Euclides da Cunha é um escritor pré-modernista e autor da obra Os sertões, a qual fala sobre a guerra de Canudos, ocorrida em 1897, no sertão da Bahia.
Euclides Rodrigues da Cunha nasceu no arraial de Santa Rita do Rio Negro, município de Cantagalo, no estado do Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1866, na fazenda 'Saudade'. Era filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudóxia Alves Moreira da Cunha e, aos três anos de idade, ficou órfão de mãe, passando a viver com seus avós e seus tios em Teresópolis, São Fidélis e na capital do estado, Rio de Janeiro.
Euclides da Cunha, como ficou conhecido, admirava as obras do escritor francês Victor Hugo e também estudiosos como o evolucionista Charles Darwin, o positivista Auguste Comte, o determinista Hippolyte Taine e os sociólogos Karl Marx e Émile Durkeim. Esses autores exerceram grande influência na vida e nas obras de Euclides da Cunha, que as tomou como referências científicas para a análise das práxis sociais e para suas produções jornalística e literária.
Formação profissional
Euclides da Cunha estudou no Colégio Aquino de 1883 a 1884, período em que foi aluno de Benjamin Constant. Em 1885, ingressou na Escola Politécnica e, em 1886, foi novamente aluno de Constant na Escola Militar da Praia Vermelha. Em 1888, foi desligado do Exército por ter atirado uma espada aos pés do Ministro de Guerra, Tomás Coelho. Em 1889, com a Proclamação da República, Euclides retornou ao Exército, ingressando na Escola Superior de Guerra. Nessa época, tornou-se primeiro-tenente e bacharel em Matemática e Ciências físicas e naturais.
No ano seguinte, Euclides da Cunha casou-se com uma jovem de apenas 15 anos, Ana Emília Ribeiro, com quem teve três filhos. Ana era filha do Major Sólon Ribeiro, um dos líderes da Proclamação da República. Em 1891, deixou a Escola de Guerra para trabalhar como coadjuvante de ensino na Escola Militar.
Em 1894, Euclides publicou duas cartas no jornal Gazeta de Notícias nas quais defendia o Estado Democrático. Essas publicações provocaram sua mudança para Minas Gerais, em 1895, para atuar na construção da Estrada de Ferro Central do Brasil, já que Euclides da Cunha passou a ser visto com desconfiança pelos legalistas.
No ano seguinte, em 1896, Euclides da Cunha afastou-se do Exército para trabalhar como superintendente de obras públicas e como correspondente do jornal O Estado de São Paulo. Em 1897, Euclides foi nomeado adido ao Estado-Maior do Ministério da Guerra e recebeu o convite do jornalista Júlio de Mesquita para acompanhar e cobrir as operações do Exército em um conflito armado no sertão do estado da Bahia, em um município conhecido como Arraial de Canudos, localizado entre o Polígono das Secas e o vale do Rio Vaza-Barris.
Do dia sete de agosto a primeiro de outubro daquele ano, Euclides da Cunha viveu no sertão como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo e transmitia as mensagens por meio de telégrafo. Quatro dias antes do fim da guerra, Euclides deixou Canudos e conseguiu reunir material para elaborar Os Sertões, sua obra mais renomada e reconhecida.
Em 1898, Euclides da Cunha mudou-se para São José do Rio Pardo para trabalhar na construção de uma ponte sobre o Rio Pardo. Lá escreveu, nos seus pequenos intervalos, boa parte de sua obra-prima. Antes da publicação na íntegra, alguns fragmentos do livro foram publicados em um artigo intitulado de "Excerto de um livro inédito".
Os Sertões: a campanha de Canudos
Os Sertões foi publicado em 1902, cinco anos após o fim do conflito no sertão da Bahia. O livro trata, sobretudo, da Guerra de Canudos, iniciada em 1897, no sertão nordestino.
Como correspondente de jornalismo, Euclides descobriu a realidade vivida pelos sertanejos no interior do Brasil e encantou-se por eles. Por isso, transformou radicalmente suas ideias sobre o movimento de Canudos como sendo uma ameaça aos ideais republicanos.
Euclides da Cunha foi o primeiro escritor a retratar, verdadeiramente juntas, a literatura e a história, contribuindo para que o povo brasileiro tivesse uma visão real acerca do interior do Brasil. Por essas e outras contribuições, Os Sertões recebeu o nome de “a Bíblia da nacionalidade brasileira”, pelo escritor Pedro Nabuco.
Em suas quase 600 páginas, o livro apresenta diversas características de textos literários, textos científicos e textos jornalísticos. Além disso, é possível observarmos claramente as visões deterministas e naturalistas do autor ao retratar o homem como sendo um produto do meio em que vive. O estilo de linguagem também é outra característica bastante peculiar, denominado por outros escritores como sendo um “Barroco Científico”.
Para conseguir mair realismo à descrição e análise do conflito em Canudos, Euclides dividiu sua obra em três partes: A Terra, O Homem e A Luta. Na primeira parte, o autor trata da descrição dos aspectos geográficos, botânicos e hidrográficos da região. Na segunda parte, o autor faz um retrato do sertanejo e mostra de que maneira o meio influencia a vida das pessoas, por exemplo, como as condições adversas do sertão tornam o sertanejo um homem forte. Na terceira parte, Euclides descreve os combates entre as tropas oficiais e os seguidores do líder messiânico Antônio Conselheiro.
Com essa obra, Euclides entrou para a Academia Brasileira de Letras (ABL), no dia 21 de setembro de 1903, ocupando a cadeira 7, e também entrou para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Morte trágica
Em 15 de agosto de 1909, Euclides da Cunha foi assassinado, com um tiro no peito, pelo amante de sua esposa, chamado Dilermando, um jovem cadete de 17 anos. O corpo de Euclides da Cunha foi velado na ABL e sepultado no cemitério de São João Batista. Décadas mais tarde, os restos mortais foram transferidos para a cidade de São José do Rio Pardo, lugar onde escreveu grande parte de Os Sertões, sua obra-prima.
Obras de Euclides da Cunha
Os Sertões, 1902
Contrastes e Confrontos, 1906
Peru Versus Bolívia, 1907
Castro Alves e o Seu Tempo, 1908
A Margem da História, 1909
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