Na linguística, a ambiguidade ou anfibologia ocorre quando um trecho, uma sentença ou uma expressão linguística apresentam mais de um entendimento possível, gerando problemas de interpretação no enunciado e dificuldades de comunicação. A ambiguidade é um problema muito comum e presente em diversas construções textuais e orais, estando muitas vezes relacionada à escolha do léxico (escolha das palavras) e à sintaxe (disposição das palavras) da sentença.
Ambiguidade como vício de linguagem
A ambiguidade é vista como um vício de linguagem, isto é, como um desvio das normas padrão estabelecidas para a língua portuguesa. Embora seja aceitável na linguagem lírica e poética, devido à maior liberdade criativa nesse tipo de escrita, a ambiguidade é um vício que deve ser evitado em textos jornalísticos, acadêmicos e, mesmo, durante a comunicação informal enquanto troca de informações objetivas e precisas, já que causa problemas na interpretação dessas informações.
Tipos de ambiguidade
A língua portuguesa apresenta alguns tipos específicos de ambiguidade que ocorrem devido à maneira como o próprio idioma estabelece-se. Vamos conhecer esses tipos vendo exemplos e maneiras de evitá-los.
Uso indevido de pronomes possessivos
Costuma ocorrer quando há mais de um sujeito na sentença e qualquer pronome possessivo ou termo que indique posse, não ficando claro a qual sujeito se estabelece a relação de posse. Exemplo:
Andréia pediu a Fabiano que pegasse sua mochila na sala.
A mochila era de Andréia ou de Fabiano? Para evitar esse tipo de ambiguidade, evite usar o pronome seu ou sua nesses casos e use dele ou dela:
Andréia pediu a Fabiano que pegasse a mochila dele/dela na sala.
Leia mais: A ambiguidade gerada pelo emprego inadequado dos pronomes possessivos
Colocação inadequada de palavras
Ocorre quando a sintaxe da frase prejudica o entendimento. Exemplo:
O garoto mal-humorado resmungou durante a prova.
O garoto é sempre mal-humorado ou estava mal-humorado apenas durante a prova? A posição em que se coloca o termo mal-humorado pode definir isso, além de outras construções dando maiores detalhes sobre o garoto (nesse caso, deixaremos o termo explicativo entre vírgulas):
• Mal-humorado, o garoto resmungou durante a prova.
• O garoto, sempre mal-humorado, resmungou durante a prova.
Uso de forma indistinta entre o pronome relativo e a conjunção integrante
Ocorre quando há uso indistinto de um termo que pode servir como pronome relativo (aquele que retoma um antecedente, representando-o no início de uma oração) ou como conjunção integrante (aquela que introduz orações substantivas) dependendo de onde ele é encaixado na frase. Exemplo:
A mãe avisou à filha que estava terminando o serviço.
Quem terminava o serviço: a mãe ou a filha? Novamente, é possível solucionar esse problema mudando a posição das orações.
• À filha, a mãe avisou que estava terminando o serviço.
• A mãe avisou à filha, que estava terminando o serviço.
Leia também: Que: conjunção integrante ou pronome relativo?
Uso indevido de formas nominais
Ocorre quando a ambiguidade aparece em contextos de uso de verbos na forma nominal (gerúndio, particípio ou infinitivo). Exemplo:
A garota viu o vizinho correndo.
Quem estava correndo: a garota ou o vizinho? Mudando a posição das orações, temos o seguinte:
- Correndo, a garota viu o vizinho.
- A garota viu o vizinho, que estava correndo.
Leia também: Emprego das formas nominais do verbo
Ambiguidade e polissemia
A polissemia diz respeito às palavras que apresentam mais de um significado, variando de acordo com o contexto. Assim, o gramático Evanildo Bechara define que a polissemia é um fato da língua, isto é, ela é uma ocorrência natural do nosso idioma. Embora possam estar relacionadas, a polissemia não deve ser confundida com a ambiguidade.
A palavra “pregar” pode corresponder a “pregar um sermão”, “pregar um prego” ou “preguear um tecido”. A palavra isolada pode gerar dúvidas quanto ao seu verdadeiro significado, porém, quando aplicada na sentença, o contexto não deixará dúvidas e o falante do idioma poderá identificar o que se quis dizer.
A palavra “ponto” é outro bom exemplo, podendo tratar-se de um ponto no espaço (em geometria), do ponto final que é um sinal de pontuação (em gramática), do ponto que é auxiliar de atores (no teatro) ou de um ponto de ônibus ou de táxi.
Leia também: Homonímia e polissemia
Exercícios resolvidos
Questão 1
(CEC - 2014)
A ambiguidade é um problema de construção na produção da mensagem. Ela se dá a partir de vários fatores.
Como você deve ter observado, o pronome “ela" pode ter vários referentes (pode ser “ambiguidade", “construção", “produção" ou “mensagem"), por isso, essa construção é considerada ambígua. Agora, analise as frases a seguir.
I. Atlético quebra invencibilidade do São Paulo em casa.
II. O deputado falou para os seus colegas que suas observações, quanto ao relatório apresentado, não deveriam ser revistas.
III. Policial atira em assaltante com arma de brinquedo em São Paulo.
Assinale a alternativa que contém um comentário INCORRETO sobre essas frases.
a) A frase I é ambígua e uma das possibilidades de reconstruí-la sem ambiguidade seria a seguinte: “Em casa, Atlético quebra invencibilidade do São Paulo".
b) A frase II é ambígua e uma das possibilidades de reconstruí-la sem ambiguidade seria a seguinte: “O deputado falou para os seus colegas que as observações dele, quanto ao relatório apresentado, não deveriam ser revistas".
c) A frase II é ambígua e uma das possibilidades de reconstruí-la sem ambiguidade seria a seguinte: “O deputado falou para os seus colegas que as observações deles, quanto ao relatório apresentado, não deveriam ser revistas.”
d) A frase III é ambígua e uma das possibilidades de reconstruí-la sem ambiguidade seria a seguinte: “Policial atira em assaltante que estava com arma de brinquedo”.
e) A frase III é ambígua e uma das possibilidades de reconstruí-la sem ambiguidade seria a seguinte: “Policial atira em assaltante portando uma arma de brinquedo”.
Solução
Alternativa e, pois a solução apresentada continua sendo ambígua. Quem portava a arma de brinquedo: o policial ou o assaltante?
Aproveite para conferir as nossas videoaulas relacionadas ao assunto: