Apesar do nome estranho, a paremiologia ocupa-se do estudo de um fenômeno linguístico muito utilizado pelos falantes da língua portuguesa.
Atire a primeira pedra quem nunca ouviu as seguintes frases:
Deus ajuda quem cedo madruga.
De cavalo dado, não se olha os dentes.
Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça.
Gato escaldado tem medo de água fria.
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Quem tem pressa come cru.
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Pode até ser que entre elas exista alguma que você desconheça, mas a verdade é que os ditados populares disseminam-se entre os falantes na velocidade da luz. Nem sempre eles são repetidos da mesma maneira, pois alterações de vocabulário — sem prejuízo de sentido — facilmente são encontradas. Outra situação curiosa acontece quando um provérbio é muito utilizado em uma determinada região do país e, no entanto, é absolutamente desconhecido em outra comunidade linguística. Ainda que existam diferenças, os ditados populares podem ser considerados uma unanimidade entre os falantes da língua portuguesa.
E por tratar-se de uma ocorrência linguística frequente, os adágios – outro sinônimo para os ditados populares – receberam a atenção de estudiosos da língua, que, por meio da Paremiologia, analisam essas ocorrências. A Paremiologia é, pois, a ciência que se dedica ao estudo dos provérbios, analisando-os sob o viés da linguística, da psicologia e da semiótica. Vale lembrar que os ditados populares não são exclusividade da língua portuguesa, mas é fato que os adágios por aqui encontrados são caracterizados pelo bom humor com que analisam a vida, o que os torna diferentes dos adágios registrados em outros idiomas.
Não pense você que os provérbios ficam restritos à coloquialidade: eles também costumam frequentar a Literatura. Muitos escritores fizeram uso desses elementos em suas obras, entre eles os geniais Machado de Assis, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. E como escritores geniais, é claro que eles não perderam a oportunidade de criar suas máximas. Veja alguns exemplos:
O dinheiro não traz felicidade — para quem não sabe o que fazer com ele. (Machado de Assis)
Lágrimas não são argumentos. (Machado de Assis)
Creia em si, mas não duvide sempre dos outros. (Machado de Assis)
Todo abismo é navegável a barquinhos de papel. (Guimarães Rosa)
A bonança nada tem a ver com a tempestade. (Guimarães Rosa)
Cara feia não bota ninguém para adiante. (Graciliano Ramos)
Todo caminho dá na venda. (Graciliano Ramos)
Papagaio come milho, periquito leva a fama. (Graciliano Ramos)
A Paremiologia é a comprovação de que os hábitos linguísticos dos falantes interessam bastante os estudiosos, que analisam os fraseologismos para compreender a mentalidade de um povo, bem como sua história, estados afetivos, crenças e costumes. Essas frases, cristalizadas entre os usuários da língua portuguesa, são espécies de pequenos discursos que condensam reflexões sobre o comportamento humano, sendo alvo de análise daqueles que se propõem a investigar a visão de mundo que eles refletem.