Características do modernismo
Algumas características do modernismo são: uso da linguagem coloquial e popular, liberdade de expressão estética, nacionalismo, e valorização da poética do cotidiano.
Por Talliandre Matos

PUBLICIDADE
As características do modernismo, de acordo com as três fases em que se dividiu o movimento, são as seguintes:
- na primeira fase, chamada de heroica, há forte irreverência estética e temática;
- na segunda fase, chamada de regionalista, há representação da população marginalizada nas regiões não centrais do país;
- na terceira fase, chamada de fase de reflexão, há o amadurecimento estético do texto literário moderno.
O modernismo foi um movimento multiartístico do século XX que buscou romper com os padrões estéticos da época, inspirando-se, para isso, nos movimentos das vanguardas europeias, e com a incorporação de elementos e referências da cultura nacional popular.
Leia também: Semana de Arte Moderna de 1922 — marco inicial do modernismo brasileiro
Resumo sobre modernismo
- Algumas características do modernismo são: uso da linguagem coloquial e popular, liberdade de expressão estética, nacionalismo e valorização da poética do cotidiano.
- O modernismo foi um movimento multiartístico que promoveu uma ruptura estética com os padrões da época.
- Foi dividido em três fases, cada uma com características predominantes.
- A primeira fase do modernismo é chamada de heroica e destacou-se principalmente pelo movimento de ruptura com os padrões artísticos.
- A segunda fase do modernismo é chamada de regionalista e centrou-se em representar o ser humano marginalizado em seu meio social.
- A terceira fase do modernismo é chamada de fase de reflexão e promoveu o amadurecimento estético da literatura moderna.
Quais as principais características do modernismo?
O modernismo foi um movimento multiartístico que pretendia romper com as estruturas tradicionais de arte por meio da experimentação de novas formas estéticas, inspiradas nos movimentos das vanguardas europeias, com o acréscimo de referências a elementos da cultura popular nacional.
O modernismo foi dividido em três fases, as quais, embora mantenham alguns aspectos em comum, diferenciaram-se pelos aspectos predominantes em cada uma delas.
→ Características da primeira fase do modernismo
A primeira fase do modernismo (1922-1930) é conhecida como fase heroica, devido a sua forte característica de irreverência e ruptura com os modelos tradicionais de arte da época. Inaugurou-se esse momento com a realização da Semana de Arte Moderna, a qual causou grande escândalo na sociedade paulista, pois, para os tradicionais e conservadores, aquelas manifestações representavam um insulto à arte. Os principais autores dessa fase foram Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Alcântara Machado.
Nesse período, a maior produção literária concentrou-se na poesia e os principais valores do movimento foram:
- superação do passado;
- ruptura com modelos tradicionais;
- valorização da poética do cotidiano;
- nacionalismo;
- uso da linguagem coloquial; e
- liberdade de criação.
Abaixo, veja um poema de Oswald de Andrade:
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
É evidente no poema uma defesa do português falado coloquialmente no Brasil por meio do uso de versos livres, da ausência do lirismo e de rimas, e da referência a experiências do cotidiano, características fundamentais dessa fase do modernismo no Brasil.
→ Características da segunda fase do modernismo
A segunda fase do modernismo é também conhecida como fase regionalista, durante a qual a produção literária — predominantemente a prosa — concentrou-se em abordar temas que representavam as realidades regionais do país, principalmente a região nordestina e a experiência com a seca dos sertões. Também houve obras que abordaram aspectos da região Sul do país. Sendo assim, o regionalismo é a característica prevalente desse período.
Os principais autores dessa fase foram: Raquel de Queirós, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Erico Verissimo e José Lins do Rego.
Abaixo, segue um trecho do livro Vidas secas, de Graciliano Ramos:
“(...) Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a idéia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados no estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis. E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande.”
No trecho, é evidente que o narrador retrata a vida de uma família que está em uma situação de extrema vulnerabilidade diante da vida na seca, apontando para como os personagens vão se desumanizando diante dessa experiência.
→ Características da terceira fase do modernismo
A terceira fase do modernismo é chamada de fase de reflexão ou também de universalidade temática. Foi considerado o período de consolidação e amadurecimento do modernismo.
Os principais autores na prosa foram Guimarães Rosa e Clarice Lispector, e, na poesia, João Cabral de Melo Neto. Esse período se destacou pelo aprimoramento do trabalho estético com o texto literário, já que, além de questionar e abordar questões socioculturais, os autores também se dedicaram a elaborar a forma como esses temas seriam trabalhados, solidificando o valor estético-literário dos textos.
Abaixo, veja um trecho do poema Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto:
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
que é a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida)
(...)
No trecho, evidencia-se que o poeta utiliza diferentes estratégias poéticas, como a musicalidade e a variação linguística típica dos cordéis, bem como a repetição e personificação dos vocábulos “Severina” e “Severino”, para retratar a difícil realidade de parte da população brasileira da época.
Veja também: O que foi o pré-modernismo?
Autores do modernismo
→ Autores modernistas da primeira fase
- Oswald de Andrade (1890-1954): Nascido em São Paulo-SP, foi poeta, escritor, advogado, ensaísta e dramaturgo. Saiba mais clicando aqui.
- Mário de Andrade (1893-1945): Nascido em São Paulo-SP, foi poeta, contista, cronista, romancista, musicólogo, historiador da arte, crítico e fotógrafo.
- Manuel Bandeira (1886-1968): Nascido em Recife-PE, foi poeta, crítico de arte e literatura, professor e tradutor.
- Alcântara Machado (1901-1935): Nascido em São Paulo-SP, foi um jovem escritor o qual, devido a sua curta vida, não pôde realizar muitas obras.
→ Autores modernistas da segunda fase
- Raquel de Queiroz (1910-2003): Nascida em Fortaleza-CE, foi uma escritora, jornalista, tradutora, cronista e dramaturga brasileira.
- Graciliano Ramos (1892-1953): Nascido em Quebrangulo-AL, foi um romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista.
- Jorge Amado (1912-2001): Nascido em Itabuna-BA, foi um escritor brasileiro de grande sucesso, sendo um dos mais traduzidos e adaptados para o cinema, teatro e televisão.
- Erico Verissimo (1905-1975): Nascido em Cruz Alta-RS, foi um dos escritores mais populares da literatura brasileira. Para saber mais sobre o autor, clique aqui.
- José Lins do Rego (1901-1957): Nascido em Pilar-PB, foi escritor e alcançou grande prestígio na literatura nacional.
→ Autores modernistas da terceira fase
- Guimarães Rosa (1908-1967): Nascido em Cordisburgo-MG, foi poeta, diplomata, novelista, romancista, contista e médico.
- Clarice Lispector (1920-1977): Nascida em Chechelnyk, na Ucrânia, e naturalizada no Brasil, foi escritora, jornalista e ensaísta. Saiba mais sobre a autora clicando aqui.
- João Cabral de Melo Neto (1920-1999): Nascido em Recife-PE, foi poeta e diplomata brasileiro.
Obras do modernismo
→ Obras da primeira fase do modernismo
- Paulicéia desvairada (1922); Amar, verbo intransitivo (1927); e Macunaíma (1928), de Mario de Andrade.
- Os condenados (1922); Memórias sentimentais de João Miramar (1924); e Pau Brasil (1925), de Oswald de Andrade.
- A cinza das horas (1917); Carnaval (1919); e Libertinagem (1930), de Manuel Bandeira.
→ Obras da segunda fase do modernismo
- O Quinze (1930) e Caminho de pedras (1937), de Rachel de Queiroz.
- Vidas secas (1938); Memórias do cárcere (1953); e São Bernardo, de Graciliano Ramos.
- Menino de engenho (1932), de José Lins do Rego.
- Cacau (1933); Jubiabá (1935); Mar morto (1936); Capitães de areia (1937); O cavaleiro da esperança (1942); e Gabriela, cravo e canela (1958), de Jorge Amado.
- Alguma poesia (1930); Sentimento do mundo (1940); A rosa do povo (1945); Contos de aprendiz (1951), de Carlos Drummond de Andrade.
- Espectros (1919); Romanceiro da Inconfidência (1953); e Canções (1956), de Cecília Meireles.
- Orfeu da Conceição (1956); As feras (1961); e Procura-se uma rosa (1961), de Vinicius de Moraes.
- Menino de engenho (1932) e Fogo morto (1943), de José Lins do Rego.
- São Bernardo (1934); Angústia (1936); e Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos.
- O tempo e o vento (1948, 1951, 1961) e Incidente em Antares (1971), de Erico Verissimo.
→ Obras da terceira fase do modernismo
- Perto do coração selvagem; Laços de família; e A hora da estrela, de Clarice Lispector.
- Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa.
- Morte e vida severina (1956), de João Cabral de Melo Neto.
Saiba mais: Concretismo — movimento artístico e literário que marcou o século XX
Exercícios resolvidos sobre características do modernismo
1. (Selecon-2024) Qual movimento artístico brasileiro, ocorrido no início do século XX, que buscava romper com os padrões estéticos europeus e valorizar a cultura brasileira?
A) Romantismo
B) Neoclassicismo
C) Modernismo
D) Barroco
Resposta: C
Comentário: O modernismo foi o movimento predominante no século XX e buscou romper com os padrões artísticos da época.
2. (Univali-2024) Clarice Lispector foi uma escritora brasileira amplamente reconhecida por sua prosa introspectiva e pelo mergulho psicológico de seus personagens, frequentemente explorando questões existenciais e subjetivas. Sua obra destaca-se pela originalidade e pela linguagem inovadora, que reflete aspectos da vida interior e da complexidade humana.
Assinale a alternativa que indica o período literário ao qual Clarice Lispector pertence:
A) Modernismo / Modernismo (2ª Geração).
B) Pós-modernismo / Modernismo (3ª Fase).
C) Pré-modernismo / Modernismo (1ª Fase).
D) Modernismo / Modernismo (1ª Geração).
Resposta: B
Comentário: Clarice Lispector foi uma autora da terceira fase do modernismo.
3. (Inaz do Pará - 2024) O movimento Modernista brasileiro, em sua fase de 1922 a 1930, foi um marco importante para a redefinição das produções literárias no país. A Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, simboliza o rompimento com os estilos tradicionais e a busca por uma arte genuinamente brasileira. Tendo em vista as características dessa fase do Modernismo, indique a alternativa CORRETA sobre a relação entre a produção literária modernista e o contexto histórico-social.
A) O Modernismo de 1922 procurou resgatar as tradições coloniais e os elementos da literatura clássica europeia como base para a produção artística brasileira, rejeitando a ideia de modernidade.
B) A fase de 1922 do Modernismo no Brasil se caracteriza por uma busca pela liberdade estética, questionando as normas acadêmicas e criando uma literatura mais subjetiva e nacionalista, com uma forte crítica às influências europeias e ao elitismo cultural.
C) A produção literária modernista, na fase de 1922, foi predominantemente voltada para a reprodução das formas literárias europeias, buscando uma integração entre o Brasil e as vanguardas internacionais, sem uma análise crítica da realidade social.
D) O Modernismo de 1922 foi uma fase de apogeu da literatura brasileira, pois resultou na criação de uma produção literária voltada exclusivamente para o público europeu, sem uma conexão com os problemas sociais brasileiros.
E) A fase de 1922 do Modernismo rejeitou completamente a literatura nacional e as influências indígenas, buscando apenas imitar a produção literária francesa.
Resposta: B
Comentário: A primeira fase do modernismo foi a mais irreverente, portanto, foi marcada pelo questionamento aos padrões artísticos da época, defendendo a liberdade de expressão e a cultura nacional.
4. (Inep-Enem 2022)
Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressureição dos cemitérios antigos — esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres.
Os fantasmas estropiados como que iam dançando de tão trópegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos de seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados.
Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomadismo.
Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando.
Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos — de ascite consecutiva à alimentação tóxica — com os fardos das barrigas alarmantes.
Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais.
ALMEIDA, J. A. A bagacera, Rio do Janeiro: J, Olympio, 1978.
Os recursos composicionais que inserem a obra no chamado “Romance de 30” da literatura brasileira manifestam-se aqui no(a)
A) desenho cru da realidade dramática dos retirantes.
B) indefinição dos espaços para efeito de generalização.
C) análise psicológica da reação dos personagens à seca.
D) engajamento político do narrador ante as desigualdades.
E) contemplação lírica da paisagem transformada em alegoria.
Resposta: A
Comentário: A segunda fase do modernismo centrava-se em retratar as dificuldades vivenciadas por parte da população que vivia em regiões marginalizadas de modo objetivo e realista, evidenciando as críticas sociais.
5. (Inep-Enem)
Cena
O canivete voou
E o negro comprado na cadeia
Estatelou de costas
E bateu coa cabeça na pedra
ANDRADE, O. Pau-brasil. São Paulo: Globo, 2001.
O Modernismo representou uma ruptura com os padrões formais e temáticos até então vigentes na literatura brasileira. Seguindo esses aspectos, o que caracteriza o poema Cena como modernista é o(a)
A) construção linguística por meio de neologismo.
B) estabelecimento de um campo semântico inusitado.
C) configuração de um sentimentalismo conciso e irônico.
D) subversão de lugares-comuns tradicionais.
E) uso da técnica de montagem de imagens justapostas.
Resposta: E.
Comentário: O uso de imagens justapostas é uma característica de algumas obras modernas. No poema, o autor insere três pequenas cenas que, juntas, conseguem tecer uma crítica social.
Fontes
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. Editora Cultrix: 1970.