Cláudio Manuel da Costa é um famoso autor mineiro cujas obras fazem parte do Arcadismo brasileiro. Seu livro mais famoso é o poema épico e pré-romântico Vila Rica.
Cláudio Manuel da Costa é um escritor mineiro. Ele nasceu no dia 5 de junho de 1729, na cidade de Mariana, em Minas Gerais. Mais tarde, estudou em Portugal, na Universidade de Coimbra. Trabalhou como advogado, secretário de governo e juiz. Porém, acabou sendo acusado de conspirar contra a Coroa portuguesa.
O poeta, que faleceu em 4 de julho de 1789, em Ouro Preto é um dos principais nomes do Arcadismo brasileiro. Suas poesias possuem referências greco-latinas, idealização amorosa e pastoralismo. A principal obra desse autor é sua epopeia Vila Rica, a qual apresenta elementos árcades e pré-românticos.
Leia também: Arcadismo no Brasil — detalhes sobre esse estilo de época no país
Cláudio Manuel da Costa nasceu na cidade de Mariana, no estado de Minas Gerais, em 5 de junho de 1729. O poeta estudou em colégio de jesuítas, no Rio de Janeiro. No ano de 1747, viajou para Portugal para estudar na Universidade de Coimbra. Publicou seu primeiro livro — Culto métrico — em Portugal, no ano de 1749.
Ali permaneceu até o ano de 1754, quando retornou ao país natal. Em Vila Rica (atual Ouro Preto), o poeta trabalhou como advogado e também lucrou com a mineração. No ano de 1762, foi nomeado secretário do governo da província. Exerceu tal função até 1765.
Já conhecido como poeta, foi fundador, em 1768, da Arcádia Ultramarina, associação literária que promovia os valores estéticos do Arcadismo. A partir de então, passou a usar o pseudônimo árcade de Glauceste Satúrnio. Nos anos seguintes, atuou como juiz medidor de terras.
O escritor nunca se casou, mas vivia com Francisca Arcângela de Sousa. Mulher escravizada, Francisca foi alforriada quando se tornou mãe do primeiro filho do poeta. Com ela, Cláudio Manuel da Costa teve cinco filhos. Assim, o casal esteve unido durante 30 anos de suas vidas.
Em 1789, os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga foram apontados como os principais responsáveis pela conspiração separatista conhecida hoje como Inconfidência Mineira. Ambos detinham grande poder político e econômico em Minas Gerais.
Os integrantes da conjuração se reuniram algumas vezes na casa do poeta. E, quando a tentativa de levante foi descoberta, o escritor foi preso. Em seu depoimento, ele afirmou que não acreditava que as ideias para um levante fossem levadas a sério. E negou sua participação em tal conspiração.
No dia 4 de julho de 1789, o corpo do poeta foi encontrado na casa do Real Contrato das Entradas (ou Casa dos Contos), onde Cláudio Manuel da Costa era mantido preso. Ele estava pendurado em um tipo de armário, morto por enforcamento. A conclusão das autoridades apontou suicídio.
Na época, boatos circularam por Vila Rica, dando a entender que o poeta não tinha cometido suicídio. Porém, até hoje, o suicídio por enforcamento ainda é a causa oficial da morte de Cláudio Manuel da Costa, não havendo provas que demonstrem, conclusivamente, um assassinato.
As obras de Cláudio Manuel da Costa estão inseridas no Arcadismo brasileiro. Portanto, apresentam características desse estilo de época, como elementos pastoris e bucólicos, idealização do amor e da mulher, além de referências greco-latinas. O poeta árcade mantém uma visão antropocêntrica acerca da realidade. Outras características típicas desse estilo, presentes na poesia do autor, são:
Vila Rica é a obra mais famosa de Cláudio Manuel da Costa. O livro é uma epopeia (poema narrativo e heroico), composta em versos decassílabos. Essa narrativa escrita em versos mostra a história da fundação da cidade de Vila Rica, ou seja, Ouro Preto, em Minas Gerais.
O herói desse poema épico é o fundador dessa cidade mineira, o português Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho (1655-1725). Os elementos históricos servem de pano de fundo para contar uma história de amor que tem como protagonista a indígena Aurora. Ela é objeto de desejo de Argasso (indígena) e Garcia (sertanista).
Assim, Vila Rica é uma obra árcade, pois resgata o gênero épico da Antiguidade, mas também é pré-romântica, dado seu caráter indianista e nacionalista. Afinal, o livro evidencia elementos nacionais, o processo de formação do país, o regime monárquico e a relação entre os bandeirantes paulistas e a população indígena do Brasil.
Como demonstração dessa famosa epopeia brasileira, vamos apresentar, a seguir, o final do canto III, em que Argasso, em disputa por Aurora, tenta matar Garcia. Ferido pelo rival, o indígena recebe a proteção de Albuquerque:
De impulso por então não conhecido,
O índio, a quem Amor tinha ferido,
Se deixava arrastar, e praticando
Tudo quanto a paixão lhe está ditando,
Do valor de seu braço ele confia
Roubar traidor a vida de Garcia.
Protegido da noite, às horas quando
Jaziam todos, n’ũa mão tomando
Uma faca e em outra o dardo agudo,
Por tudo olhando e precavendo tudo,
A tenda busca do saudoso amante;
A luz lhe rege o passo e ao mesmo instante
Na cama o tenta e lhe prepara a morte.
Houve uma vez de ser propícia a sorte,
Que não dorme Garcia e sente o ruído;
Ergue-se; toma a espada e acometido
Se vê apenas, quando reparada
A ferida do dardo, mete a espada
Por um lado ao traidor, em sangue envolta
A tira e a mão suspende; a um tempo solta,
A corrente de sangue inunda a terra;
O índio semivivo os dentes ferra,
Acena de morrer, e grita, e brada
Em roucas vozes, com que amotinada
Tem toda a gente, que ao sucesso acode.
Debalde a conjectura alcançar pode
O mesmo, que está vendo; estranho e oculto
É o motivo do aleivoso insulto.
Faminto lobo no redil fechado
Assim receoso entrou; mas acossado
Do molosso feroz, foi de repente
Cair despojo ao sanguinoso dente.
Conhecendo Albuquerque, que respira
Inda vivo, a um dos pousos o retira,
E lhe põe sentinelas; manda entanto
Se lhe apliquem remédios: o óleo Santo,
Que ministra de Bueno a mão esperta,
Estanca o sangue, e da ferida aberta
Cerrando a boca, inda a esperança anima
De que a morte de todo o não oprima. |1|
Acesse também: Quais são as principais características do gênero épico da Antiguidade?
No soneto abaixo (sem título), de Cláudio Manuel da Costa, o poeta usa a convenção árcade para fazer crítica política. Assim, em versos decassílabos, menciona uma “ninfa” e o pastoralismo para ressaltar a ausência desses elementos no “pátrio Rio”, o qual não apresenta beleza, já que está turvo pela ambição daqueles que buscam ali o ouro:
Leia a posteridade, ó pátrio Rio,
Em meus versos teu nome celebrado;
Por que vejas uma hora despertado
O sono vil do esquecimento frio:
Não vês nas tuas margens o sombrio,
Fresco assento de um álamo copado;
Não vês ninfa cantar, pastar o gado
Na tarde clara do calmoso estio.
Turvo banhando as pálidas areias
Nas porções do riquíssimo tesouro
O vasto campo da ambição recreias.
Que de seus raios o planeta louro
Enriquecendo o influxo em tuas veias,
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro. |2|
O próximo soneto (sem título) também apresenta versos decassílabos e elementos árcades como o pastoralismo. O eu lírico enaltece a beleza da mulher amada, mas mostra sofrimento por ser rejeitado por ela. E prefere não a mostrar aos outros pastores, já que a beleza da “pastora” pode fazer com que eles se apaixonem e sofram tanto quanto o eu lírico:
Pastores, que levais ao monte o gado,
Vede lá como andais por essa serra;
Que para dar contágio a toda a terra,
Basta ver-se o meu rosto magoado:
Eu ando (vós me vedes) tão pesado;
E a pastora infiel, que me faz guerra,
É a mesma, que em seu semblante encerra
A causa de um martírio tão cansado.
Se a quereis conhecer, vinde comigo,
Vereis a formosura, que eu adoro;
Mas não; tanto não sou vosso inimigo:
Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro;
Que se seguir quiserdes, o que eu sigo,
Chorareis, ó pastores, o que eu choro. |3|
Notas
|1| COSTA, Cláudio Manuel da. Vila Rica. In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
|2| e |3| COSTA, Cláudio Manuel da. Poemas. São Paulo: Cultrix, 1966.
Crédito de imagem
[1] Global Editora (reprodução)
Fontes
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
ABL. Cláudio Manoel da Costa: biografia. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/claudio-manoel-da-costa/biografia.
BRASIL. Ministério da Cultura. História da conjuração mineira. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000080.pdf.
COSTA, Cláudio Manuel da. Poemas. São Paulo: Cultrix, 1966.
COSTA, Cláudio Manuel da. Vila Rica. In: PROENÇA FILHO, Domício (org.). A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
FERREIRA, Cristina. Resenha do livro Cláudio Manuel da Costa: o letrado dividido. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 32, n. 63, 2012.
SCHNEIDER, Alberto Luiz. A vida (e a morte) de Cláudio Manuel da Costa: poeta árcade, escravocrata e inconfidente. Almanac, Guarulhos, n. 4, p. 168-173, jul./ dez. 2012.
STROPARO, Sandra Mara. Vila Rica: a epopeia das Minas. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/303974863.pdf.
VIVEIROS, Diva. O pensamento político de Cláudio Manuel da Costa: uma leitura do poema Vila Rica. 2009. Dissertação (Mestrado em História) – Departamento de História, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.
O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.
Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.
Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.
As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.