O poeta Arnaldo Antunes contribui para as riquezas da poesia concreta na literatura brasileira contemporânea.
Arnaldo Antunes, nascido em 02 de setembro de 1960, viveu uma infância marcada pelo golpe militar de 64, o movimento contracultura e o surgimento do tropicalismo. Inicialmente, durante a caminhada entre a infância e a vida adulta, interessou-se pelo curso de Letras, o qual cursou na Universidade de São Paulo, mas não concluiu. Foi como cantor, com a banda Titãs, que Arnaldo se tornou conhecido nacionalmente, em 1984, com o lançamento do primeiro disco.
Em 1992 decidiu seguir carreira solo e se dedicou a algumas parcerias de sucesso, como os Tribalistas, com Marisa Monte e Carlinhos Brown.
Foi nesse novo caminho que Arnaldo Antunes se tornou conhecido por seus outros desempenhos extraordinários: poeta e artista visual. Como compositor é possível notar que as letras de Arnaldo exigem nossa atenção de forma peculiar.
Se ele se destaca com suas músicas, imagine as outras manifestações artísticas desse autor multimídia!
O poeta Arnaldo Antunes
Antunes tem uma escrita poética não dramatizada que consiste em agir sobre a realidade, em vez de se limitar a lamentar sobre a vida. Essa atitude se faz pela linguagem, não só verbal, transgredindo as questões sintáticas e criando combinações raras.
Esse estilo de produção criativa tem como influência o concretismo paulista dos anos de 1950 e esse tipo de poesia é conhecido como poesia concreta.
Façamos um breve apanhado sobre o que define esse tipo de poema:
→ Poesia concreta
Em 1952, a poesia concreta teve início com o movimento de vanguarda europeia. No Brasil, instaurou-se em 1956 com a “Exposição Nacional de Arte Concreta”, ocorrida em São Paulo, os autores destaques desse movimento são Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos.
A intenção desses escritores era de propor uma nova linguagem literária, um estilo em que criar um poema era explorar todo e qualquer recurso da linguagem: aspectos gráficos e sonoros das palavras, imagens etc. A poesia concreta se consagrou como visual e não tradicional.
As características marcantes desses poemas são:
- o verso não é obrigação para que o texto seja um poema;
- os espaços em branco da página contribuirão para o sentido do poema;
- aspectos visuais, semânticos e sonoros das palavras são explorados;
- alteração na estrutura das palavras;
- possibilita múltiplas leituras.
O primeiro livro comercial de Antunes, Psia, publicado em 1986, já revela a influência do concretismo na criação literária do autor. Vejam a apresentação do livro escrita por ele:
Psia é feminino
de psiu;
que serve para chamar a atenção
de alguém, ou para pedir
silêncio.
Eu berro as palavras
no microfone
da mesma maneira com que
as desenho, com cuidado,
na página.
Para transformá-las em coisas,
em vez de substituírem
as coisas,
Calos na língua; de calar.
Alguma coisa entre a piscina e a pia.
Um hiato a menos.
Arnaldo Antunes, 1986
Acompanhe algumas produções mais recentes e inusitadas:
É possível, após algumas leituras, demonstrar a pluralidade das combinações entre imagem e palavra que há nas obras de Arnaldo Antunes. Esses recursos utilizados pelo autor inovam a linguagem a partir de processos empíricos com a língua e suas variantes.
A diversidade na arte de Antunes não configura falta de estilo ou ausência de processo criativo, na verdade, revela uma singularidade resultante do diálogo entre recursos, tendências e modos de expressão variados.