Chamamos de referenciação as diversas formas de introdução, no texto, de novas entidades ou referentes.
Caro leitor, provavelmente você sabe que existem algumas técnicas que facilitam o processo de escrita e que são importantíssimas para a coesão textual. Podemos elencar alguns fatores que colaboram para uma escrita coesa e sucinta, livre de termos desnecessários e até mesmo de repetições. Muitas vezes redigimos um texto e, quando o relemos, observamos que fomos prolixos, repetitivos, e tais vícios prejudicam em muito a compreensão, tornando a leitura enfadonha. Um dos fatores que podem nos auxiliar no momento da construção de um texto é a referenciação. Você pode até mesmo nunca ter ouvido esse termo antes, mas certamente faz uso, de maneira intuitiva, na fala.
Possuímos um enorme material linguístico à nossa disposição que foi construído desde a mais tenra idade e, certamente, ao longo de nossas vidas, serão incorporados a ele novas palavras e expressões, oriundas de nossas interações linguísticas. Esse acervo será utilizado em diversos momentos, tanto na fala quanto na escrita. Recorremos a esse material linguístico frequentemente e dele extraímos o que queremos utilizar em um dado momento de nossas atividades discursivas. Sem refletirmos muito sobre o porquê de nossas escolhas, resgatamos cuidadosamente as palavras para sermos compreendidos tal qual esperamos, pois o uso de um vocábulo inapropriado pode gerar uma infinidade de significações, levando a uma interpretação errônea daquilo que queremos dizer. Vale ressaltar que a análise do discurso – ramo da linguística que se dedica ao estudo das intenções da fala e da escrita – mostra-nos quão complexas são as interações verbais e que nossas escolhas podem evidenciar nossas crenças, nossa cultura e nossa visão de mundo.
A referenciação faz parte do processo de organização global de um texto e, dentre esses processos, destacaremos aqueles que se dão por meio da anáfora e da catáfora. Resumidamente, podemos dizer que as anáforas dizem respeito ao resgate dos termos que foram previamente explicitados em um texto. Sobre as catáforas, podemos dizer que é uma referência feita sobre aquilo que ainda será exposto no texto, resultando, assim, em dois movimentos, respectivamente regressivo e progressivo. As anáforas e catáforas estão presentes em nosso discurso e ocorrem com uma frequência bem maior do que imaginamos. Acontecem em qualquer tipo de interação verbal, até mesmo nos eventos de fala mais corriqueiros. Não é preciso ser grande entendedor de Gramática para apropriar-se dos recursos que a Língua permite utilizar. Observe o exemplo abaixo:
Carolina acordou às cinco da manhã daquela segunda-feira e seguiu rumo à estação do metrô. A garota esperou durante vinte minutos e era aquilo que estava à sua espera: um vagão lotado, inexplicavelmente habitado por centenas de trabalhadores que se abarrotavam naquele lugar à procura de qualquer mínimo espaço.
Fazendo uma leitura cuidadosa do trecho acima, encontramos alguns exemplos que podem ilustrar os conceitos de anáfora e catáfora. O termo a garota faz referência a um termo expresso anteriormente, nesse caso, o substantivo próprio Carolina. Posteriormente, podemos observar outra anáfora, dessa vez o termo naquele lugar, que retoma o termo vagão lotado. Quanto à catáfora, ela está evidenciada pelo pronome aquilo, que fará referência a um termo ainda não expresso, que é representado pela expressão um vagão lotado.
Conhecendo esses dois elementos presentes no processo de referenciação, tenho certeza de que eles serão facilmente denotados não só nos textos que a partir de agora você redigirá, mas também em outras situações discursivas, como na fala. Considerando esses aspectos concernentes à coesão textual, poderemos fazer o uso correto dos elementos que garantem a construção de um texto sem erros, constituído por ideias claras e por uma sequenciação lógica de eventos, mesmo que esses não sejam lineares.
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