José de Anchieta, juntamente com outros dois, revolucionou a literatura brasileira na época do Quinhentismo, dado o caráter pedagógico nela impresso: o da catequese.
José de Anchieta, Fernão Cardim e Manuel da Nóbrega foram figuras importantes que deixaram marcas, estilos próprios na arte manifestada durante o período quinhentista, como bem podemos atestar por meio do texto Literatura de Catequese.
Os textos produzidos na época em questão eram chamados de Literatura de Informação, mas os de autoria da tríade acima, justamente pela intenção pedagógica a que se propunham, eram concebidos como sendo aqueles de literatura de formação. A intenção, sobretudo deste nobre representante de que falamos – José de Anchieta, era a de converter os índios ao cristianismo. Dessa forma, imbuído nesse propósito, escreveu poemas, hinos, canções e autos, sendo que esses últimos atestaram uma retomada das criações de Gil Vicente e toda manifestação cultural materializada na Idade Média. Assim, afirmamos que entre todas elas, foi justamente no teatro (autos) que mais se destacou mediante o objetivo a que propunha (missão catequética), uma vez que às vésperas de comemorações religiosas, escrevia peças que, de forma amena, levava ao público, fazendo com que aquele sentimento fizesse renovar a fé e não se tornasse tão cansativo, como o que ocorria com os Sermões.
Por se tratar de um público heterogêneo, muitas vezes constituído por soldados, indígenas, colonos, marujos, comerciantes etc., José de Anchieta procurou escrever de forma multilíngue – fato que conferia às produções dele uma maior acessibilidade. No entanto, era, pois, na figura do indígena, o foco principal, tendo em vista os hábitos dos primeiros habitantes, levando em consideração o gosto de que dispunham por festas, danças, músicas e representações, o artista fez de tais costumes seu verdadeiro trunfo. Assim, aliava esse pendor natural aos dogmas católicos e à moral, fazendo uso de jogos dramáticos, cuja intenção era de que ao mesmo tempo em que instruía, também conquistava os objetivos a que se propunha.
Ainda envolto nesse espírito medieval, Anchieta escreveu diversas poesias, tanto pessoais quanto catequéticas, cujos versos seguiram essa mesma linhagem. Muitas delas, sobretudo as últimas, foram escritas em latim, destacando De beata virgine dei Matre Maria (Poema à virgem, 1563) como uma das mais importantes.
Vejamos, portanto, um exemplo das criações (ainda que expressas somente em fragmentos) que demarcaram as habilidades artísticas desse representante da arte literária em solo brasileiro, intitulada:
Ao Santíssimo Sacramento
Oh que pão, oh que comida,
Oh que divino manjar
Se nos dá no santo altar
Cada dia.
Filho da Virgem Maria
Que Deus Padre cá mandou
E por nós na cruz passou
Crua morte.
E para que nos conforte
Se deixou no Sacramento
Para dar-nos com aumento
Sua graça.
[...]
Inferências permitem que atestemos uma preocupação por parte do autor com a religiosidade propriamente dita, fazendo valer de forma significativa o sentimento, o espírito devoto de que ele dispunha, expressando-o em boa parte nas manifestações que criara.
Atribuindo completude às discussões que até agora fizemos acerca deste nobre artista que de maneira ímpar contribuiu para o processo de formação da cultura brasileira, constatemos, ainda que em breves palavras, os dados biográficos. Dessa maneira, nasceu em Tenerife, nas ilhas Canárias, em 1534, e morreu no Brasil, mais precisamente no Espírito Santo, em 1597.