Recursos sonoros do texto literário

Por Vânia Maria do Nascimento Duarte

No intuito de conferir maior expressividade ao texto literário, o poeta se utiliza de distintos recursos representados pelas figuras de linguagem, entre eles os sonoros.

Os recursos sonoros do texto literário são representados por algumas figuras de linguagem

Antes mesmo de adentrarmos o assunto que demarca esse nosso encontro, o próprio título parece nos antecipar pistas que nos levam a manifestar algumas noções previamente elencadas. Nele há um termo que abarca todos os pressupostos relevantes à temática em questão, o qual se define pelo vocábulo “recursos”.

Nesse sentido, em se tratando da linguagem literária, distintos são eles, visto que tal diversidade se aplica em virtude do caráter que se atribui à modalidade ora em evidência, ou seja, a plurissignificação. Assim, tendo em vista as intenções que o emissor (no caso, o artista de uma forma geral) pretende, almeja alcançar com o discurso que produz. No caso dos poemas, especificamente falando, torna-se ilimitado o uso de tais recursos que, em termos de materialidade poética, manifestam-se pelas figuras de linguagem, que nada mais são que todos os ornamentos que são aplicados ao trabalho com a própria palavra, cujo sentido é o de conferir ênfase a ela mesma.

Dessa forma, entre os muitos recursos, encontram-se aqueles voltados para o aspecto sonoro, os quais, quando bem utilizados, trabalham tão somente em prol da musicalidade, rimas, métrica e do ritmo propriamente dito. Entre eles, cabe-nos ressaltar acerca de alguns:

Assonância

Tal recurso define-se pela repetição de um mesmo fonema vocálico, como o que se manifesta nos versos de Manuel Bandeira, cuja criação tem como título A onda:

A onda

a onda anda

aonde anda

a onda?

a onda ainda

ainda onda

ainda anda

aonde?

aonde?

a onda a onda

A começar pela estética de tal criação, notamos que se trata de um poema bem ao gosto concreto - ainda que modernista-, justamente para enfatizar a forma com “a onda” se manifesta, ou seja, indo e vindo. Em se tratando dos recursos sonoros, há de constatar que por repetidas vezes os fonemas /a/ e /õ/ = (on), cujo intuito também não se destoa do efeito de sentido atribuído ao autor mediante o discurso em questão, isto é, simbolizar o próprio ritmo das ondas.

Aliteração

Trata-se, também, de uma repetição, mas desta vez com o fonema consonantal, como o que amplamente identificamos por meio dos versos de Manuel Bandeira, inerentes ao poema:

Canção do Vento e da Minha Vida

O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.

O vento varria as luzes
O vento varria as músicas,
O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De aromas, de estrelas, de cânticos.

O vento varria os sonhos
E varria as amizades...
O vento varria as mulheres...
E minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De afetos e de mulheres.

O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.

Inferências atestam que repetição do fonema /v/ corrobora para criar o efeito de sentido a que se propôs o poeta, ora demarcado pelo ato de varrer, tão simbólico que chega ao ponto de desenharmos em nossa mente a imagem da vassoura passeando por um canto e outro e levando consigo, “capturando” a sujeira depositada num canto qualquer.

Paronomásia

O posicionamento por tal figura consiste em aproximar palavras que se assemelham em virtude do som que produzem, mas que, no entanto, distinguem-se quanto ao significado que representam. Ilustrando-a, retomaremos o poema A onda, cujas manifestações assim se manifestam:

a onda anda

aonde anda

a onda?

a onda ainda

ainda onda

ainda anda

aonde?

aonde?

a onda a onda

Temos que as palavras onda, anda, aonde e ainda, ainda que semelhantes em termos sonoros, constituem-se de significados distintos.

Aproveite para conferir a nossa videoaula relacionada ao assunto:

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