Apóstrofe

Por Warley Souza

A apóstrofe é uma figura de linguagem usada para chamar ou interpelar e é caracterizada pela emoção e pela ênfase.

Representação gráfica de um homem de terno chamando alguém em um grande megafone, uma alusão à apóstrofe, uma figura de linguagem.
A apóstrofe faz referência ao ato de chamar ou invocar.

Apóstrofe é uma figura de pensamento usada para chamar ou invocar. Ela é caracterizada pela emoção e ênfase. É, portanto, um tipo de vocativo, de caráter conotativo, usado, principalmente, em textos literários. Já o apóstrofo é um sinal gráfico [ ’ ] utilizado para indicar a exclusão de uma letra.

Leia também: Hipérbole — uma conhecida figura de pensamento que remete ao exagero

Resumo sobre apóstrofe

  • A apóstrofe é uma figura de pensamento e consiste em uma interpelação ou chamamento.

  • A apóstrofe é um vocativo de caráter emotivo ou enfático e possui caráter conotativo.

  • O apóstrofo é um sinal gráfico que indica a supressão de uma letra.

  • As outras figuras de pensamento são: hipérbole, litotes, eufemismo, ironia, prosopopeia, antítese, paradoxo, gradação.

  • Além das figuras de pensamento, outras figuras de linguagem são as figuras de palavras ou de semântica, de sintaxe ou de construção e de som ou de harmonia.

O que é apóstrofe?

Apóstrofe é uma figura de pensamento. Ela é caracterizada por uma pausa na fala ou na escrita, seguida de um chamamento ou invocação:

Não sou digno, ó divindade!, de seu perdão.
Vem, humanidade, pagar pelos seus crimes!
Eu quero te falar, ó Marta, sobre a crise climática.
Seus delitos, hipócritas!, não ficarão ocultos.

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Principais diferenças entre apóstrofe e vocativo

O vocativo é um chamamento ou invocação. Portanto, a apóstrofe é um tipo de vocativo. O vocativo é um termo independente e, por isso, não possui uma função sintática. É usado para chamar a atenção de um interlocutor. Já a apóstrofe é uma figura de linguagem e, por isso, possui aspecto conotativo.

Assim, a apóstrofe tem caráter emotivo, é mais expressiva ou enfática do que o simples vocativo, o qual apresenta aspecto denotativo. No enunciado a seguir, temos uma apóstrofe:

Não imaginei, ó Francisco!, que eras tão desprezível.

Já a frase abaixo, destituída de emotividade ou ênfase, apresenta apenas vocativo:

Francisco, não chegue tarde hoje à noite.

Para saber mais detalhes sobre o vocativo, clique aqui.

Principais diferenças entre apóstrofe e apóstrofo

As palavras “apóstrofe” e “apóstrofo” são parônimas, já que apresentam grafia e pronúncia semelhantes. Assim, possuem significados distintos. Enquanto apóstrofe é uma figura de linguagem, apóstrofo consiste em um sinal gráfico: [ ’ ].

A apóstrofe é um chamamento enfático:

Não queria, ó amiga, magoar-te tanto assim!

O apóstrofo é utilizado para indicar exclusão de letra:

  • de olhos — d’olhos.

  • de hora em diante — d’hora em diante.

  • esperança — esp’rança.

Apóstrofe na literatura

A apóstrofe é uma figura de linguagem recorrente na literatura, principalmente em estilos de época mais emotivos e menos realistas, como, por exemplo, o Romantismo e o Simbolismo.

Exemplos de apóstrofe na literatura

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
[…]

ABREU, Casimiro de. Meus oito anos. In: ABREU, Casimiro de. As primaveras. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2014.

Por uma espécie apenas de schopenhaurismo é que eu adoro-te, ó feio! e quereria bem rolar contigo nesse Nirvana de dúvida até à suprema aniquilação da morte, vendo surgir, como de lagos de quimeras, em estalagmites de neve, diante de mim, sombrios e álgidos, pesadelos de mulheres amadas; pálidas Ofélias, Margaridas loiras, Julietas tormentadas, visões, enfim, como nas tragédias de Macbeth ou a nevoenta Visão germânica do Graal. [...]

CRUZ E SOUSA. Psicologia do feio. In: PÉREZ, José (org.). Cruz e Sousa: prosa. São Paulo: Cultura, 1945.

Como a crisálida emergindo do ovo
Para que o campo flórido a concentre,
Assim, oh! Mãe, sujo de sangue, um novo
Ser, entre dores, te emergiu do ventre!
[...]

ANJOS, Augusto dos. Mater. In: ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. São Paulo: Martin Claret, 2002.

Figuras de linguagem

Tipos de figuras de linguagem

Figuras de palavras ou de semântica

Comparação, metáfora, metonímia, catacrese, perífrase ou antonomásia, sinestesia.

Figuras de pensamento

Hipérbole, litotes, eufemismo, ironia, prosopopeia, antítese, paradoxo ou oximoro, apóstrofe, gradação.

Figuras de sintaxe ou de construção

Elipse, zeugma, anáfora, pleonasmo, anacoluto, silepse, hipérbato, polissíndeto.

Figuras de som ou de harmonia

Aliteração, assonância, onomatopeia, paronomásia.

Para saber mais detalhes sobre as figuras de linguagem, clique aqui.

Exercícios resolvidos sobre apóstrofe

Leia o texto a seguir para responder à questões 1 e 2.

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...

CASTRO ALVES. O navio negreiro. In: CASTRO ALVES. Os escravos. Rio de Janeiro: Tipografia da Escola de Serafim José Alves, 1884.

Questão 1

Todos os versos abaixo apresentam uma apóstrofe, EXCETO:

A) “Senhor Deus dos desgraçados!”

B) “Dizei-me vós, Senhor Deus,”

C) “Tanto horror perante os céus?!...”

D) “Ó mar, por que não apagas”

E) “Astros! noites! tempestades!”

Resolução:

Alternativa C.

São apóstrofes: “Senhor Deus dos desgraçados”, “Senhor Deus”, “ó mar”, “astros”, “noites” e “tempestades”.

Questão 2

O verso que contém um apóstrofo está presente na alternativa:

A) “Se eu deliro... ou se é verdade”

B) “Co’a esponja de tuas vagas”

C) “Do teu manto este borrão?”

D) “Rolai das imensidades!”

E) “Varrei os mares, tufão!...”

Resolução:

Alternativa B.

No apóstrofo “co’a”, temos a supressão da letra “m”: “com a esponja”.

Fontes

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.

NICOLA, José de; INFANTE, Ulisses. Gramática contemporânea da língua portuguesa. 15. ed. São Paulo: Scipione, 1999.

SANTOS, Márcia Angélica dos. Aprenda análise sintática. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

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