Referenciação
Chamamos de referenciação as diversas formas de introdução, no texto, de novas entidades ou referentes.
Por Luana Castro Alves Perez
Caro leitor, provavelmente você sabe que existem algumas técnicas que facilitam o processo de escrita e que são importantíssimas para a coesão textual. Podemos elencar alguns fatores que colaboram para uma escrita coesa e sucinta, livre de termos desnecessários e até mesmo de repetições. Muitas vezes redigimos um texto e, quando o relemos, observamos que fomos prolixos, repetitivos, e tais vícios prejudicam em muito a compreensão, tornando a leitura enfadonha. Um dos fatores que podem nos auxiliar no momento da construção de um texto é a referenciação. Você pode até mesmo nunca ter ouvido esse termo antes, mas certamente faz uso, de maneira intuitiva, na fala.
Possuímos um enorme material linguístico à nossa disposição que foi construído desde a mais tenra idade e, certamente, ao longo de nossas vidas, serão incorporados a ele novas palavras e expressões, oriundas de nossas interações linguísticas. Esse acervo será utilizado em diversos momentos, tanto na fala quanto na escrita. Recorremos a esse material linguístico frequentemente e dele extraímos o que queremos utilizar em um dado momento de nossas atividades discursivas. Sem refletirmos muito sobre o porquê de nossas escolhas, resgatamos cuidadosamente as palavras para sermos compreendidos tal qual esperamos, pois o uso de um vocábulo inapropriado pode gerar uma infinidade de significações, levando a uma interpretação errônea daquilo que queremos dizer. Vale ressaltar que a análise do discurso – ramo da linguística que se dedica ao estudo das intenções da fala e da escrita – mostra-nos quão complexas são as interações verbais e que nossas escolhas podem evidenciar nossas crenças, nossa cultura e nossa visão de mundo.
A referenciação faz parte do processo de organização global de um texto e, dentre esses processos, destacaremos aqueles que se dão por meio da anáfora e da catáfora. Resumidamente, podemos dizer que as anáforas dizem respeito ao resgate dos termos que foram previamente explicitados em um texto. Sobre as catáforas, podemos dizer que é uma referência feita sobre aquilo que ainda será exposto no texto, resultando, assim, em dois movimentos, respectivamente regressivo e progressivo. As anáforas e catáforas estão presentes em nosso discurso e ocorrem com uma frequência bem maior do que imaginamos. Acontecem em qualquer tipo de interação verbal, até mesmo nos eventos de fala mais corriqueiros. Não é preciso ser grande entendedor de Gramática para apropriar-se dos recursos que a Língua permite utilizar. Observe o exemplo abaixo:
Carolina acordou às cinco da manhã daquela segunda-feira e seguiu rumo à estação do metrô. A garota esperou durante vinte minutos e era aquilo que estava à sua espera: um vagão lotado, inexplicavelmente habitado por centenas de trabalhadores que se abarrotavam naquele lugar à procura de qualquer mínimo espaço.
Fazendo uma leitura cuidadosa do trecho acima, encontramos alguns exemplos que podem ilustrar os conceitos de anáfora e catáfora. O termo a garota faz referência a um termo expresso anteriormente, nesse caso, o substantivo próprio Carolina. Posteriormente, podemos observar outra anáfora, dessa vez o termo naquele lugar, que retoma o termo vagão lotado. Quanto à catáfora, ela está evidenciada pelo pronome aquilo, que fará referência a um termo ainda não expresso, que é representado pela expressão um vagão lotado.
Conhecendo esses dois elementos presentes no processo de referenciação, tenho certeza de que eles serão facilmente denotados não só nos textos que a partir de agora você redigirá, mas também em outras situações discursivas, como na fala. Considerando esses aspectos concernentes à coesão textual, poderemos fazer o uso correto dos elementos que garantem a construção de um texto sem erros, constituído por ideias claras e por uma sequenciação lógica de eventos, mesmo que esses não sejam lineares.
Aproveite para conferir nossa videoaula sobre o assunto: