Realismo

Realismo é um estilo de época do século XIX, de caráter antirromântico. Sua principal temática é o adultério. O primeiro romance realista foi Madame Bovary, de Flaubert.

Por Warley Souza

Casal de agricultores plantando sementes em uma pintura de Jean-François Millet, uma obra do realismo.

O realismo é um estilo de época do século XIX. A literatura realista surgiu na França com a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857. No Brasil, o realismo foi inaugurado por Machado de Assis, em 1881, com a publicação de seu romance Memórias póstumas de Brás Cubas.

A literatura realista apresenta caráter antirromântico, ausência de sentimentalismo, análise psicológica, crítica à burguesia, e o tema principal é o adultério. Nas artes plásticas, o foco das obras está sobre a classe operária e os camponeses, os quais viviam em péssimas condições devido à desigualdade social resultante da Revolução Industrial.

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Resumo sobre realismo

  • O realismo é um estilo de época do século XIX.
  • Esse estilo de época apresenta as seguintes características:
    • antirromantismo;
    • objetividade;
    • crítica à burguesia;
    • fluxo de consciência;
    • temática do adultério.
  • O estilo realista surgiu no contexto europeu da Revolução Industrial.
  • O romance francês Madame Bovary, de Gustave Flaubert, inaugurou o realismo europeu.
  • O romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, inaugurou o realismo brasileiro.

Videoaula sobre realismo

O que é realismo?

O realismo é um estilo de época que esteve em evidência no século XIX. Surgiu no contexto da Revolução Industrial e caracteriza-se pelo antirromantismo.

Características do realismo

→ Características do realismo na literatura

A literatura realista surgiu na Europa (com a publicação, em 1857, do romance francês Madame Bovary) e apresenta as seguintes características:

  • antirromantismo;
  • ausência de idealizações;
  • objetividade e racionalismo;
  • temas sociais;
  • crítica à burguesia;
  • fluxo de consciência;
  • análise psicológica;
  • temática do adultério;
  • foco na corrupção humana.

→ Características do realismo em outras artes

O pintor francês Gustave Courbet (1819-1877), por volta de 1855, introduziu a temática realista nas artes plásticas. Assim, as obras artísticas realistas apresentam estas características:

  • crítica sociopolítica;
  • realismo social;
  • foco na realidade de trabalhadores;
  • retrato de camponeses e operários;
  • ausência de emoção;
  • clareza e detalhamento.

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Contexto histórico do realismo

A Revolução Industrial é o marco histórico relacionado ao realismo. Em tal contexto, ficaram em evidência as péssimas condições de trabalho dos operários. Os problemas urbanos foram acentuados com a migração de camponeses para as cidades. O crescimento econômico beneficiava os mais ricos e mantinha os pobres em precárias condições de vida.

Com o aumento do número de habitantes nas grandes cidades europeias, aumentaram as doenças, a miséria e a prostituição. Duas ideologias políticas estavam em foco: o marxismo e o liberalismo. Diante de uma realidade tão dura e conflitante, a idealização romântica cedeu espaço para a objetividade realista.

Autores do realismo

→ Autores realistas no Brasil

O autor reconhecidamente realista da literatura brasileira é o escritor Machado de Assis (1839-1908). Os outros autores de sua época optaram pelo estilo naturalista. Apesar de o naturalismo apresentar uma visão realista da sociedade, ele apresenta outros elementos caracterizadores inexistentes no realismo de Machado de Assis ou do escritor francês Gustave Flaubert.

→ Autores realistas no mundo

Obras do realismo

→ Obras realistas no Brasil

Os principais romances realistas de Machado de Assis são:

  • Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)
  • Quincas Borba (1891)
  • Dom Casmurro (1899)

→ Obras realistas no mundo

  • Madame Bovary (1857), de Gustave Flaubert
  • Crime e castigo (1866), de Fiódor Dostoiévski
  • Middlemarch (1872), de George Eliot (Mary Ann Evans)
  • O primo Basílio (1878), de Eça de Queirós 
  • Marianela (1878), de Benito Pérez Galdós
  • O príncipe e o mendigo (1881), de Mark Twain
  • Pedro e João (1888), de Guy de Maupassant
  • Effi Briest (1895), de Theodor Fontane
  • O pai Goriot (1897), de Honoré de Balzac

Realismo no Brasil

Capa do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, publicado pela editora Moderna. A obra inaugurou o realismo no Brasil.[1]

Em 1881, Machado de Assis publicou seu romance Memórias póstumas de Brás Cubas e, dessa forma, inaugurou o realismo brasileiro. Sua obra realista é marcada pela ironia, diálogo com o leitor, ausência de sentimentalismo, análise psicológica, fluxo de consciência, crítica à burguesia e temática do adultério. É bom frisar que suas obras não apresentam nenhuma marca naturalista.

Desse modo, esse escritor carioca é o principal representante do realismo brasileiro. Os outros autores de sua época, como Aluísio Azevedo (1857-1913), Raul Pompeia (1863-1895) e Adolfo Caminha (1867-1897), optaram pelo estilo naturalista. Uma autora de destaque foi Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), cujas obras de caráter realista apresentam traços do naturalismo.

→ Videoaula sobre realismo no Brasil

Realismo, romantismo e naturalismo

ROMANTISMO

REALISMO

NATURALISMO

Amor idealizado, mulher idealizada, exagero sentimental, subjetividade, culto à liberdade, enaltecimento dos valores burgueses, valorização da religião.

Temática do adultério, crítica sociopolítica, ausência de sentimentalismo, objetividade, crítica à burguesia, antirromantismo.

Elementos realistas, determinismo, zoomorfização, cientificismo, evidenciação dos instintos em oposição à razão, caráter racista e homofóbico.

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Exercícios resolvidos sobre realismo

Questão 1 (USP)

Assim se explicam a minha estada debaixo da janela de Capitu e a passagem de um cavaleiro, um dandy, como então dizíamos. Montava um belo cavalo alazão, firme na sela, rédea na mão esquerda, a direita à cinta, botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara não me era desconhecida. Tinham passado outros, e ainda outros viriam atrás; todos iam às suas namoradas. Era uso do tempo namorar a cavalo. Relê Alencar: “Porque um estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de 1858) não pode estar sem estas duas coisas, um cavalo e uma namorada”. Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas poesias é destinada a contar (1851) que residia em Catumbi, e, para ver a namorada no Catete, alugara um cavalo por três mil-réis...

Machado de Assis. Dom Casmurro.

Considerando-se o excerto no contexto da obra a que pertence, pode-se afirmar corretamente que as referências a Alencar e a Álvares de Azevedo revelam que, em Dom Casmurro, Machado de Assis

A) expôs, embora tardiamente, o seu nacionalismo literário e sua consequente recusa de leituras estrangeiras.

B) negou ao Romantismo a capacidade de referir-se à realidade, tendo em vista o hábito romântico de tudo idealizar e exagerar.

C) recusou, finalmente, o Realismo, para começar o retorno às tradições românticas que irá caracterizar seus últimos romances.

D) declarou que o passado não tem relação com o presente e que, portanto, os escritores de outras épocas não mais merecem ser lidos.

E) utilizou, como em outras obras suas, elementos do legado de seus predecessores locais, alterando-lhes, entretanto, contexto e significado.

Resolução:

Alternativa E.

O autor cita seus predecessores, os autores românticos brasileiros José de Alencar e Álvares de Azevedo. Esses autores falam do costume de ir ver a namorada, a cavalo, em um contexto romântico. No entanto, Machado de Assis usa tal costume em um contexto distinto das obras românticas, já que o narrador Bentinho, já velho, rememora o passado, de forma a mostrar que os costumes românticos ficaram distantes do presente em que o narrador realiza seu relato.

Questão 2 (UFLA)

Referindo-se ao papel do leitor na leitura da obra literária, Machado de Assis comenta, no capítulo V, de Esaú e Jacó: “Há contradições explicáveis. Um bom autor, que inventasse a sua história ou prezasse a lógica aparente dos acontecimentos, levaria o casal Santos a pé ou em caleça de praça ou aluguel; mas eu, amigo, eu sei como as cousas se passaram, e refiro-as tais quais. Quando muito explico-as, com a condição de que tal costume não pegue. Explicações comem tempo e papel, demoram a ação e acabam por enfadar. O melhor é ler com atenção”.

Assim, deve-se entender que:

A) O leitor deve exigir do narrador clareza para a lógica dos acontecimentos.

B) O leitor deve buscar, no romance, as explicações para os fatos apresentados no texto.

C) O leitor é elemento ativo na leitura do romance, devendo imaginar uma relação entre os fatos.

D) O leitor é elemento secundário na leitura do romance, devendo seguir as informações do narrador.

Resolução:

Alternativa C.

Para o irônico narrador machadiano, o leitor é elemento ativo na leitura do romance. Quando ele diz para o leitor “ler com atenção”, sugere que ele precisa preencher as lacunas da história, já que: “Explicações comem tempo e papel, demoram a ação e acabam por enfadar”.a

Créditos da imagem

[1] Editora Moderna (reprodução)

Fontes

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.

PAIM, Ivana Soares. Por enxergar demais. A pintura de Hugo Adami. 2002. Dissertação (Mestrado em História da Arte) – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

TORAL, André A. No limbo acadêmico: comentários sobre a exposição “Almeida Júnior — um criador de imaginários”. ARS, São Paulo, v. 5, n. 10, 2007.

WANNER, Maria Celeste de Almeida. Índices de contemporaneidade nas artes visuais. In: WANNER, Maria Celeste de Almeida. Paisagens sígnicas: uma reflexão sobre as artes visuais contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2010.

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