A vírgula é um sinal de pontuação usado para indicar pequenas pausas durante a leitura, além da separação de termos no enunciado para evitar ambiguidade na interpretação.
A vírgula é um sinal de pontuação muito usado na escrita, sendo responsável por indicar pequenas pausas e por separar e conectar alguns termos no enunciado. Seu uso, no entanto, gera muitas dúvidas.
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O uso da vírgula é muito comum na língua portuguesa, mas não está associado à respiração durante a leitura. Há regras específicas para seu uso, indicando leves pausas, mas também o destaque e a separação de algumas palavras ou de alguns termos entre as orações. A seguir, vamos entender alguns desses casos.
A vírgula é usada para separar palavras ou termos coordenados em um enunciado, indicando que é feita uma enumeração de itens. Veja:
“Eu ouço todo tipo de música: MPB, samba, rock, funk, pop...”
Atenção! Nesses casos, a vírgula só não ocorrerá quando houver a conjunção “e” separando os termos coordenados. Veja:
“Eu gosto apenas de alguns tipos de música: MPB, funk, pop e música clássica.”
Por consequência, o uso da vírgula também se estende para separar orações coordenadas, ou seja, aquelas que são independentes uma da outra no enunciado, especialmente quando indicando uma sequência de ações. Veja:
“Meu dia foi cheio de compromissos. Fui ao mercado, limpei a casa, encontrei a Rúbia, terminei de ler um livro...”
Atenção! Orações coordenadas sindéticas aditivas que iniciem com a conjunção “e” não têm vírgula. Veja:
“Meu dia foi cheio de compromissos. Fui ao mercado, limpei a casa, encontrei a Rúbia e terminei de ler um livro...”
Muitas vezes, para reforçar o sentido de um termo, repetimos essa palavra ou locução no enunciado. Geralmente, trata-se de um advérbio, de uma conjunção ou de um adjetivo. Nesses casos, a vírgula é usada entre os elementos repetidos. Observe:
“Logo, logo, ele chega!”
“Vou perder minha paciência já, já.”
“Esse vestido está lindo, lindo!
Em comunicados, ao preencher um cabeçalho indicando local e data, esses elementos são separados por vírgula. Exemplo:
“Macapá, 30 de agosto de 2021”
O aposto é um termo usado para explicar, resumir ou comentar um termo anterior. Para isso, o aposto pode aparecer entre vírgulas, isolando o termo do restante da oração. Observe:
“Fubá, o meu gato, dorme o dia inteiro.”
“Alexandre, o Grande, foi rei da Macedônia.”
“Marília Mendonça, cantora brasileira, fez sucesso no gênero sertanejo.”
O vocativo é um termo de chamamento, usado para indicar que alguém está sendo invocado na oração. Esse termo também aparece destacado: se estiver no início da oração, haverá vírgula após o vocativo; se estiver no meio da oração, aparecerá entre vírgulas; se estiver ao final da oração, será antecedido por vírgula. Observe:
“Rita, você não me ouviu?”
“O problema, Rita, é que você não me ouve.”
“Por que você não me ouve nunca, Rita?”
Expressões que interrompem um enunciado para indicar que se faz uma retificação ou uma explicação costumam aparecer entre vírgulas. Exemplo:
“Não é que eu esteja insatisfeito. Pelo contrário, estou muito satisfeito!”
“Murilo foi mal nas provas, ou seja, precisaria estudar mais no semestre seguinte.”
“Nós amamos esse parque! Aliás, vamos lá sempre que podemos.”
Conjunções adversativas são palavras que unem dois elementos no enunciado dando sentido de oposição. A vírgula aparece após a conjunção adversativa. Veja:
“Eu amo calor! Porém, não gosto de praias.”
“Tentei agendar uma reunião com a senhora. Todavia, não foi possível.”
Se a conjunção estiver entre duas orações, pode aparecer entre um ponto e vírgula e uma vírgula. Observe:
“Eu amo calor; porém, não gosto de praias.”
Atenção! A conjunção adversativa “mas” é a única que não leva vírgula após a palavra, mesmo quando iniciar uma oração. Exemplo:
“Eu amo calor, mas não gosto de praias.”
“Eu amo calor! Mas não gosto de praias.”
Hipérbato é a figura de linguagem em que uma expressão aparece intercalada na oração, interrompendo o fluxo natural da ideia que estava sendo passada. Para isso, a expressão deslocada deve vir entre vírgulas. Observe:
“Eu já sabia que, por mais que não fosse dar tempo, eu teria que tentar chegar lá.”
“Vamos conseguir, custe o que custar, vencer esse campeonato!”
“Você não teria, por acaso, um isqueiro para me emprestar?”
O anacoluto ocorre quando um termo aparece isolado no início da oração, como se o enunciado começasse com ele, mas fosse reestruturado, abandonando esse início. A expressão perde qualquer ligação com os outros termos do enunciado e fica sem função sintática, como se fosse uma topicalização. Veja:
“A Amanda, ela nunca está presente quando deveria.”
“O que rolou na festa, é melhor não falarmos mais naquilo.”
A vírgula também é usada para mostrar que ocorreu uma elipse, ou seja, a omissão de um termo no enunciado. A vírgula ocorre para indicar a omissão de um verbo, especificamente no caso de zeugma, isto é, um tipo específico de elipse que ocorre para omitir um termo repetido no enunciado. Veja:
“Estela estuda Matemática. Cássio, Letras.” [omissão de “estuda”]
“Nós preferimos ir ao cinema. Elas, ao estádio.” [omissão de “preferiram ir”]
Quando duas orações aparecem no mesmo período unidas pela conjunção “e”, elas podem ser separadas por vírgula caso tenham sujeitos diferentes. Observe:
“Eu corri para chegar a tempo, e vocês me esperaram pacientemente.”
“Conseguimos ler muita coisa, e o trabalho resumiu bem todo o conteúdo.”
Orações subordinadas são aquelas que dependem de uma oração principal para fazer sentido. As orações subordinadas adjetivas explicativas são aquelas que qualificam o termo anterior, acrescentando a ele uma informação. Por se tratar de uma informação adicional, ela aparece entre vírgulas, como um aposto. Observe:
“Esse livro, que é o meu preferido, tem um final surpreendente!”
“Você, que é acostumado a usar transporte público, sabe qual terminal de ônibus está mais perto daqui?”
Orações subordinadas adverbiais são aquelas que dependem de outra oração para fazer sentido e que têm função de adjunto adverbial. Essas orações costumam ser separadas por vírgula, especialmente quando aparecem antes da oração principal da qual dependem para ter sentido. Veja:
oração subordinada adverbial + oração principal
“Apesar de não ter dinheiro, eu resolvi comprar aquele fone de ouvido.”
“Como vocês não o avisaram, ele acabou indo sozinho.”
“Se ninguém falar nada, eu vou me manifestar!”
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Há casos específicos em que não se deve usar a vírgula. Veja quando esse sinal de pontuação não pode ser utilizado:
Quando o sujeito e o verbo da oração aparecem juntos no enunciado, não se pode separá-los por vírgula.
Exemplo de uso inadequado de vírgula:
sujeito + verbo
“Os três porquinhos, são construtores hábeis.”
“Essa grande macieira da nossa horta, não está dando frutos.”
Não deve haver vírgula nesses exemplos, já que não se separa sujeito e verbo com vírgula. Veja:
“Os três porquinhos são construtores hábeis.”
“Essa grande macieira da nossa horta não está dando frutos.”
Do mesmo modo, quando verbo e complemento aparecem juntos, eles não devem estar separados por vírgula.
Exemplo de uso inadequado de vírgula:
verbo + complemento
“Os três porquinhos são, construtores hábeis.”
“Essa grande macieira da nossa horta não está, dando frutos.”
Como não se separa verbo e complemento com vírgula, os enunciados deveriam ser escritos dessa maneira:
“Os três porquinhos são construtores hábeis.”
“Essa grande macieira da nossa horta não está dando frutos.”
Assim como as orações subordinadas adjetivas explicativas, as restritivas também qualificam o termo anterior. Porém, elas não apenas acrescentam uma informação adicional, e sim um elemento essencial ao termo anterior, não podendo ser omitido do enunciado. Por isso, não é separada desse termo por vírgulas. Observe:
“O livro que é meu preferido tem um final surpreendente!”
“O homem que correu mais rápido viu primeiro o que tinha do outro lado.”
A oração subordinada adverbial consecutiva é aquela que depende de uma oração principal para fazer sentido e que estabelece, com ela, relação de consequência. Quando iniciada pela conjunção “que”, essa oração não deve ser antecedida por vírgula. Veja:
Exemplo de uso inadequado de vírgula:
oração principal + oração subordinada adverbial consecutiva
“Ela escreveu tanto, que conseguiu terminar a redação a tempo.”
“Ficamos tão longe do palco, de modo que não conseguimos ver bem o show.”
As orações adverbiais consecutivas não são separadas da oração principal por vírgula. Portanto, o enunciado deveria ser escrito da seguinte forma:
“Ela escreveu tanto que conseguiu terminar a redação a tempo.”
“Ficamos tão longe do palco de modo que não conseguimos ver bem o show.”
Por ser um sinal muito comum, mas com muitas especificidades em seu uso, muita gente tem dúvidas a respeito do uso da vírgula em casos específicos.
Via de regra, não ocorre vírgula antes da conjunção “e” quando houver uma enumeração de itens ou de ações no enunciado.
“Temos frutas, verduras e legumes fresquinhos em nossa quitanda!”
“Vim, lutei e venci.”
A exceção ocorre quando essa conjunção estiver entre duas orações com sujeitos diferentes, havendo vírgula para indicar essa situação.
“Eu vim, lutei, e você venceu.”
Também haverá vírgula antes de “e” quando essa conjunção for parte de uma expressão intercalada na oração.
“Temos diversos produtos, e sempre com descontos, em nossa loja!”
A conjunção “mas” também não costuma ser seguida de vírgula. Ela costuma ser apenas antecedida por vírgula, quando não houver pausa maior que peça o uso de pontos ou reticências.
“Ela entrou para comprar, mas não encontrou nada interessante.”
“Eu me atrasei demais para a festa... Mas até que consegui me divertir.”
De modo similar ao que ocorre com “e”, a conjunção “mas” pode ser seguida de vírgula quando houver uma expressão intercalando a oração.
“Ela entrou para comprar, mas, apesar de ter dinheiro, não encontrou nada interessante.”
“Eu me atrasei demais para a festa... Mas, assim que cheguei, comecei a me divertir.”
A vírgula é usada antes da palavra “que” quando esta fizer referência ao termo anterior e for uma oração adjetiva explicativa, ou seja, incluir uma informação adicional àquele termo.
“Esta roupa, que era branca antes, está cinza.”
Caso se trate de uma oração adjetiva restritiva, ou seja, que é parte integrante do termo anterior, não deve haver vírgula separando.
“A roupa que era branca está cinza.”
Leia também: A vírgula — um simples sinal pode mudar todo o sentido?
Questão 1
(FCC – adaptado)
O Brasil abriga 13% das espécies da fauna e da flora existentes em todo o mundo — e a maior parte delas está na Amazônia. A floresta de 4,2 milhões de quilômetros quadrados é habitada por centenas de milhares de plantas, animais, fungos, bactérias. Um refúgio de suas matas ou um braço de seus rios pode conter mais espécies do que continentes inteiros. As estimativas dos cientistas são de que só 10% das espécies existentes na Amazônia brasileira sejam conhecidas. Talvez menos. Ainda, assim, na escala amazônica, 10% já englobam números espantosos. Só de anfíbios são 250 espécies catalogadas, ante as 81 da Europa. Os mamíferos são 311, com mais de 20 espécies de macacos e 122 de morcegos. As abelhas são 3 mil; borboletas e lagartas, 1.800. Em uma única árvore da Amazônia já foram encontradas 95 espécies de formigas — dez a menos do que em toda a Alemanha.
[...]
(Adaptado de Herton Escobar. Amazônia. O Estado de S. Paulo, nov/dez 2007, p.30/31)
“As abelhas são 3 mil; borboletas e lagartas, 1.800. Em uma única árvore da Amazônia já foram encontradas 95 espécies de formigas — dez a menos do que em toda a Alemanha.”
Considere as afirmativas seguintes sobre os sinais de pontuação empregados no segmento transcrito.
I. A vírgula assinala a ausência do verbo na frase, cuja repetição é desnecessária, por ser o mesmo da frase anterior.
II. Uma vírgula pode ser empregada em substituição ao travessão, sem alterar o sentido original.
Está correto o que se afirma em
A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) I e II.
D) nenhuma afirmativa.
Resposta
Alternativa C
A vírgula assinala a elipse do verbo “são”. Além disso, o travessão poderia ser substituído por vírgula sem alteração de sentido.
Questão 2
(Vunesp – adaptado)
Assinale a alternativa correta quanto ao uso da pontuação.
A) Os motoristas, devem saber, que os carros podem ser uma extensão de nossa personalidade.
B) Os congestionamentos e o número de motoristas na rua, são as principais causas da ira de trânsito.
C) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e aumentar os níveis de estresse em alguns motoristas.
D) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, porque você está junto com os outros motoristas cujos comportamentos, são desconhecidos.
E) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas circunstâncias, ceder à frustração para que a raiva seja aliviada.
Resposta
Alternativa E
Na alternativa A, o uso das duas vírgulas é inadequado por separar sujeito, verbo e complemento; na alternativa B, o uso da vírgula é inadequado por separar sujeito e verbo; na alternativa C, o uso da vírgula é inadequado por separar verbo e complemento; na alternativa D, o uso da primeira vírgula é inadequado por separar verbo e complemento, e o uso da terceira vírgula também é inadequado por separar sujeito e verbo.
Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.
O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.
Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.
Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.
As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.