Literatura brasileira

Por Warley Souza

Literatura brasileira é a literatura que teve início no Brasil em 1500, com a chegada dos portugueses ao país. Seu autor mais famoso é Machado de Assis.

A literatura brasileira tem mais de 500 anos e tem Machado de Assis como seu autor mais famoso.

A literatura brasileira é a literatura que teve início no Brasil em 1500, com a chegada dos portugueses ao país. Ela é marcada pela pluralidade cultural e sua história se confunde com a história do país. Assim, os períodos da literatura brasileira são:

  •  quinhentismo; 

  •  barroco;

  • arcadismo;

  • romantismo;

  • realismo;

  • naturalismo;

  • parnasianismo;

  • simbolismo;

  • pré-modernismo;

  • modernismo;

  • pós-modernismo.

Leia também: Trovadorismo — o primeiro período da literatura portuguesa

Períodos da literatura brasileira

Quinhentismo

O quinhentismo é um estilo de época surgido no Brasil e engloba as literaturas de catequese e de informação produzidas no século XVI.

Características do quinhentismo

Os textos escritos no quinhentismo têm as seguintes características:

  • literatura de catequese: caráter teocêntrico, função catequética, direcionada ao indígena brasileiro, composta por poemas e peças de teatro;

  • literatura de informação: teocentrismo, aspecto informativo, direcionada ao povo europeu, relata acontecimentos ocorridos no Brasil, composta por cartas, crônicas e relatos de viajantes estrangeiros.

Principais autores do quinhentismo

  • Pero Vaz de Caminha (1450-1500)

  • Padre José de Anchieta (1534-1597)

Principais obras do quinhentismo

  • A carta (1500), de Pero Vaz de Caminha

  • Auto da festa de São Lourenço (1583), de padre José de Anchieta

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Barroco

O barroco surgiu na Itália, no século XVI, em um contexto de crise religiosa na Europa, dividida entre o catolicismo e o protestantismo. No Brasil, esse estilo de época vigorou entre 1601 e 1768.

Características do barroco

O barroco é marcado pelo dualismo, ou seja, a presença de elementos contrastantes, como a visão antropocêntrica em contraposição com a visão teocêntrica. As obras do período refletem um conflito existencial, caracterizado pela culpa e pela angústia acerca do caráter efêmero da existência, o que leva ao carpe diem (aproveitar o momento).

As obras barrocas apresentam caráter mórbido, visão pessimista, cultismo (jogo de palavras), conceptismo (jogo de ideias). A poesia utiliza a medida nova (versos decassílabos) e o soneto. As figuras de linguagem mais usadas são o hipérbato, a antítese e o paradoxo.

Principais autores do barroco

  • Bento Teixeira (1561-1618)

  • Padre Antônio Vieira (1608-1697)

  • Gregório de Matos (1636-1696)

Principais obras do barroco

  • Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira

  • Sermões (1679), de padre Antônio Vieira

  • Obras de Gregório de Matos (1923-1933), de Gregório de Matos

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Arcadismo

O arcadismo ou neoclassicismo surgiu na Europa, no final do século XVII, no contexto do iluminismo. Essa escola literária se opôs ao exagero e ao feísmo barrocos. No Brasil, ela esteve em evidência entre 1768 e 1836.

Características do arcadismo

O arcadismo valoriza a cultura greco-latina, a qual está presente nos versos da poesia árcade, baseada em referências mitológicas. O ambiente lírico é caracterizado pelo bucolismo e pastoralismo. Ocorre a idealização tanto do amor quanto da mulher amada. A racionalidade sobressai, em detrimento do teocentrismo. Algumas ideias são defendidas na poesia neoclássica e podem ser assim identificadas:

  • fugere urbem ou fuga da cidade: enaltecimento da vida campestre;

  • aurea mediocritas ou mediocridade áurea: valorização da simplicidade;

  • locus amoenus ou lugar ameno: ambiente natural associado à felicidade;

  • inutilia truncat ou cortar o inútil: crítica aos excessos e ao luxo;

  • carpe diem ou aproveitar o momento: aproveito da vida, mas com equilíbrio.

Principais autores do arcadismo

  • Frei José de Santa Rita Durão (1722-1784)

  • Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)

  • Basílio da Gama (1741-1795)

  • Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810)

Principais obras do arcadismo

  • Obras poéticas de Glauceste Satúrnio (1768), de Cláudio Manuel da Costa

  • O Uraguai (1769), de Basílio da Gama

  • Caramuru (1781), de frei José de Santa Rita Durão

  • Marília de Dirceu (1792), de Tomás Antônio Gonzaga

  • Cartas chilenas (1845), de Tomás Antônio Gonzaga

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Romantismo

O romantismo surgiu na Alemanha, no final do século XVIII. Historicamente, sofreu influência dos ideais libertários da Revolução Francesa, iniciada em 1789. No Brasil, esse estilo de época durou de 1836 a 1881. A poesia romântica brasileira é dividida em três gerações. Já a prosa é composta por romances e contos indianistas, urbanos e regionalistas.

Características do romantismo

  • Gerações:

    • Primeira geração: bucolismo, nacionalismo, indianismo, teocentrismo, idealização amorosa.

    • Segunda geração: sentimentalismo exagerado, temática amorosa e mórbida, pessimismo, idealização do amor e da mulher.

    • Terceira geração: menos idealização, maior realismo, crítica social, uso recorrente de exclamações e vocativos, caráter emotivo.

  • Prosa:

    • Prosa indianista: herói indígena, nacionalismo, floresta como espaço da narrativa, vassalagem amorosa, idealização do amor e da mulher, reconstrução do passado histórico.

    • Prosa urbana: foco nos costumes burgueses, cidade do Rio de Janeiro como espaço narrativo, idealização, teor melodramático, sofrimento amoroso.

    • Prosa regionalista: herói rural, o campo como espaço da narrativa, idealização amorosa, visão patriarcalista.

  • Teatro romântico: nacionalismo, crítica social, preferência pela comédia e por dramas históricos.

Principais autores do romantismo

  • Gonçalves de Magalhães (1811-1882)

  • Martins Pena (1815-1848)

  • Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)

  • Maria Firmina dos Reis (1822-1917)

  • Gonçalves Dias (1823-1864)

  • José de Alencar (1829-1877)

  • Álvares de Azevedo (1831-1852)

  • Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)

  • Sousândrade (1833-1902)

  • Casimiro de Abreu (1839-1860)

  • Fagundes Varela (1841-1875)

  • Franklin Távora (1842-1888)

  • Visconde de Taunay (1843-1899)

  • Castro Alves (1847-1871)

Principais obras do romantismo

  • Suspiros poéticos e saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães

  • A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo

  • O noviço (1853), de Martins Pena

  • Lira dos vinte anos (1853), de Álvares de Azevedo

  • Memórias de um sargento de milícias (1854), de Manuel Antônio de Almeida

  • Os timbiras (1857), de Gonçalves Dias

  • Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis

  • As primaveras (1859), de Casimiro de Abreu

  • Vozes da América (1864), de Fagundes Varela

  • Iracema (1865), de José de Alencar

  • Inocência (1872), de Visconde de Taunay

  • O Cabeleira (1876), de Franklin Távora

  • Os escravos (1883), de Castro Alves

  • Guesa errante (1884), de Sousândrade

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Realismo

O realismo surgiu na França, em 1857, com a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1821-1880). No Brasil, ele teve início, em 1881, com a publicação do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e perdurou até 1902.

Características do realismo

A prosa realista é marcada pela objetividade, além de seu caráter antirromântico. Assim, o narrador faz críticas à elite burguesa, cujos membros são os personagens das obras realistas. Sem nenhuma idealização, o narrador faz a análise psicológica de seus personagens por meio do fluxo de consciência. Questões sociopolíticas são evidenciadas, a ironia é bastante utilizada e a principal temática é o adultério feminino.

Principal autor do realismo

  • Machado de Assis (1839-1908)

Principais obras do realismo

  • Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis

  • Quincas Borba (1891), de Machado de Assis

  • Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis

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Naturalismo

O naturalismo foi criado na Europa, no século XIX, e tem como marco histórico a publicação da obra científica A origem das espécies, em 1859, de Charles Darwin (1809-1882). No Brasil, o estilo foi inaugurado com a publicação do romance O mulato, de Aluísio Azevedo, em 1881, e perdurou até 1902.

Características do naturalismo

A prosa naturalista, assim como a realista, é objetiva, antirromântica e faz crítica sociopolítica. No entanto, se diferencia da realista por apresentar uma visão determinista, a zoomorfização dos personagens e o cientificismo (a ação dos personagens é justificada por meio de teorias científicas).

Principais autores do naturalismo

  • Aluísio Azevedo (1857-1913)

  • Raul Pompeia (1863-1895)

  • Adolfo Caminha (1867-1897)

Principais obras do naturalismo

  • O mulato (1881), de Aluísio Azevedo

  • O Ateneu (1888), de Raul Pompeia

  • O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo

  • Bom-Crioulo (1895), de Adolfo Caminha

Parnasianismo

O parnasianismo surgiu na França, na segunda metade do século XIX. No Brasil, a poesia parnasiana vigorou entre 1882 e 1893.

Características do parnasianismo

O parnasianismo possui uma poesia objetiva, descritiva e antirromântica. Estruturalmente, apresenta rigor formal (metrificação e rimas). Não trata de questões sociopolíticas e valoriza a cultura greco-latina. Contudo, a poesia parnasiana brasileira costuma contrariar a objetividade do estilo e deixa transparecer alguma subjetividade.

Principais autores do parnasianismo

  • Alberto de Oliveira (1857-1937)

  • Raimundo Correia (1859-1911)

  • Olavo Bilac (1865-1918)

  • Francisca Júlia (1871-1920)

Principais obras do parnasianismo

  • Sinfonias (1883), de Raimundo Correia

  • Meridionais (1884), de Alberto de Oliveira

  • Poesias (1888), de Olavo Bilac

  • Mármores (1895), de Francisca Júlia

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Simbolismo

O simbolismo nasceu, na França, com a publicação do livro As flores do mal, em 1857, de Charles Baudelaire (1821-1867). A poesia simbolista brasileira vigorou entre 1893 e 1902.

Características do simbolismo

O simbolismo possui uma poesia marcada pela musicalidade e que se opõe à objetividade realista e ao aspecto político do romantismo. Valoriza as sensações físicas, por isso o uso da sinestesia é constante. Recorre a elementos espirituais ou metafísicos e defende a existência de um mundo ideal ou plano das essências.

Com forte poder de sugestão, mostra desconfiança diante da realidade. Por isso, é caracterizada pelo ensimesmamento do eu lírico e pela alienação social. Estruturalmente, possui rigor formal (metrificação e rimas) e maiúsculas alegorizantes (destaque de palavras por meio da inicial maiúscula).

Principais autores do simbolismo

  • Cruz e Sousa (1861-1898)

  • Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)

Principais obras do simbolismo

  • Broquéis (1893), de Cruz e Sousa

  • Câmara ardente (1899), de Alphonsus de Guimaraens

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Pré-modernismo

O pré-modernismo é um período literário exclusivamente brasileiro e engloba todas as obras literárias publicadas entre 1902 e 1922. É, portanto, um período de transição entre o simbolismo e o modernismo.

Características do pré-modernismo

Por ser uma literatura de transição, as obras pré-modernistas apresentam elementos de estilos do século XIX, como o determinismo naturalista e o rigor formal parnasiano e simbolista. Também apresenta características que preanunciam o modernismo, tais como nacionalismo, realismo, ironia e crítica social.

Principais autores do pré-modernismo

  • Euclides da Cunha (1866-1909)

  • Graça Aranha (1868-1931)

  • Lima Barreto (1881-1922)

  • Monteiro Lobato (1882-1948)

  • Augusto dos Anjos (1884-1914)

Principais obras do pré-modernismo

  • Os sertões (1902), de Euclides da Cunha

  • Canaã (1902), de Graça Aranha

  • Eu (1912), de Augusto dos Anjos

  • Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), de Lima Barreto

  • Urupês (1918), de Monteiro Lobato

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Modernismo

O modernismo surgiu na Europa e sofreu influência dos movimentos de vanguarda ocorridos no início do século XX. No Brasil, ele teve início com a Semana de Arte Moderna de 1922. O modernismo brasileiro é composto por duas fases distintas, além da prosa de 1930.

Características do modernismo

  • Primeira geração (1922-1930): caráter inovador, nacionalismo, antiacademicismo, tom irônico, preferência pelo verso livre, visão antirromântica, valorização da cultura popular e regional.

  • Segunda geração (1930-1945): poesia de caráter existencial, valorização do aspecto místico, crítica sociopolítica, uso de versos livres, brancos e regulares.

    • Romance de 1930: regionalismo, crítica social, caráter político, visão determinista, linguagem simples e enredo atraente.

Principais autores do modernismo

  • Manuel Bandeira (1886-1968)

  • Oswald de Andrade (1890-1954)

  • Graciliano Ramos (1892-1953)

  • Mário de Andrade (1893-1945)

  • Jorge de Lima (1893-1953)

  • Cecília Meireles (1901-1964)

  • Murilo Mendes (1901-1975)

  • Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

  • Erico Verissimo (1905-1975)

  • Rachel de Queiroz (1910-2003)

  • Jorge Amado (1912-2001)

  • Vinicius de Moraes (1913-1980)

Principais obras do modernismo

  • Memórias sentimentais de João Miramar (1924), de Oswald de Andrade

  • Macunaíma (1928), de Mário de Andrade

  • O quinze (1930), de Rachel de Queiroz

  • Libertinagem (1930), de Manuel Bandeira

  • Forma e exegese (1935), de Vinicius de Moraes

  • Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos

  • O visionário (1941), de Murilo Mendes

  • A rosa do povo (1945), de Carlos Drummond de Andrade

  • Poemas negros (1947), de Jorge de Lima

  • O tempo e o vento (1949-1962), de Erico Verissimo

  • Romanceiro da Inconfidência (1953), de Cecília Meireles

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Pós-modernismo

Clarice Lispector é a principal autora da prosa pós-moderna.[1]

O período pós-modernista da literatura brasileira às vezes é identificado como uma terceira fase modernista. Ele teve início em 1945 e perdurou até 1978. Durante esse período, a poesia da geração de 1945 conviveu com a poesia concreta, e houve também a produção de uma prosa pós-moderna.

Características do pós-modernismo

  • Geração de 1945: rigor formal, preocupação com a estrutura poética, recorrência da temática sociopolítica.

  • Poesia concreta: experimentalismo, aspecto verbivocovisual (palavra, som e imagem), destaque para o caráter espacial do poema.

  • Prosa pós-moderna: fragmentação, metalinguagem, estrutura narrativa não convencional, monólogo interior, temas universais, realismo fantástico.

Principais autores do pós-modernismo

  • João Guimarães Rosa (1908-1967)

  • Murilo Rubião (1916-1991)

  • Clarice Lispector (1920-1977)

  • João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

  • Lygia Fagundes Telles (1923-2022)

  • Décio Pignatari (1927-2012)

  • Haroldo de Campos (1929-2003)

  • Hilda Hilst (1930-2004)

  • Ferreira Gullar (1930-2016)

  • Augusto de Campos (1931-)

Principais obras do pós-modernismo

  • Morte e vida severina (1955), de João Cabral de Melo Neto

  • Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa

  • As meninas (1973), de Lygia Fagundes Telles

  • O pirotécnico Zacarias (1974), de Murilo Rubião

  • Poema sujo (1976), de Ferreira Gullar

  • Poesia pois é poesia (1977), de Décio Pignatari

  • A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector

  • Viva vaia (1979), de Augusto de Campos

  • A obscena senhora D (1982), de Hilda Hilst

  • Galáxias (1984), de Haroldo de Campos

Literatura brasileira na atualidade

Atualmente, a literatura brasileira é composta por obras com diversidade temática, estrutural e estilística. Há, portanto, uma liberdade de criação, de forma que autoras e autores não estão presos a nenhum estilo literário específico. Todavia, algumas características são recorrentes, como a intertextualidade, a fragmentação e a crítica social.

A literatura da atualidade já não tem mais a missão de transformar o mundo, de maneira que apenas mostra a realidade como ela é, sem objetivos utópicos. Nessa realidade brasileira, sobressaem o individualismo, o vazio existencial, a violência urbana, mas também o humor e o erotismo.

Na contemporaneidade, também está em evidência a literatura de minorias, produzida, valorizada e consumida por pessoas negras, mulheres, comunidade LGBTQIA+, entre outras minorias. Desse modo, a literatura brasileira é plural e busca representar o povo brasileiro em sua diversidade.

Exercícios resolvidos sobre literatura brasileira

Questão 1

(Enem)

A escrava

— Admira-me —, disse uma senhora de sentimentos sinceramente abolicionistas —; faz-me até pasmar como se possa sentir, e expressar sentimentos escravocratas, no presente século, no século dezenove! A moral religiosa e a moral cívica aí se erguem, e falam bem alto esmagando a hidra que envenena a família no mais sagrado santuário seu, e desmoraliza, e avilta a nação inteira! Levantai os olhos ao Gólgota, ou percorrei-os em torno da sociedade, e dizei-me:

— Para que se deu em sacrifício o Homem Deus, que ali exalou seu derradeiro alento? Ah! Então não é verdade que seu sangue era o resgate do homem! É então uma mentira abominável ter esse sangue comprado a liberdade!? E depois, olhai a sociedade... Não vedes o abutre que a corrói constantemente!... Não sentis a desmoralização que a enerva, o cancro que a destrói?

Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e será sempre um grande mal. Dela a decadência do comércio; porque o comércio e a lavoura caminham de mãos dadas, e o escravo não pode fazer florescer a lavoura; porque o seu trabalho é forçado.

REIS, M. F. Úrsula e outras obras. Brasília: Câmara dos Deputados, 2018.

Inscrito na estética romântica da literatura brasileira, o conto descortina aspectos da realidade nacional no século XIX ao

A) revelar a imposição de crenças religiosas a pessoas escravizadas.

B) apontar a hipocrisia do discurso conservador na defesa da escravidão.

C) sugerir práticas de violência física e moral em nome do progresso material.

D) relacionar o declínio da produção agrícola e comercial a questões raciais.

E) ironizar o comportamento dos proprietários de terra na exploração do trabalho.

Resolução:

Alternativa B

O conto aponta a hipocrisia do discurso conservador na defesa da escravidão, já que explora a religiosidade inerente ao conservadorismo e mostra que, ao manter a escravidão, os conservadores contrariam os ideais cristãos.

Questão 2

(Enem)

Esaú e Jacó

Bárbara entrou, enquanto o pai pegou da viola e passou ao patamar de pedra, à porta da esquerda. Era uma criaturinha leve e breve, saia bordada, chinelinha no pé. Não se lhe podia negar um corpo airoso. Os cabelos, apanhados no alto da cabeça por um pedaço de fita enxovalhada, faziam-lhe um solidéu natural, cuja borla era suprida por um raminho de arruda. Já vai nisto um pouco de sacerdotisa. O mistério estava nos olhos. Estes eram opacos, não sempre nem tanto que não fossem também lúcidos e agudos, e neste último estado eram igualmente compridos; tão compridos e tão agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam o coração e tornavam cá fora, prontos para nova entrada e outro revolvimento. Não te minto dizendo que as duas sentiram tal ou qual fascinação. Bárbara interrogou-as; Natividade disse ao que vinha e entregou-lhe os retratos dos filhos e os cabelos cortados, por lhe haverem dito que bastava.

— Basta, confirmou Bárbara. Os meninos são seus filhos?

— São.

ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

No relato da visita de duas mulheres ricas a uma vidente no Morro do Castelo, a ironia — um dos traços mais representativos da narrativa machadiana — consiste no

A) modo de vestir dos moradores do morro carioca.

B) senso prático em relação às oportunidades de renda.

C) mistério que cerca as clientes de práticas de vidência.

D) misto de singeleza e astúcia dos gestos da personagem.

E) interesse do narrador pelas figuras femininas ambíguas.

Resolução:

Alternativa D

O narrador descreve a personagem Bárbara, uma vidente, da seguinte forma: “criaturinha leve e breve, saia bordada, chinelinha no pé” (singeleza), “O mistério estava nos olhos. Estes eram opacos, não sempre nem tanto que não fossem também lúcidos e agudos, e neste último estado eram igualmente compridos; tão compridos e tão agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam o coração e tornavam cá fora, prontos para nova entrada e outro revolvimento” (astúcia). Assim, ele mostra que a aparência singela é pensada para esconder a astúcia da personagem.

Questão 3

(Enem)

Hino à Bandeira

Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.

Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser!

Sobre a imensa Nação Brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor!

BILAC, O.; BRAGA, F. Disponível em: www2.planalto.gov.br. Acesso em: 10 dez. 2017 (fragmento).

No Hino à Bandeira, a descrição é um recurso utilizado para exaltar o símbolo nacional na medida em que

A) remete a um momento futuro.

B) promove a união dos cidadãos.

C) valoriza os seus elementos.

D) emprega termos religiosos.

E) recorre à sua história.

Resolução:

Alternativa C

A descrição é uma das principais características do parnasianismo, estilo de época das obras de Olavo Bilac. No Hino à Bandeira, o símbolo nacional é exaltado quando o eu lírico valoriza os seus elementos. Assim, ele diz que a bandeira retrata “o puríssimo azul” e “a verdura sem par” do Brasil, é um “vulto sagrado” e “paira sempre sagrada”.

Crédito de imagem

[1]Ishiai / Wikimedia Commons (reprodução)

Fonte

ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2015.    

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