Procurando viabilizar nossa apreensão no que tange ao estudo sobre a intertextualidade, iremos contextualizá-la às situações cotidianas. Vez ou outra, mediante as nossas relações sociais, fazemos referência a algo anteriormente mencionado por alguém, a um fato histórico, a uma propaganda retratada pela mídia e até mesmo a um acontecimento polêmico.
Até mesmo nos gestos, olhares, vestimentas, dentre outras atitudes, estamos de certa forma aludindo a um fato ou a alguém. O interessante é que, embora não relevante, tal procedimento tende a se conceber de forma tanto positiva quanto negativa. Sabe quando imitamos alguma atitude – abominável aos nossos olhos – referente a uma determinada pessoa? Eis aí um caso representativo.
A intertextualidade também se faz presente nas artes em geral, como por exemplo, nas canções, escultura, dança, pintura e na literatura, bem como nos provérbios, na linguagem dramática, cinematográfica, nas charges e cartuns ao retratar de modo contundente sobre assuntos relacionados à política, dentre outros exemplos.
Assim sendo, notamos que tais relações intertextuais se oriundam do diálogo estabelecido entre um texto ou entre uma situação e outra. E para enfatizarmos um pouco mais sobre a referida ocorrência, analisaremos as características de dois elementos que bem representam: a paráfrase e a paródia, ambos extremamente cultuados pelos representantes de nossas Letras.
A paráfrase, originária do grego para-phrasis (repetição de uma sentença), constitui-se na recriação textual, tendo como suporte um texto-fonte. Ao parafrasearmos um texto, estamos atribuindo-lhe uma nova “roupagem” discursiva, embora mantendo a mesma ideia contida no texto original. Vejamos:
Texto Original – Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
[...]
Gonçalves Dias
Paráfrase
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
[...]
Carlos Drummond de Andrade
Podemos notar que Carlos Drummond, pertencente à era Modernista, baseando-se na criação de Gonçalves Dias, nos apresenta outra versão, porém com o mesmo discurso poético.
A paródia, de forma tendenciosa, também pauta-se pela recriação de um texto, entretanto, utiliza-se de um caráter contestador voltado para a crítica, muitas vezes sob um tom jocoso. Como podemos constatar em:
MEUS OITO ANOS
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[...]
Casimiro de Abreu
MEUS OITO ANOS
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra!
Da rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
[...]
Oswald de Andrade
Aqui, percebemos que a intenção de Oswald de Andrade foi a de criticar o romantismo e o sentimento nacionalista revelados pelas palavras de Casimiro de Abreu. Mesmo porque o ideário modernista perfez-se por um repúdio aos moldes anteriormente adotados por outros artistas, principalmente àqueles que compuseram o Romantismo e o Parnasianismo.
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