Literatura fantástica

Por Warley Souza

A literatura fantástica é aquela que apresenta personagens e acontecimentos sobrenaturais. Ela valoriza o mistério e pode apresentar nonsense (falta de sentido).

Ilustração de uma das cenas do livro “Alice no País das Maravilhas”, um clássico da literatura fantástica .

A literatura fantástica é um tipo de literatura que tem personagens ou acontecimentos insólitos, sobrenaturais, extraordinários. Ela apresenta um realismo mágico ou fantástico, em oposição ao realismo do cotidiano. Portanto, a literatura fantástica é marcada pelo seu caráter imaginativo, sem obediência às leis da física.

O caráter fantástico está presente, principalmente, em histórias de terror e na literatura infantil. Contudo, também existem obras mais críticas, como A metamorfose, de Kafka, que trabalha com o nonsense e a reflexão existencial. No Brasil, Murilo Rubião e José J. Veiga são os principais autores da literatura fantástica para adultos.

Leia também: Memória póstumas de Brás Cubas – obra brasileira de caráter fantástico narrada por um “defunto autor”

Resumo sobre literatura fantástica

  • A literatura fantástica apresenta acontecimentos ou personagens sobrenaturais, insólitos, fantásticos.
  • Esse tipo de literatura valoriza o mistério e, em obras mais críticas, apresenta o nonsense.
  • Edgar Allan Poe e Stephen King são escritores famosos por utilizarem elementos fantásticos em suas obras.
  • No Brasil, Monteiro Lobato, Murilo Rubião e José J. Veiga são os principais autores da literatura fantástica.

O que é literatura fantástica?

A literatura fantástica é aquela que apresenta elementos fantásticos, ou seja, sobrenaturais, insólitos, contrários às leis naturais. Por exemplo, um homem se transformar em inseto, como ocorre em A metamorfose, de Kakfa; ou, ainda, a imagem de um retrato envelhecer enquanto o retratado permanece jovem, como em O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.

Quais as características da literatura fantástica?

Estas são as principais características da literatura fantástica:

  • Personagens ou acontecimentos sobrenaturais ou insólitos.
  • Elementos inexplicáveis convivem com elementos da realidade.
  • Deformação da realidade ao mesclar o insólito com o real.
  • Caráter ilógico, irracional, e valorização do mistério.

Algumas obras da literatura fantástica também podem provocar estranhamento, além de apresentarem nonsense, isto é, falta de sentido. Estão associados à literatura fantástica narrativas de terror, livros de aventura, além de algumas narrativas infantis. Esse tipo de literatura pode ser de entretenimento ou apresentar elementos críticos que gerem reflexão ou questionamentos acerca da realidade.

Veja também: Gabriel García Márquez – escritor colombiano que se inspirou na literatura fantástica de Franz Kafka

Livros de literatura fantástica

Capa do livro O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien, publicado pela editora HarperCollins Brasil.[1]
  • A casa dos espíritos (1982), de Isabel Allende.
  • Alice no país das maravilhas (1865), de Lewis Carroll.
  • A metamorfose (1915), de Franz Kafka.
  • A pequena sereia (1837), de Hans Christian Andersen.
  • As cidades invisíveis (1972), de Italo Calvino.
  • A varanda do frangipani (1996), de Mia Couto.
  • Cem anos de solidão (1967), de Gabriel García Márquez.
  • Contos da selva (1918), de Horacio Quiroga.
  • Contos fantásticos (1815), de E. T. A. Hoffman.
  • Contos fantásticos (1865), de Teófilo Braga.
  • Drácula (1897), de Bram Stoker.
  • Garabombo, o invisível (1972), de Manuel Scorza.
  • Histórias extraordinárias (1833-1845), de Edgar Allan Poe.
  • IT — a Coisa (1986), de Stephen King.
  • Manuscrito encontrado em Saragoça (1805), de Jan Potocki.
  • Diabo apaixonado (1772), de Jacques Cazotte.
  • O curioso caso de Benjamin Button (1922), de F. Scott Fitzgerald.
  • O livro do riso e do esquecimento (1979), de Milan Kundera.
  • O médico e o monstro (1886), de Robert Louis Stevenson.
  • O mundo alucinante (1966), de Reinaldo Arenas.
  • O reino deste mundo (1949), de Alejo Carpentier.
  • O retrato de Dorian Gray (1890), de Oscar Wilde.
  • O senhor dos anéis (1954-1955), de J. R. R. Tolkien.

Autores de literatura fantástica

  • Alejo Carpentier (1904-1980) — Cuba.
  • Bram Stoker (1847-1912) — Irlanda.
  • Edgar Allan Poe (1809-1849) — Estados Unidos.
  • E. T. A. Hoffman (1776-1822) — Alemanha.
  • Franz Kafka (1883-1924) — República Tcheca.
  • F. Scott Fitzgerald (1896-1940) — Estados Unidos.
  • Gabriel García Márquez (1927-2014) — Colômbia.
  • Hans Christian Andersen (1805-1875) — Dinamarca.
  • Horacio Quiroga (1878-1937) — Uruguai.
  • Isabel Allende (1942-) — Chile.
  • Italo Calvino (1923-1985) — Itália.
  • Jacques Cazotte (1719-1792) — França.
  • Jan Potocki (1761-1815) — Ucrânia.
  • J. R. R. Tolkien (1892-1973) — Inglaterra.
  • Lewis Carroll (1832-1898) — Inglaterra.
  • Manuel Scorza (1928-1983) — Peru.
  • Mia Couto (1955-) — Moçambique.
  • Milan Kundera (1929-2023) — República Tcheca.
  • Oscar Wilde (1854-1900) — Irlanda.
  • Reinaldo Arenas (1943-1990) — Cuba.
  • Robert Louis Stevenson (1850-1894) — Escócia.
  • Stephen King (1947-) — Estados Unidos.
  • Teófilo Braga (1843-1924) — Portugal.

Literatura fantástica no Brasil

Capa do livro A chave do tamanho, de Monteiro Lobato, publicado pela Companhia das Letrinhas.[2]

O principal representante da literatura fantástica no Brasil é o escritor Monteiro Lobato (1882-1948). Estamos falando de suas obras infantis, as quais fazem parte da série Sítio do Picapau Amarelo (1920-1947). Na literatura adulta, o principal nome é Murilo Rubião (1916-1991), autor de livros como Os dragões e outros contos (1965).

Outro nome de peso é José J. Veiga (1915-1999), autor do romance A hora dos ruminantes (1966). Os três autores mencionados utilizaram elementos fantásticos na maioria de suas obras. No entanto, existem outros que utilizaram esporadicamente o fantástico em alguma de suas obras, como:

  • Bruno Seabra (1837-1876), em Paulo (1861);
  • Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), em A luneta mágica (1869);
  • Machado de Assis (1839-1908), em Memórias póstumas de Brás Cubas (1881);
  • Mário de Andrade (1893-1945), em Macunaíma (1928);
  • Erico Verissimo (1905-1975), em Incidente em Antares (1971);
  • Moacyr Scliar (1937-2011), em A guerra no Bom Fim (1972);
  • José Cândido de Carvalho (1914-1989), em O coronel e o lobisomem (1974);
  • Marina Colasanti (1937-), em Hora de alimentar serpentes (2013).

Conto fantástico

O conto fantástico é uma narrativa curta de caráter sobrenatural, insólito, extraordinário; portanto, a história tem caráter fantástico, irreal ou absurdo. Assim como o romance fantástico, pode apresentar personagens extravagantes e irreais, tais como vampiros, fadas, animais falantes, entre outros tipos.

No Brasil, são exemplos de contos fantásticos:

  • O País das Quimeras, de Machado de Assis (1839-1908);
  • O homem da cabeça de papelão, de João do Rio (1881-1921);
  • A vingança da peroba, de Monteiro Lobato (1882-1948);
  • O monstro, de Humberto de Campos (1886-1934);
  • Os do outro lado, de José J. Veiga (1915-1999);
  • Os dragões, de Murilo Rubião (1916-1991);
  • Miss Algrave, de Clarice Lispector (1920-1977);
  • O encontro, de Lygia Fagundes Telles (1923-2022).

Já na literatura estrangeira, temos, por exemplo:

  • Chapeuzinho Vermelho, do francês Charles Perrault (1628-1703);
  • Ligeia, do estado-unidense Edgar Allan Poe (1809-1849);
  • O fantasma de Canterville, do irlandês Oscar Wilde (1854-1900);
  • A mão do macaco, do inglês W. W. Jacobs (1863-1943);
  • O outro, do argentino Jorge Luis Borges (1899-1986);
  • Um senhor muito velho com umas asas enormes, do colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014).

è Videoaula sobre conto fantástico

Literatura fantástica x realismo mágico

O realismo mágico ou fantástico é um dos elementos da literatura fantástica. A expressão “realismo mágico” surgiu em 1925 e foi empregada pelo crítico de arte alemão Franz Roh (1890-1965) ao caracterizar a pintura pós-expressionista. No entanto, a partir da década de 1940, passou a se referir a uma realidade mágica ou fantástica, em oposição ao realismo do cotidiano, sujeito às leis da física.

O realismo mágico, a princípio, se difere do realismo maravilhoso, já que, no maravilhoso, não ocorreria estranhamento por parte dos personagens diante da realidade insólita, como se o caráter extraordinário fosse parte integrante e natural da realidade cotidiana. Contudo, atualmente, é comum considerar o maravilhoso como sinônimo de mágico ou fantástico.

Origem e história da literatura fantástica

A literatura fantástica surgiu entre os séculos XVIII e XIX, mas foi a partir do século XX que ela ficou em evidência e passou a ser estudada. O precursor da literatura fantástica foi o escritor francês Jacques Cazotte, com sua obra O diabo apaixonado, de 1772.

Saiba mais: Quais são os tipos de romance existentes?

Exercícios resolvidos sobre literatura fantástica

Questão 1 (Enem)

“Narizinho correu os olhos pela assistência. Não podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque e flores na lapela conversavam com baratinhas de mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas, verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fina — achando que era exagero usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos que as borboletas de toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-flores beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo.”

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.

No último período do trecho, há uma série de verbos no gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente fantástico descrito. Expressões como “camaronando”, “caranguejando” e “pequeninando e não mordendo” criam, principalmente, efeitos de

A) esvaziamento de sentido.

B) monotonia do ambiente.

C) estaticidade dos animais.

D) interrupção dos movimentos.

E) dinamicidade do cenário.

Resolução:

Alternativa E.

Os verbos no gerúndio “camaronando”, “caranguejando”, “pequeninando” e [não] “mordendo” dão dinamicidade e caracterizam o ambiente fantástico descrito, pois sugerem a atividade insólita dos camarões, caranguejos e seres pequeninos que não mordem.

Questão 2 (UEFS)

Eu era ainda muito criança, mas sabia uma infinidade de coisas que os adultos ignoravam. Sabia que não se deve responder aos cumprimentos dos glimerinos, aquela raça de anões que a gente encontra quando menos espera e que fazem tudo para nos distrair de nossa missão; sabia que nos lugares onde a mãe-do-ouro aparece à flor da terra não se deve abaixar nem para apertar os cordões dos sapatos, a cobiça está em toda parte e morde manso; sabia que ao ouvir passos atrás ninguém deve parar nem correr, mas manter a marcha normal, quem mostrar sinais de medo estará perdido na estrada.

A estrada é cheia de armadilhas, de alçapões, de mundéus perigosos, para não falar em desvios tentadores, mas eu podia percorrê-la na ida e na volta de olhos fechados sem cometer o mais leve deslize.

VEIGA, José J. Fronteira. Os cavalinhos de Platiplanto: contos. 18. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. p. 61.

José J. Veiga é um escritor representativo da corrente denominada realismo mágico ou fantástico.

Tal realismo, provocador de uma sensação de estranhamento, encontra-se presente no texto por meio de um narrador que

A) ironiza a sabedoria acumulada com os anos.

B) se nivela aos mais velhos em conhecimento acerca da vida.

C) se mostra inseguro diante dos desafios que a vida lhe oferece.

D) questiona as fronteiras estabelecidas entre o real e o imaginário.

E) se revela ao leitor através de uma inversão da ordem natural das coisas.

Resolução:

Alternativa E

Ao dizer “Eu era ainda muito criança, mas sabia uma infinidade de coisas que os adultos ignoravam”, o narrador se revela ao leitor por meio de uma inversão da ordem natural das coisas, já que o natural é que adultos saibam uma infinidade de coisas que as crianças ignoram.

Créditos das imagens

[1] Editora HapperCollins Brasil (reprodução)

[2] Editora Companhia das Letrinhas (reprodução)

Fontes

ALMEIDA, Ricardo Ferreira de. O realismo mágico no cinema — o caso de Veit Helmer. 2018. Dissertação (Mestrado em Estudos Artísticos) – Departamento de História, Estudos Europeus, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2018.

BELONIA, Cinthia da Silva. O real maravilhoso em Gabriel García Márquez. Revista de Pesquisa Interdisciplinar, Cajazeiras, v. 3, n. 2, p. 2-11, 2018.

BERCHEZ, Amanda. O engenho do indelimitável: história e teoria(s) dos gêneros literários fantástico e neofantástico. Revista X, Curitiba, v. 16, n. 3, p. 903-927, 2021.

NOVOTNÁ, Kateřina. Representações de fantástico e ficção científica nos contos de Maria de Menezes. 2016. Dissertação (Mestrado em Estudos Românicos) – Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2016.

OLINTO, Antonio. O nosso Kafka. Disponível em: http://academia.org.br/artigos/o-nosso-kafka.

ORIENT, Carlos Arenas. Ernst Fuchs y la escuela de Viena del realismo fantástico. Ars Longa, Valencia, n. 13, 2004.

SILVA, Luis Cláudio Ferreira; LOURENÇO, Daiane da Silva. O gênero literário fantástico: considerações teóricas e leituras de obras estrangeiras e brasileiras. In: ENCONTRO DE PRODUÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA, 5., 2010, Campo Mourão. Anais [...]. Campo Mourão: FECILCAM/ NUPEM, 2010.

TODOROV, T. Introdução à literatura fantástica. Tradução de Maria Clara Correa Castello. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.

Mais procurados

Fagundes Varela

Famoso poeta brasileiro, fez parte da segunda geração romântica.

Tipos de predicado

O predicado é um termo essencial da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito.

Adjunto adverbial

Indica uma condição em relação a um verbo, adjetivo ou outro advérbio.

Falsos sinônimos

Podem provocar efeitos indesejados na comunicação, entre eles a ambiguidade.

Palavras aportuguesadas

As palavras aportuguesadas são aquelas de origem estrangeira que foram adaptadas às normas ortográficas da língua portuguesa.

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