Esteticamente, o poema também se compõe de elementos específicos
Mediante tal tríade, reportamo-nos a uma modalidade textual ora denominada de poética, estritamente inerente ao campo literário. Trata-se de características ligadas a questões de ordem estética, ou seja, a maneira pela qual o texto é disposto.
Caso fôssemos analisar, esteticamente, um texto redigido em prosa, ainda no âmbito da Literatura, logo teríamos os parágrafos como referencial. Todos articulados de uma forma coesa e harmoniosa, com vistas a proporcionar uma perfeita interação entre o discurso proferido e o interlocutor com o qual se compartilha. Entretanto, no caso da modalidade em questão, o assunto apresentado é disposto em forma de um conjunto de versos, todos distribuídos conforme a finalidade discursiva pretendida pelo autor, denominado de estrofe.
No tocante a fatores de ordem interna (essência discursiva), o texto escrito sob a forma prosaica tende a estabelecer uma certa linearidade na ideia apresentada, visto que se trata de uma trama ficcional onde os acontecimentos vão progressivamente se desenvolvendo. Diferentemente ocorre com a maioria dos poemas, pois o objetivo pauta-se pelo aflorar de sentimentos e emoções, todos regados a um instinto de total subjetividade.
Mas não priorizaremos aqui somente tais características, posto que nosso objetivo é verificar a maneira como elas, de forma teórica, se conceituam. Pois é o que veremos adiante, de modo a nos envolver ainda mais nesse universo contagiante de magia e encantamento... Que de forma magistral é representado pela arte poética! Sendo assim, compartilhemos a obra de Vinícius de Moraes:
Soneto de Fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.
Servimo-nos desse referencial para concretizarmos os objetivos propostos.
A priori, detectamos que se trata de várias linhas poéticas, assim representadas:
De tudo ao meu amor serei atento/ Quero vivê-lo em cada vão momento/ E assim, quando mais tarde me procure [...]
Tais excertos poéticos denominam-se versos.
Agora analisemos um conjunto no qual eles se encontram dispostos:
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Aplicamos a ele o conceito de estrofe, visto que se trata de um conjunto de versos.
E por fim vejamos que determinadas palavras, de modo específico, as últimas de cada verso, aparentam semelhança quanto à estrutura sonora:
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
Essa semelhança sonora denomina-se rimas. No exemplo acima, elas ainda recebem uma denominação própria de acordo com a maneira pela qual se encontram distribuídas, sendo chamadas de interpoladas. Podemos notar que rimam o seguintes pares de versos:
Quero vivê-lo em cada vão momento /Ao seu pesar ou seu contentamento – 1º e 4º
E em seu louvor hei de espalhar meu canto / E rir meu riso e derramar meu pranto – 2º e 3º.
Aproveite para conferir as nossas videoaulas relacionadas ao assunto: