Entender o sentido expresso pelo discurso proferido requer, dentre outras habilidades, conhecimento linguístico e conhecimento acerca dos fatos que norteiam nossa vivência enquanto seres sociais. Habilidades estas que, por motivos diversos, não compõem de modo homogêneo o perfil dos interlocutores. Tal afirmativa aplica-se ao fato de que determinadas pessoas expressam uma notória dificuldade em apreender as ideias inerentes a um determinado texto.
A interpretação depreende-se de uma série de fatores nos quais a familiaridade estabelecida pelo contato assíduo com a leitura surge como fator preponderante. À medida que nos tornamos leitores praticantes, paulatinamente desenvolvemos nossa capacidade de desvendar o sentido estabelecido em meio às entrelinhas textuais.
A partir do momento em que aprimoramos tal capacidade, passamos a compreender que todo texto se revela por intermédio do diálogo estabelecido com outros textos, posto que a linguagem é concebida como um elemento de interação social, na qual o sentido polifônico (presente em muitas vozes do discurso) se perpetua e se materializa num verdadeiro entrelaçar de ideias, formando assim a tessitura textual.
Enfatizaremos aqui, de forma específica, as relações de sentido estabelecidas pelas palavras, característica também intrínseca às habilidades anteriormente mencionadas, e que também fazem parte desta arte de desvendar os elementos de natureza discursiva.
Representadas pela conotação e denotação, analisaremos cada uma delas de modo particular, conforme abaixo descrito:
O sentido denotativo das palavras é estabelecido pela relação de significado a que elas pertencem, ou seja, o sentido real, prescrito pelo dicionário. Vejamos um exemplo:
Significado de Tecer - v.t. Entrelaçar, segundo um modelo dado, os fios da urdidura (em comprimento) e os da trama (em largura), para fazer um tecido: tecer a lã, o algodão.
As grandes indústrias tecem seus produtos ao gosto da exigente clientela.
Inferimos que o sentido do verbo tecer expressa o sentido relacionado à fabricação do produto em referência. Trata-se de um excerto linguístico voltado para a objetividade, isento de marcas subjetivas que porventura pudessem conferir uma duplicidade de sentido.
Analisemos outro caso representativo:
Um galo sozinho
não tece uma manhã:
ele precisará sempre
de outros galos.
[...]
João Cabral de Melo Neto
Notamos que a linguagem se diverge do primeiro exemplo, visto que se trata de um fragmento poético. Mas será que o verbo tecer revela o mesmo sentido antes expresso?
Trata-se de uma linguagem conotativa, na qual são detectados traços de pessoalidade por parte do emissor (revelados pelo eu lírico do poema). O sentido aplica-se a um recurso linguístico proferido metaforicamente, em que o ato de tecer refere-se ao ato da capacidade criativa da escrita, em que sozinhos nunca nos tornamos emissores autênticos, estamos sempre nos reportando a uma determinada ideia antes proferida por alguém.
O sentido conotativo encontra-se presente nos textos literários de uma forma geral e na linguagem publicitária. Já os textos científicos, jornalísticos, informativos, dentre outros, primam-se por empregar uma linguagem denotativa, expressa em seu sentido literal.
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