Os pronomes pessoais podem exercer diferentes funções sintáticas de acordo com as relações estabelecidas dentro do enunciado.
Leia o texto a seguir:
A disciplina do amor
Foi na França, durante a Segunda Grande guerra: um jovem tinha um cachorro que todos os dias, pontualmente, ia esperá-lo voltar do trabalho. Postava-se na esquina, um pouco antes das seis da tarde. Assim que via o dono, ia correndo ao seu encontro e na maior alegria acompanhava-o com seu passinho saltitante de volta à casa. A vila inteira já conhecia o cachorro e as pessoas que passavam faziam-lhe festinhas e ele correspondia, chegava até a correr todo animado atrás dos mais íntimos. Para logo voltar atento ao seu posto e ali ficar sentado até o momento em que seu dono apontava lá longe.
Mas eu avisei que o tempo era de guerra, o jovem foi convocado. Pensa que o cachorro deixou de esperá-lo? Continuou a ir diariamente até a esquina, fixo o olhar naquele único ponto, a orelha em pé, atenta ao menor ruído que pudesse indicar a presença do dono bem-amado. Assim que anoitecia, ele voltava para casa e levava sua vida normal de cachorro, até chegar o dia seguinte. Então, disciplinadamente, como se tivesse um relógio preso à pata, voltava ao posto de espera. O jovem morreu num bombardeio, mas no pequeno coração do cachorro não morreu a esperança. Quiseram prendê-lo, distraí-lo. Tudo em vão. Quando ia chegando aquela hora ele disparava para o compromisso assumido, todos os dias.
Todos os dias, com o passar dos anos (a memória dos homens!), as pessoas foram se esquecendo do jovem soldado que não voltou. Casou-se a noiva com um primo. Os familiares voltaram-se para outros familiares. Os amigos para outros amigos. Só o cachorro já velhíssimo (era jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá-lo na sua esquina.
As pessoas estranhavam, mas quem esse cachorro está esperando?… Uma tarde (era inverno) ele lá ficou, o focinho voltado para aquela direção.
(TELLES, Lygia Fagundes. A disciplina do amor: memória e ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1980.)
Notamos que as palavras em destaque tratam-se de pronomes pessoais, alguns do caso reto (ele), outros do caso oblíquo (lo, lhe). Para avivar nossa memória, revisemos esses tipos de pronomes no seguinte quadro:
Pronomes pessoais retos |
Pronomes pessoais oblíquos
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Átonos |
Tônicos |
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Eu |
Me |
Mim, comigo |
Tu |
Te |
Ti, contigo |
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O, a, lhe |
Ele, ela |
Nós |
Nos |
Conosco |
Vós |
Vos |
Convosco |
Eles |
Os, as, lhes |
Eles, elas |
Voltando ao texto, podemos analisar, além do aspecto morfológico, a sintaxe dos pronomes destacados. Veja:
- “ia esperá-lo voltar do trabalho”
Perceba que, nesse trecho do texto, o pronome exerce a função de objeto direto do verbo “esperar”. A mesma relação sintática ocorre em outros trechos também:
- “ na maior alegria acompanhava-o com seu passinho saltitante de volta à casa.”
- “Pensa que o cachorro deixou de esperá-lo?”
- “Quiseram prendê-lo, distraí-lo. “
- “ continuou a esperá-lo na sua esquina.”
Agora, observe esse outro trecho:
- “faziam-lhe festinhas”
Nota-se que, nesse caso, o pronome exerce a função de objeto indireto do verbo “fazer”.
Além disso, em outras partes do texto, o pronome comporta-se também como sujeito da oração:
- “ele correspondia, chegava até a correr todo animado atrás dos mais íntimos.”
- “Mas eu avisei que o tempo era de guerra, o jovem foi convocado.”
- “ele voltava para casa e levava sua vida normal de cachorro”
- “ele disparava para o compromisso assumido”
- “ele lá ficou, o focinho voltado para aquela direção.”
Assim, é possível que o pronome pessoal assuma diferentes funções sintáticas no discurso, e são essas funções que detalhamos a seguir.
Funções sintáticas dos pronomes pessoais do caso reto |
Ela gostaria que nós fossemos até a sua casa. |
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Predicativo do sujeito |
O gerente será ele. |
Vocativos (somente os pronomes tu e vós) |
Ei, tu, podes me ajudar? |
Funções sintáticas dos pronomes pessoais do caso oblíquo tônicos |
Convide-a para passear. |
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Não tenho necessidade de ti. |
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Adjunto adverbial |
Você quer viajar comigo? |
Agente da passiva |
Esse conflito será mediado por mim. |
Funções sintáticas dos pronomes pessoais do caso oblíquo átonos |
Objeto direto |
Minha família me ama de verdade. |
Objeto indireto |
Entregou-lhe os documentos. |
Adjunto adnominal |
Aproximou-se e tocou-lhe o rosto pálido. |
Sujeito de verbo no infinitivo |
Mandei-a falar com a direção. |
Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.
O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.
Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.
Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.
As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.