreto
Os escravos (1883), de Castro Alves
O guesa errante (1884), de Sousândrade
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Questão 1
Leia este poema de Castro Alves:
Que tens criança? O areal da estrada
Luzente a cintilar
Parece a folha ardente de uma espada.
Tine o sol nas savanas. Morno é o vento.
À sombra do palmar
O lavrador se inclina sonolento.
É triste ver uma alvorada em sombras,
Uma ave sem cantar,
O veado estendido nas alfombras.
Mocidade, és a aurora da existência,
Quero ver-te brilhar.
Canta, criança, és a ave da inocência.
Tu choras porque um ramo de baunilha
Não pudeste colher,
Ou pela flor gentil da granadilha?
Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma,
Para em teus lábios ver
O riso — a estrela no horizonte da alma.
Não. Perdeste tua mãe ao fero açoite
Dos seus algozes vis.
E vagas tonto a tatear à noite.
Choras antes de rir... pobre criança!...
Que queres, infeliz?...
— Amigo, eu quero o ferro da vingança.
CASTRO ALVES. A criança. In: CASTRO ALVES. Os escravos. Rio de Janeiro: Tipografia da Escola de Serafim José Alves, 1884.
O poema “A criança”, do poeta romântico Castro Alves, fala da violenta realidade da escravidão no Brasil. Sabendo-se disso, é possível afirmar que a terceira estrofe do poema tem uma estratégia argumentativa que pretende:
A) mostrar que a criança órfã teve a infância roubada pelo contexto da escravidão.
B) mostrar o quanto a criança é ingênua, pois desconhece o trágico fim de sua mãe.
C) mostrar a superioridade bucólica da natureza em oposição à realidade social.
D) mostrar a alienação do eu lírico diante da realidade da escravidão.
E) zombar da dor infantil ao sugerir que a criança é muito mimada.
Resolução:
Alternativa A
Na terceira estrofe, o eu lírico se dirige à criança para saber por que ela está chorando. Por ser uma criança, ele conclui que, provavelmente, ela chora “porque um ramo de baunilha/ Não pudeste colher,/ Ou pela flor gentil da granadilha”. Para ver a criança sorrir, o eu lírico está disposto a lhe dar “um ninho, uma flor, [...] uma palma”. Ele usa essa estratégia para mostrar que aquela não é uma criança como as outras, pois chora pela morte da mãe escravizada, vítima dos açoites da escravidão. Assim, essa criança não tem o direito à ingenuidade da infância.
Questão 2
Leia o seguinte trecho do poema “A cruz da estrada”, de Castro Alves:
Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.
Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.
É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre as selvas lhe compôs.
[...]
Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.
CASTRO ALVES. A cruz da estrada. In: CASTRO ALVES. Os escravos. Rio de Janeiro: Tipografia da Escola de Serafim José Alves, 1884.
Nesse poema da terceira geração romântica, é possível apontar as seguintes características do condoreirismo, exceto:
A) realismo social.
B) idealização da realidade.
C) marcas de subjetividade.
D) crítica à escravidão.
E) uso de vocativo e exclamação.
Resolução:
Alternativa B
O texto é realista ao falar da condição do homem escravizado. O final do poema valoriza a liberdade, de forma a criticar a escravidão. O eu lírico utiliza exclamação, usa adjetivos como “atroz” e “desgraçado” e recorre ao vocativo para chamar o “caminheiro” (o qual pode representar o leitor), sendo essas marcas de subjetividade. Assim, o poema não tem idealização.
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
LEMOS, Wagner. Sergipe entre Literatura & História: coletânea de artigos. Aracaju: SEDUC, 2021.
SOUSÂNDRADE. O guesa errante. In: SOUSÂNDRADE. Obras poéticas. New York: [s. n.], 1874.
Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.
O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.
Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.
Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.
As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.