O poema, materializado em diversos tipos de gêneros, resulta do trabalho especial que se faz com as palavras, no qual prevalece a função poética da linguagem.
Os poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechaso livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mário Quintana
Ao nos situarmos diante de tal criação, a definição de poema- alvo de nossa discussão- parece se perder em meio à grandiosidade e eloquência das palavras, em meio ao sentido simbólico que elas representam. Ora, simplesmente porque o poema, literalmente retratado na criação, caracteriza-se pela ideia expressa por Mário Quintana, ou seja, ele, utilizando-se de uma linguagem metafórica, descreve acerca dos pressupostos que norteiam a linguagem poética propriamente dita, como em:
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechaso livro, eles alçam voo
[...]
Ao comparar os poemas com os pássaros, sobretudo porque eles simbolizam a liberdade, atingem grandes alturas, enfim, de forma simbólica, o poeta faz alusão à capacidade imaginativa, à habilidade de criação advinda de quem se propõe ao trabalho de ourivesaria com as palavras¸ com a linguagem de uma forma geral. Em outro verso, Mário nos revela que:
Quando fechaso livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
Tais versos atestam que esse manuseio, por vezes, não se define como algo fácil, ao contrário, como os pássaros, a imaginação, o poder de criação pode alçar voo e se tornarem inatingíveis, não palpáveis. Daí a razão de se alimentarem em cada par de mãos, embora tão logo partam, pois a fruição para a escrita pode ser algo fugaz, por isso a importância de darmos vazão aos sentimentos e deixar que eles
falem por nós mesmos.
Posicionamentos como esses elucidam acerca do caráter subjetivo que permeia a linguagem poética, a linguagem literária de uma forma geral. Contudo, em se tratando dos aspectos estruturais, um poema, ao ser comparado com outras modalidades de texto, diverge-se pelo fato de não ser construído em forma de prosa, mas sim em forma de verso (afirmamos ser essa uma das particularidades básicas). Prosseguindo com as demais características, temos que, a começar pela finalidade discursiva, pela função que se atribui à linguagem poética, nela prevalece (como não poderia deixar de ser) o sentido conotativo, aquele voltado para a multiplicidade de interpretações, para a subjetividade, acima de tudo.
Se a modalidade em questão se define, como antes dito, pelo trabalho especial com a linguagem, não era de se estranhar que o emprego de determinados recursos tendem a incrementar, a dar maior vivacidade ao que se pretende dizer. Assim, outros aspectos, também não menos importantes, revelam, digamos assim, sua parcela de contribuição, sendo que esses, por sua vez, dizem respeito à métrica, rima, além de outros recursos ligados à sonoridade, tais como a paronomásia, aliteração, paralelismo, assonância, entre outros. Acerca deles, os textos “Recursos da linguagem poética” e “Recursos sonoros do texto literário” trazem a você, em primeira mão, importantes elucidações que poderão complementar ainda mais as noções aqui expostas, aprimorando de forma efetiva o seu aprendizado.