Interpretação de texto
A interpretação de texto é o processo de estabelecer relações e conclusões a respeito de um texto lido, considerando outros conhecimentos de mundo.
Por Talliandre Matos
A interpretação de texto é o processo de tecer relações e conclusões sobre um texto após realizar sua leitura. Ela depende do conhecimento de mundo do leitor, que utilizará suas próprias referências para tecer suas reflexões. Para realizar uma boa interpretação, é importante ler o texto atentamente e questionar, conectar e analisar as ideias apresentadas. A interpretação difere-se da compreensão textual, pois esta tem o propósito apenas de decodificar o texto, enquanto aquela pretende refletir sobre o que está posto. Nos processos seletivos, é recorrente o uso de questões de interpretação textual.
Legenda: Afinal, o que é texto?
Resumo sobre interpretação de texto
- A interpretação de texto é o processo de tecer conexões e conclusões após a leitura de um texto.
- Para realizar boas interpretações, é fundamental ler com atenção o texto, relacioná-lo com outros textos e outras ideias, para tecer conclusões.
- A interpretação textual é cobrada em diversos processos seletivos.
- No Enem, a interpretação textual auxilia na resolução de questões de todas as áreas do conhecimento.
- A interpretação e a compreensão textual se aproximam, mas referem-se a etapas diferentes da leitura.
- A compreensão é a decodificação da mensagem superficial do texto.
- A interpretação é o processo de reflexão sobre o texto, realizado com base no conhecimento de mundo do próprio leitor.
Como fazer interpretação de texto?
A interpretação de texto é o processo de tecer conexões e conclusões a partir de uma leitura realizada. Após o entendimento do conteúdo explícito do texto, o leitor pode estabelecer relações entre esse assunto e outros textos e temas, identificando pontos de aproximação ou contrariedade entre eles, por exemplo. Outro exemplo de interpretação é quando, após ler um texto informativo, o leitor chega a conclusões sobre o tema, a partir de dados, fatos e informações. Esses são alguns dos modos possíveis de interpretar um texto.
Para realizar uma boa interpretação de texto, portanto, é necessário:
- Ler atentamente o material, buscando identificar o tema central, os temas secundários, os pontos de vistas defendidos, as referências utilizadas, os dados compartilhados, etc.
- Pensar em outros textos e temas que se relacionam com o conteúdo lido, verificando se esses textos se confirmam, se contradizem ou se complementam.
- Questionar a que conclusões é possível chegar após essas análises, quais novos conhecimentos ou afirmações são possíveis após a leitura do texto.
Dicas infalíveis de interpretação de texto
- Leia muito: a leitura assídua ajuda em diferentes aspectos da interpretação, pois auxilia no desenvolvimento da própria atividade de leitura e análise textual e também acrescenta conhecimento de mundo, que pode ser fundamental para compreender e interpretar outros textos.
- Compare textos que possuem ideias diferentes: comparar textos que abordam o mesmo tema, mas a partir de posicionamentos diferentes, ajuda a apurar a leitura, permitindo que o leitor identifique as estratégias utilizadas por cada autor e, com isso, melhore sua capacidade interpretativa com outros textos também.
- Estabeleça relações de causa e de consequência: principalmente em textos argumentativos, verifique se é possível encontrar relações de causa e consequência entre os fatos, dados e conceitos apresentados, pois isso ajuda a desenvolver a habilidade de interpretação como processo de elaboração de conclusões a partir do texto.
- Questione as ideias do texto: faça o exercício de questionar o porquê das ideias apresentadas ou da estrutura utilizada no texto, a fim de elaborar hipóteses que permitam compreender o texto para além das informações superficiais.
Para conferir mais algumas dicas, clique aqui.
Interpretação de texto no Enem
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma prova de caráter interpretativo, pois, em vez de apenas solicitar a identificação pura e descontextualizada de conceitos, busca avaliar se o candidato consegue relacionar os diversos conhecimentos, com o auxílio dos textos que acompanham as questões, a fim de chegar a conclusões sobre aspectos estruturais, semânticos, conceituais e ideológicos dos temas. Portanto, é fundamental que o candidato tenha a habilidade de interpretação textual, para compreender o que se pede no enunciado e para mobilizar seus conhecimentos em prol de identificar a resposta correta.
Interpretação de texto x compreensão de texto
- Compreensão de texto: é a decodificação das ideias explícitas de um texto, ou seja, é a capacidade de identificar o tema central, o ponto de vista, ou o enredo da história, por exemplo. Por esse motivo, a compreensão textual tem um caráter objetivo, visto que investe no entendimento superficial do texto.
- Interpretação de texto: é o processo de aprofundamento da leitura, a qual estabelece conexões entre textos, estabelece conclusões sobre as informações apresentadas ou associa outros temas ao conteúdo lido. Sendo assim, a interpretação apresenta também o caráter subjetivo, visto que os caminhos percorridos pela interpretação dependem do repertório de conhecimento, gostos, objetivos e habilidades do leitor.
Exercícios resolvidos sobre interpretação de texto
Questão 1
(Enem)
Rebeca Andrade superou a si mesma, fazendo história. Aos 22 anos, entrou para o Olimpo da ginástica mundial, ostentando a medalha de prata no individual geral feminino e subindo ao topo do pódio olímpico na prova de salto. Sua caminhada começou graças a uma tia que viu seu talento e a apresentou à técnica de ginástica da cidade. Não demorou para que ganhasse o apelido de “Daiane dos Santos 2”. A atleta dá sequência a um legado iniciado por ginastas como Daniele Hypólito e Daiane dos Santos, respectivamente, primeira medalhista e primeira campeã em campeonatos mundiais. Rebeca tornou-se a primeira medalhista e campeã olímpica do Brasil na modalidade. Daiane afirmou que admira a jovem atleta, cuja vitória é permeada por simbolismos importantes. “Durante muito tempo disseram que as pessoas negras não podiam fazer alguns esportes, e a gente vê hoje a primeira medalha, de uma menina negra. Tem uma representatividade muito grande atrás de tudo isso”, falou. A ginasta Nádia Comaneci, dona da primeira nota 10 na ginástica, parabenizou a brasileira em suas redes.
Disponível em: https://brasil.elpais.com. Acesso em: 10 nov. 2021 (adaptado).
A relevância social da conquista de Rebeca Andrade na ginástica se traduz no(a)
A) continuidade de um legado iniciado por outras atletas.
B) reconhecimento por atletas ícones da modalidade.
C) ingresso no esporte por intermédio da família.
D) visibilidade étnico-racial no esporte.
E) medalha de ouro na modalidade.
Resolução:
Alternativa D.
O texto fala da trajetória de Rebeca Andrade, evidenciando toda a superação necessária para chegar ao esporte, e traz a fala da atleta Daiane dos Santos que pontua a vitória da garota como um símbolo da quebra de estereótipos, que, nesse caso, excluem as pessoas negras de determinados esportes. Sendo assim, a relevância da vitória de Rebeca destaca-se pela visibilidade étnico-racial no esporte.
Questão 2
(Enem)
Da calma e do silêncio
Quando eu morder a palavra, por favor, não me apressem, quero mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os ossos, o tutano do verbo, para assim versejar o âmago das coisas...
[...]
Quando meus pés abrandarem na marcha, por favor, não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar, deixem-me quieta, na aparente inércia.
Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra.
EVARISTO, C. Poemas de recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2021 (fragmento).
Na reflexão sobre motivos e soluções do trabalho com a palavra, o eu lírico defende que a poesia
A) reflete as limitações inerentes à sua matéria-prima.
B) é um produto relacionado ao sentimento de angústia.
C) exige o engajamento social para a sua plena realização.
D) requer um tempo próprio de amadurecimento e plenitude.
E) deve desvincular-se de questões de inspiração metafísica.
Resolução:
Alternativa D.
O eu lírico inicia o poema pedindo paciência quando ele “morder a palavra”, fazendo uma metáfora entre o degustar dos alimentos e a degustação dos sentidos, para evidenciar que é preciso paciência e tranquilidade para experimentar as possibilidades poéticas das palavras.
Questão 3
(Enem)
A sobrevivência dos pomeranos
Ocorrem no Brasil atual casos como o da língua falada pelos pomeranos, que imigraram para o Brasil devido à Segunda Guerra Mundial, e que conseguiu manter-se viva em pequenas comunidades do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo. Essa língua, em pleno uso e transmissão no Brasil, não é mais falada na Europa Central, sua região de origem. Após a guerra, a região onde ficava Pomerode foi incorporada à Polônia pela força do regime soviético. Quanto à etnia dos pomeranos, praticamente foi extinta e os sobreviventes dispersados pela Polônia. Mas a língua permanece viva no Brasil.
CASAL JR., M. Disponível em: http://desafios.ipea.gov.br. Acesso em: 30 out. 2021 (adaptado).
De acordo com esse texto, a língua falada pelos pomeranos
A) continua sendo transmitida em Pomerode, na Polônia.
B) permanece preservada em algumas regiões do Brasil.
C) apresenta características distintas no Brasil.
D) contribui para o isolamento da Polônia no Leste Europeu.
E) foi dispersada por ação do regime soviético.
Resolução:
Alternativa B.
O texto evidencia que, embora a língua permaneça viva em comunidades brasileiras, ela já não é mais falada em seu local de origem, devido aos conflitos e disputas de território.
Questão 4
(Enem)
O voluntário
Quem não sabe o efeito produzido à beira do rio pela notícia da declaração da guerra entre o Brasil e o Paraguai?
Nas classes mais favorecidas da fortuna, nas cidades principalmente, o entusiasmo foi grande e duradouro. Mas entre o povo miúdo o medo do recrutamento para voluntário da Pátria foi tão intenso que muitos tapuios se meteram pelas matas e pelas cabeceiras dos rios, e ali viveram como animais bravios sujeitos a toda a espécie de privações.
[...]
Coisa terrível que era então o recrutamento!
Esse meio violento de preencher os quadros do exército era ao tempo da guerra posto em prática com barbaridade e tirania, indignas dum povo que pretende foros de civilizado.
Suplícios tremendos eram infligidos aos que, fugindo a uma obrigação não compreendida, ousavam preferir a paz do trabalho e o sossego do lar à ventura de se deixarem cortar em postas na defesa das estâncias rio-grandenses e das aldeolas de Mato Grosso.
SOUZA, I. Contos amazônicos. Jundiaí: Cadernos do Mundo Inteiro, 2018 (fragmento).
Para descrever o modo como indígenas e ribeirinhos eram recrutados para lutarem como “voluntários da Pátria”, o texto de Inglês de Souza
A) enfatiza a capacidade de resiliência dos tapuios.
B) põe em evidência a brutalidade do alistamento compulsório.
C) ironiza a importância atribuída à guerra pelas elites da época.
D) relativiza a prevalência da disputa bélica sobre a natureza pacífica.
E) critica a incompreensão da população acerca das motivações do conflito.
Resolução:
Alternativa B.
Na segunda parte do trecho, o autor evidencia o caráter violento do recrutamento que obviamente não era voluntário. Souza utiliza palavras como “violento”, “barbaridade”, “tirania” e “suplícios tremendos” que auxiliam na caracterização da brutalidade. Além disso, a primeira parte do trecho retrata o desespero desses sujeitos que chegavam a se esconder para não serem forçados ao alistamento. Assim, ambas as informações contribuem para o entendimento do cenário de violência representado.
Questão 5
(Enem)
Nesse texto, ao combinar os gêneros anúncio e manchete de notícia, o autor pretende
A) destacar a variedade de informações divulgadas na mídia.
B) aproximar o leitor da realidade vivenciada pelas celebridades.
C) criticar a superficialidade de notícias em veículos de comunicação.
D) ilustrar a inclusão da população carente em campanhas publicitárias.
E) conscientizar o leitor acerca da responsabilidade social nos anúncios.
Resolução:
Alternativa C.
O texto combina elementos verbais, como a frase no papelão e abaixo da foto, com elementos não verbais, como a imagem do rapaz em situação de vulnerabilidade, evidenciado pelo cenário, pés descalços e o uso de papelão como veículo de transmissão da mensagem. Assim, por meio da contradição entre a relevância da imagem e a superficialidade da manchete no papelão, evidencia-se uma crítica à mídia e à divulgação de conteúdos supérfluos em detrimento de conteúdos relevantes.
Fonte
ABDON, Iaci de Nazaré Silva. Compreensão e produção de textos. Belém, EDUFPA, 2008 v.4, 160p. Disponível em: https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/203484/2/Compreens%C3%A3o%20e%20Produ%C3%A7%C3%A3o%20de%20Textos.pdf.