Modernismo no Brasil

Por Luiza Pezzotti Pugles

O modernismo foi uma escola literária que começou em 1922 e procurou revolucionar toda a área artística questionando dos dogmas das escolas anteriores.

Projeção de obras de arte em fachada de prédio em São Paulo em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna.

O modernismo no Brasil foi uma escola literária do início do século XX que teve como marco inicial a Semana de Arte de 1922. Os autores desse movimento questionavam o fazer artístico e a criação de uma arte realmente brasileira, indo contra a colocação de regras, como faziam os parnasianos, que focaram mais na forma de construção dos textos, e não no conteúdo crítico ou nas relações com a sociedade.

Ele foi dividido em três fases ou “gerações”, e suas principais características foram: nacionalismo, liberdade de forma e de tema, crítica social e retomada do passado brasileiro (principalmente das influências europeias em sua história). Além da literatura, o movimento também esteve presente nas artes visuais, principalmente na pintura.

Leia também: O modernismo em Portugal — particularidades, autores, fases

Resumo sobre o modernismo no Brasil

  • O marco inicial do modernismo foi a Semana de Artes de 1922.
  • Foi idealizado pelo que viria a ser o Grupo dos Cinco, central no desenvolvimento modernista e composto por Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.
  • Essa escola revolucionou a literatura brasileira por questionar toda a forma de produção artística pré-existente.
  • Suas principais características incluíam nacionalismo, liberdade de forma e tema e crítica social.
  • Foi contra o parnasianismo e a colocação de regras na arte.
  • Criticou o eruditismo de escolas anteriores.
  • Foi dividida em três fases: primeira geração ou fase heroica (1922-1930), segunda geração ou geração de 30 (1930-1945), e terceira geração ou geração de 45 (começou em 1945, mas não há um consenso sobre seu fim).

História do modernismo brasileiro

O chamado Grupo dos Cinco teve papel central na primeira fase do modernismo brasileiro.[2]

O movimento modernista foi um dos poucos que tiveram uma data de nascimento bem específica: ele se iniciou na Semana de Artes de 1922 ou Semana de Arte Moderna, que foram os três dias de apresentações de poesias, textos, pinturas e outras artes no Theatro Municipal de São Paulo (assim, os precursores do movimento são chamados de pré-modernistas).

A Semana foi uma reunião dos principais artistas da época, e seu objetivo era um novo projeto de arte que fosse muito mais nacionalista e contra a antiga escola, o parnasianismo (fim do século XIX). Os parnasianos foram escritores e, principalmente, poetas que tinham a “perfeição” como objetivo, valorizando formas clássicas e extremamente rigorosas.

Além disso, o evento sofreu grande influência das vanguardas europeias, uma série de estilos que também buscavam uma revolução artística, e de temáticas modernas que contemplavam o momento sócio-histórico.

Assim, os modernistas buscaram liberdade formal e artística com temáticas inspiradas no Brasil. Em um primeiro momento, foram muito vaiados e criticados pelos intelectuais mais conservadores, mas o movimento ganhou seu espaço e dominou-o até o fim do século XX.

Principais características do modernismo no Brasil

  • Liberdade formal
  • Nacionalismo
  • Crítica social, histórica e literária
  • Contra sentimentalismo e idealização
  • Influência em todos os tipos de arte
  • Revisão do passado e da cultura brasileiros
  • Linguagem coloquial
  • Humor e ironia
  • Experimentalismo

Fases do modernismo no Brasil

  1. Primeira geração: fase heroica (1922-1930)

A grande marca da primeira geração modernista foi a Semana de 22, com suas apresentações de diversos tipos de arte que chocaram os intelectuais da época. Seus participantes buscaram questionar os dogmas de produções anteriores e achar uma estética realmente brasileira.

  • Características da primeira geração do modernismo brasileiro

    • Nacionalistas
    • Revisão do passado e da cultura brasileiros
    • Ironia e sarcasmo
    • Críticas sociais
    • Linguagem coloquial
    • Uso de versos livres (sem métrica) e brancos (sem rima)
    • Regionalismo
  • Principais autores da primeira geração do modernismo brasileiro

    • Grupo dos Cinco (Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral)
    • Di Cavalcanti
    • Graça Aranha
    • Manuel Bandeira
    • Plínio Salgado
  • Principais obras da primeira geração do modernismo brasileiro

    • Memórias sentimentais de João Miramar (1924) e Pau-brasil (1925) - Oswald de Andrade
    • Pauliceia desvairada (1922) e Macunaíma (1928) - Mário de Andrade
    • Libertinagem (1930) - Manuel Bandeira

Além dos textos literários, a primeira geração foi marcada por diversos manifestos, característicos de um início de movimento, pois expressam suas características e objetivos. Os principais foram:

    • Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924-1925) - Oswald de Andrade
    • Movimento Antropofágico (1928-1929) - Antônio de Alcântara Machado e Oswald de Andrade
    • Verde-Amarelismo ou Escola da Anta (1916-1929) - Plínio Salgado

Ademais, com o foco da divulgação literária centrado na mídia, diversas revistas foram criadas, especialmente a Revista Klaxon (1922-1923) e a Revista de Antropofagia (1928-1929).  Para saber mais sobre a primeira fase modernista no Brasil, clique aqui.

  1. Segunda geração: geração de 30 (1930-1945)

            Nesse momento, os ideais modernistas já estavam muito mais consolidados e não havia mais tamanho teor revolucionário. Assim, essa fase ficou conhecida como fase de consolidação.

  • Características da segunda geração do modernismo brasileiro

    • Nacionalismo
    • Valorização da cultura
    • Linguagem coloquial
    • Uso de versos livres (sem métrica) e brancos (sem rima)
    • Regionalismo e universalismo
    • Influência da psicanálise
    • Temáticas mais abstratas e abrangentes
  • Principais autores da segunda geração do modernismo brasileiro

    • Carlos Drummond de Andrade
    • Cecilia Meireles
    • Vinicius de Moraes
    • Graciliano Ramos
    • Jorge Amado
    • Raquel de Queiroz
    • Murilo Mendes
    • Jorge de Lima
    • Mario Quintana
  • Principais obras da segunda geração do modernismo brasileiro

    • Alguma poesia (1930) e A rosa do povo (1945) - Carlos Drummond de Andrade
    • Novos poemas (1938) - Vinicius de Moraes
    • Romanceiro da Inconfidência (1953) - Cecília Meireles
    • Vidas secas (1938), São Bernardo (1934) e Angústia (1936) - Graciliano Ramos
    • Capitães da Areia (1937) - Jorge Amado
    • O Quinze (1930) - Rachel de Queiroz

Para saber mais sobre a segunda fase modernista, clique aqui.

  1. Terceira geração: geração de 45

            A terceira geração teve características muito diferentes das outras, o que faz com que sua data de término não seja exata (1960, 1978 ou até o presente) e que seja até chamada de pós-modernista. Há um retorno a certos aspectos anteriores ao modernismo, e seus escritores podem ser chamados de neoparnasianos. 

  • Características da terceira geração do modernismo brasileiro

    • Influência do parnasianismo e simbolismo
    • Volta do rigor formal, oposição à liberdade
    • Preocupação com a construção dos textos, principalmente poéticos
    • Valorização do ritmo, rima e métrica
    • Temas sociais e políticos, não mais focados no nacional
  • Principais autores da terceira geração do modernismo brasileiro

    • Clarice Lispector
    • Guimarães Rosa
    • João Cabral de Melo Neto
    • Haroldo de Campos
    • Augusto de Campos
  • Principais obras da terceira geração do modernismo brasileiro

    • Morte e vida severina (1957) - João Cabral de Melo Neto
    • Sagarana (1946), Primeiras estórias (1962) e Grande sertão: veredas (1956) - Guimarães Rosa
    • Perto do coração selvagem (1942), A paixão segundo G. H. (1964) e A hora da estrela (1977) - Clarice Lispector

Para saber mais sobre a terceira fase modernista, clique aqui.

Principais autores do modernismo no Brasil

  • Augusto de Campos
  • Carlos Drummond de Andrade
  • Cecilia Meireles
  • Clarice Lispector
  • Graciliano Ramos
  • Graça Aranha
  • Guimarães Rosa
  • Haroldo de Campos
  • Jorge Amado
  • Jorge de Lima
  • João Cabral de Melo Neto
  • Manuel Bandeira
  • Mario Quintana
  • Menotti del Picchia
  • Murilo Mendes
  • Mário de Andrade
  • Oswald de Andrade
  • Plínio Salgado
  • Raquel de Queiroz
  • Vinicius de Moraes

Leia também: Tarsila do Amaral — a pintora modernista que mais teve destaque no Brasil

Contexto histórico do modernismo no Brasil

Logo antes do modernismo, o mundo passava por uma de suas maiores transformações e traumas com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), um conflito que mudou todo o funcionamento econômico, político e social do planeta. Fruto de todas as relações internacionais do século XIX, o conflito fez com que uma reestruturação fosse obrigatória e trouxe o questionamento de tudo que era tradicional. Além disso, o austríaco Sigmund Freud (1856-1939) inaugurava a psicanálise, uma área que teve influência no modernismo e em toda a literatura que viria a seguir.

No Brasil, passávamos por incertezas políticas. O país estava no final do regime da chamada República Velha (1889-1930). Nesse momento, paulistas e mineiros alternavam-se no poder de forma fraudulenta e donos de terras tinham grande influência. A oposição a esse esquema era feita pelo movimento tenentista, composto por militares contrários ao governo.

O início do movimento modernista era claramente focado em São Paulo, naquele momento, a cidade mais rica do país pelo acúmulo na produção e exportação de café. Contudo, mesmo tendo uma industrialização já iniciada, havia nela poucos centros culturais, e a divulgação artística era dominada pela imprensa, nos jornais e revistas. Assim, os modernistas retratavam São Paulo como um lugar “modernizável”.

Arte modernista no Brasil

Junto às criações literárias, as artes plásticas e visuais fizeram parte do movimento e tiveram um papel essencial em sua história. Assim como na literatura, esses artistas apoiavam a renovação e o questionamento das antigas formas de criação. A primeira grande manifestação com elementos modernistas foi uma exposição da pintora Anita Malfatti, que chocou acadêmicos ao trazer as influências das vanguardas europeias para a pintura brasileira. Aqui estão algumas obras:

Selo, criado no Brasil, que possui como centro a pintura “O homem amarelo” (1917), de Anita Malfatti.[3]
O painel “Candangos” (1960), de Di Cavalcanti, feito para o Palácio do Congresso.[4]
“Fuga para o Egito” (1923), do pintor Vicente do Rego Monteiro, no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro.[5]

Exercícios resolvidos sobre o modernismo no Brasil

Questão 1

(Enem) “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.

“Poética

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente

protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário

o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas

[...]

Quero antes o lirismo dos loucos

O lirismo dos bêbedos

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos

O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.”

(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)

Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:

a) critica o lirismo louco do movimento modernista.

b) critica todo e qualquer lirismo na literatura.

c) propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.

d) propõe o retorno do movimento romântico.

e) propõe a criação de um novo lirismo.

Resposta: E

Assim como o movimento modernista, do qual Manuel Bandeira fez parte, o autor critica o lirismo da imposição e dos dogmas que não aceita a criatividade. Dessa forma, apoia a criação e a aceitação de um novo lirismo, aquele que permitiria a libertação.

Questão 2

O Manifesto Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, defendeu a poesia brasileira “de exportação”, ou seja, digna de ser lida e apreciada em outros países, além de ser valorizada. Qual frase do livro demonstra mais a valorização da cultura e da língua populares brasileiras?

a) “Só não se inventou uma máquina de fazer versos — a havia o poeta parnasiano.”

b) “A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.”

c) “A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.”

d) “País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo.”

Resposta: C

Pode-se perceber, no trecho C, que o autor foca em seu discurso a valorização da língua do país sem as imposições do meio acadêmico. Assim, diz que até os ditos “erros” caracterizam a cultura de um povo.

Créditos da imagem

[1] Governo do Estado de São Paulo / Wikimedia Commons

[2] Caio! / Wikimedia Commons

[3] neftali / Shutterstock

[4] Agência Senado / Wikimedia Commons

[5] PMRMaeyaert / Wikimedia Commons

Aproveite para conferir as nossas videoaulas relacionadas ao assunto:

Mais procurados

Fagundes Varela

Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.

Tipos de predicado

O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.

Adjunto adverbial

Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.

Falsos sinônimos

Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.

Palavras aportuguesadas

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