Conto fantástico

Por Warley Souza

O conto fantástico apresenta elementos surreais. Edgar Allan Poe é o mais famoso autor da literatura fantástica. No Brasil, o principal representante é Murilo Rubião.

O conto fantástico traz elementos surreais.

Conto fantástico é uma narrativa curta marcada pela presença de elementos sobrenaturais, ou seja, que não possuem uma explicação racional. A literatura fantástica engloba também novelas, romances e até poemas. São autores desse tipo de conto, por exemplo, os escritores Edgar Allan Poe, Gabriel García Márquez, Machado de Assis e Murilo Rubião.

Leia também: Realismo fantástico — as narrativas que misturam elementos da ordem do sobrenatural

Resumo sobre conto fantástico

  • O conto é uma narrativa curta e possui personagens, ações, tempo e espaço.

  • O conto fantástico apresenta elementos sobrenaturais, surreais ou mitológicos.

  • O estado-unidense Edgar Allan Poe é um dos principais autores desse tipo de conto.

  • No Brasil, José J. Veiga e Murilo Rubião se destacam na literatura fantástica.

Videoaula sobre conto fantástico

O que é um conto?

Um conto é uma narrativa curta, assim, ele se diferencia da novela e do romance. Afinal, o romance é uma narrativa longa, enquanto a novela possui tamanho intermediário entre um conto e um romance. No conto, portanto, a trama é mais condensada, de forma a atingir logo o clímax e a conclusão da história.

Como qualquer narrativa, o conto é composto por personagens e ações por eles realizadas. A história se passa em determinado tempo e lugar. Uma narrativa também apresenta um narrador. Desse modo, o conto pode ter um narrador personagem, um narrador onisciente ou um narrador observador.

Literatura fantástica

A literatura fantástica é composta por obras que possuem elementos surreais, sobrenaturais, impossíveis de ocorrer na vida real, pois contrariam os fenômenos naturais. Assim, tanto acontecimentos quanto personagens dessas obras podem apresentar essas características.

Nessa categoria de literatura, estão inseridos contos, novelas, romances e até mesmo poemas que possuem os aspectos mencionados. Possivelmente, esse tipo de literatura surgiu entre os séculos XVIII e XIX. Algumas histórias infantis e juvenis que extrapolam a realidade, bem como histórias de terror, fazem parte da literatura fantástica.

Quais são as características do conto fantástico?

Edgar Allan Poe é um conhecido autor de contos fantásticos.

O conto fantástico é uma história curta que apresenta estas características:

  • elementos sobrenaturais;

  • fatos sem explicação racional;

  • personagens mitológicos;

  • fenômenos surreais;

  • nonsense.

Esse tipo de conto é capaz de surpreender, assustar e emocionar. Contudo, o fantástico também pode ser usado para nos fazer refletir sobre questões sociais, culturais e políticas. Portanto, ele não serve apenas para entreter mas também pode ser um veículo de crítica e reflexão.

Leia também: Franz Kafka — autor muito conhecido pelo teor fantástico em suas obras

Autores de conto fantástico no mundo

AUTOR

CONTO

ANO

Irmãos Grimm

(alemães)

O príncipe sapo

1812

Hans Christian Andersen

(dinamarquês)

A pequena sereia

1837

Edgar Allan Poe

(estado-unidense)

Ligeia

1838

Oscar Wilde

(irlandês)

O fantasma de Canterville

1887

W. W. Jacobs

(inglês)

A mão do macaco

1902

F. Scott Fitzgerald

(estado-unidense)

O curioso caso de Benjamin Button

1922

Russel Maloney

(estado-unidense)

Lógica inflexível

1940

Jorge Luis Borges

(argentino)

O outro

1975

Gabriel García Márquez

(colombiano)

Maria dos Prazeres

1979

Autores de conto fantástico no Brasil

AUTOR

CONTO

ANO

Machado de Assis

O País das Quimeras

1862

Monteiro Lobato

A vingança da peroba

1918

Humberto de Campos

Os olhos que comiam carne

1932

Lygia Fagundes Telles

O encontro

1958

José J. Veiga

Os cavalinhos de Platiplanto

1959

Clarice Lispector

Miss Algrave

1974

Murilo Rubião

O pirotécnico Zacarias

1974

Exemplo de conto fantástico

A seguir, vamos ler um trecho do conto “A Lua”, de Murilo Rubião. No final desse conto, seu caráter fantástico nos surpreende:

Nem luz, nem luar. O céu e as ruas permaneciam escuros, prejudicando, de certo modo, os meus desígnios. Sólida, porém, era a minha paciência e eu nada fazia senão vigiar os passos de Cris. Todas as noites, após o jantar, esperava-o encostado ao muro da sua residência, despreocupado em esconder-me ou tomar qualquer precaução para fugir aos seus olhos, pois nunca se inquietava com o que poderia estar se passando em torno dele. A profunda escuridão que nos cercava e a rapidez com que, ao sair de casa, ganhava o passeio jamais me permitiram ver-lhe a fisionomia. Resoluto, avançava pela calçada, como se tivesse um lugar certo para ir. Pouco a pouco, os seus movimentos tornavam-se lentos e indecisos, desmentindo-lhe a determinação anterior. Acompanhava-o com dificuldade. Sombras maliciosas e traiçoeiras vinham a meu encontro, forçando-me a enervantes recuos. O invisível andava pelas minhas mãos, enquanto Cris, sereno e desembaraçado, locomovia-se facilmente. Não parasse ele repetidas vezes, impossível seria a minha tarefa. Quando vislumbrava seu vulto, depois de tê-lo perdido por momentos, encontrava-o agachado, enchendo os bolsos internos com coisas impossíveis de serem distinguidas de longe.

[...]

Alguns meses decorridos, os seus passeios obedeciam ainda a uma regularidade constante. Sim, invariável era o trajeto seguido por Cris, não obstante a aparente falta de rumo com que caminhava. Partindo da sua casa, descia dez quarteirões em frente, virando na segunda avenida do percurso. Dali andava pequeno trecho, enveredando imediatamente por uma rua tortuosa e estreita. Quinze minutos depois atingia a zona suburbana da cidade, onde os prédios eram raros e sujos. Somente estacava ao deparar uma casa de armarinho, em cuja vitrina, forrada de papel crepom, se encontrava permanentemente exposta uma pobre boneca. Tinha os olhos azuis, um sorriso de massa.

[...]

Nesse dia, o andar firme, seguiu em linha reta, evitando as ruas transversais, pelas quais passava sem se deter. Atravessou o centro urbano, deixou para trás a avenida em que se localizava o comércio atacadista. Apenas se demorou uma vez — assim mesmo momentaneamente — defronte a um cinema, no qual meninos de outros tempos assistiam a filmes em série. Fez menção de comprar entrada, o que deveras me alarmou. Contudo, sua indecisão foi breve e prosseguiu a caminhada. Enfiou-se pela rua do meretrício, parando a espaços, diante dos portões, espiando pelas janelas, quase todas muito próximas do solo.

Em frente a uma casa baixa, a única da cidade que aparecia iluminada, estacionou hesitante. Tive a intuição de que aquele seria o instante preciso, pois se Cris retrocedesse, não lograria outra oportunidade. Corri para seu lado e, sacando do punhal, mergulhei-o nas suas costas. Sem um gemido e o mais leve estertor, caiu no chão. Do seu corpo magro saiu a lua. Uma meretriz que passava, talvez movida por impensado gesto, agarrou-a nas mãos, enquanto uma garoa de prata cobria as roupas do morto. A mulher, vendo o que sustinha entre os dedos, se desfez num pranto convulsivo. Abandonando a lua, que foi varando o espaço, ela escondeu a face no meu ombro. Afastei-a de mim, e, abaixando-me, contemplei o rosto de Cris. Um rosto infantil, os olhos azuis. O sorriso de massa.

RUBIÃO, Murilo. A Lua. In: ______. Obra completa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Exercícios resolvidos sobre conto fantástico

Questão 01

[...]

Vovô tirou os óculos, assentou-os no nariz e começou a fazer um exame demorado de meu pé. Olhou-o por cima, por baixo, de lado, apalpou-o e perguntou se doía. Naturalmente eu não ia dizer que não, e até ainda dei uns gemidos calculados. Ele tirou os óculos, fez uma cara muito séria e disse:

— É exagero deles. Não é preciso cortar nada. Basta lancetar.

[...]

Não sei se foi nesse dia mesmo, ou poucos dias depois, eu fui sozinho numa fazenda nova e muito imponente, de um senhor que tratavam de major. A gente chegava lá indo por uma ponte, mas não era ponte de atravessar, era de subir. [...]

Colocou novamente o bandolim em posição, agora sem medo nenhum, e tirou uma música diferente, vivazinha, que me ergueu do chão e num instante me levou para o outro lado do morro. Quando a música parou eu baixei diante de uma cancela novinha, ainda cheirando a oficina de carpinteiro.

— Estão esperando você — disse um moço fardado que abriu a cancela. — O major já está nervoso.

O major — um senhor corado, de botas e chapéu grande — estava andando para lá e para cá na varanda. Quando me viu chegando, jogou o cigarro fora e correu para receber-me.

[...]

VEIGA, José J. Os cavalinhos de Platiplanto. In: ______. Os cavalinhos de Platiplanto. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

O trecho do conto de José J. Veiga que apresenta caráter fantástico é:

a) “Vovô tirou os óculos, assentou-os no nariz e começou a fazer um exame demorado de meu pé.”

b) “Olhou-o por cima, por baixo, de lado, apalpou-o e perguntou se doía. Naturalmente eu não ia dizer que não, e até ainda dei uns gemidos calculados.”

c) “Não sei se foi nesse dia mesmo, ou poucos dias depois, eu fui sozinho numa fazenda nova e muito imponente, de um senhor que tratavam de major.”

d) “Colocou novamente o bandolim em posição, agora sem medo nenhum, e tirou uma música diferente, vivazinha, que me ergueu do chão e num instante me levou para o outro lado do morro.”

e) “O major — um senhor corado, de botas e chapéu grande — estava andando para lá e para cá na varanda.”

Resolução:

Alternativa “d”

O fato de o menino se erguer do chão, por causa de uma música, é um elemento fantástico do conto de José J. Veiga.

Questão 02

[...]

Pois, além de nós, havia outra pessoa na sala — o jovem Zoilo. Morto, deitado de comprido, ali jazia amortalhado — o gênio e o demônio da cena. Mas, ai, não participava de nossa alegria, salvo pela face, retorcida pela doença, e pelos olhos, nos quais a morte extinguira apenas a meio o fogo da pestilência, e que pareciam, face e olhos, ter por nossa diversão o mesmo interesse que têm os mortos pelas diversões dos prestes a morrer. Embora eu, Oinos, percebesse estarem os olhos do cadáver fixos em mim, ainda assim tentava ignorar-lhes a amargura e, contemplando firmemente as profundezas do espelho de ébano, cantava em voz alta e sonora as canções do filho de Teios. Aos poucos, porém, acabaram-se minhas canções, e os ecos, perdendo-se por entre os negros reposteiros da sala, enfraqueceram, tornaram-se indistintos, calaram-se de todo. Mas, ai, dos mesmos reposteiros por onde se perderam os ecos das canções, emergiu uma sombra escura e indefinível — a mesma sombra que a lua, quando baixa nos céus, desenharia de um homem sobre o chão. Aquela, porém, não era sombra de homem, nem de Deus, nem de coisa alguma conhecida. Tremulando um instante nos reposteiros do quarto, estendeu-se em seguida sobre a superfície da porta de bronze. Mas a sombra era vaga, e sem forma, e indefinida, não era sombra de homem nem de Deus — nem do Deus da Grécia, nem do Deus da Caldeia, nem de qualquer Deus egípcio. E a sombra jazia sobre o brônzeo portal, sob a cornija arqueada, e não se movia, nem dizia palavra: permanecia imóvel e muda. E a porta sobre a qual jazia a sombra, se bem me lembro, estava encostada aos pés do jovem Zoilo amortalhado. E nós, os sete ali reunidos, tendo visto a sombra sair de entre os reposteiros, não ousávamos encará-la; desviávamos os olhos, mirávamos fixamente as profundezas do espelho de ébano. Por fim, eu, Oinos, articulando algumas palavras surdas, indaguei da sombra qual era seu nome e morada. E a sombra respondeu:

— Eu sou a sombra. Minha morada fica perto das catacumbas de Ptolemais, junto daquelas sombrias planícies de Helusion que bordejam o canal sujo de Caronte.

E então nós, os sete, erguemo-nos de nossas cadeiras, horrorizados, trêmulos, enregelados, espavoridos. Porque o tom de voz da sombra não era o tom de voz de nenhum ser individual, mas de uma multidão de seres, e, variando de cadência, de sílaba para sílaba, ecoou confusamente aos nossos ouvidos, com os acentos familiares e inesquecíveis das vozes de milhares de amigos mortos.

POE, Edgar Allan. Sombra: uma parábola. In: ______. Histórias extraordinárias. Tradução de José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Ao ler o fragmento acima, percebemos que o conto de Edgar Allan Poe é fantástico. Isso porque sobressai, no texto:

a) o aspecto sobrenatural

b) o caráter idealizador

c) a beleza da fantasia

d) a crítica social

e) o lirismo poético

Resolução:

Alternativa “a”

O conto do escritor Edgar Allan Poe é uma história de terror, portanto, nele sobressai o aspecto sobrenatural relacionado à misteriosa sombra.

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Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.

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O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.

Adjunto adverbial

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Falsos sinônimos

Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.

Palavras aportuguesadas

As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.

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