A elegia é um texto de caráter lírico caracterizado por apresentar tom melancólico, triste e lamentoso. Poetas como Petrarca, Goethe e Camões são autores de elegias.
Elegia é um texto do gênero lírico. Ela é caracterizada pela lamúria, tristeza e melancolia. E pode apresentar temática amorosa, filosófica, fúnebre, heroica, moralista ou religiosa. Muitos escritores mundialmente famosos, como Ovídio, Camões, Goethe, Rilke, Borges e Neruda, escreveram elegias.
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Resumo sobre elegia
- A elegia é um texto do gênero lírico, marcada pelo tom lamentoso e triste.
- Ela pode ser amorosa, fúnebre, filosófica, moralista, heroica ou religiosa.
- Autores famosos como Petrarca, Camões, Goethe e Bocage escreveram elegias.
- Os poetas brasileiros Mario Quintana e Cecília Meireles também fizeram elegias.
O que é elegia?
A elegia faz parte do gênero lírico, ou seja, é um texto poético. Ela surgiu na antiga Grécia por volta do século VII a. C. A temática elegíaca é diversa; porém, a essência de uma elegia é seu tom de lamento, melancolia e tristeza.
Principais características da elegia
Na Antiguidade, a elegia era composta por um dístico (estrofe com dois versos), sendo que o primeiro verso era um hexâmetro (seis pés métricos) e o segundo, um pentâmetro (cinco pés métricos). Com o passar do tempo, tal estrutura deixou de ser obrigatória, de forma que esse texto poético passou a ser definido pelo seu conteúdo.
Atualmente, a elegia pode apresentar variados tipos de estrofe. O que vai fazer o texto ser considerado elegíaco é seu tom lamentoso, associado ao choro, à tristeza, à melancolia, ao sofrimento. A causa desse lamento também é diversa, podendo ser a morte, desventuras da vida etc.
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Tipos de elegia
A elegia pode ser:
- amorosa ou erótica (expressa a dor de amor);
- filosófica ou moral (de caráter metafísico);
- fúnebre (evidencia o sentimento de luto);
- heroica (de temática bélica);
- moralista ou gnômica (enaltece os valores morais);
- religiosa (constata a fragilidade humana, expressa a culpa e condena o pecado).
Alguns exemplos de elegia
A seguir, um trecho da longa elegia escrita pelo poeta português Luís Vaz de Camões, na ocasião da morte de D. Miguel de Meneses, filho de D. Henrique de Meneses, governador da Casa Cível, que morreu na Índia. Durante todo o poema, é perceptível a melancolia e a tristeza causadas por sua morte:
Que novas tristes são, que novo dano,
que mal inopinado incerto soa,
tingindo de temor o vulto humano?
Que vejo as praias úmidas de Goa
ferver com gente atônita e torvada
do rumor que de boca em boca soa.
É morto D. Miguel — ah, crua espada! —
e parte da lustrosa companhia
que se embarcou na alegre e triste armada,
e de espingarda ardente e lança fria
passado pelo torpe e iníquo braço
que nessas altas famas injuria.
[...]
Vai-te, alma, em paz e glória sempiterna!
Vai, que quem pela Lei santa e divina
morre, a dá a Deus, que os Céus governa.
Quando pela razão devida e dina
do Rei, da Pátria, e honra dos passados
sacrificar a vida nos ensina,
nos assentos de estrelas esmaltados
lhe dá lugar a altíssima Clemência
entre os heróis a glória destinados.
Mas, ah! quem sofrerá perpétua ausência
de tão caro Senhor, tão fido amigo!
Quem porá contra mágoas resistência?
Aquele ânimo grande, que do antigo
de seus maiores era alto retrato,
desprezador de todo o vil perigo;
[...]
Que já diante os olhos me descrevem,
quando as bocas da fama voadora
ao pátrio e claro Tejo as novas levam,
a profunda tristeza que, em üa hora,
tal posse tomará dos altos peitos
que a razão quase quase deite fora.
Ali, de dor, os corações sujeitos
pesadas lhe serão consolações
e pesados exemplos e respeitos.
[...]
A seguir, a elegia do poeta chileno Pablo Neruda também expressa a tristeza diante da morte:
Uma lágrima agora
por outro mais, por outro, tilintando
guizos de cascavéis e campanários,
louco de gargalhada,
inventor soberano,
de circo mágico e de poesia,
Kirsanov, Sioma, irmão
cuja morte recente, há dez horas
soube, dez horas sem acreditar,
sem aceitar, tão longe, aqui, agora,
esta notícia fria,
esta morte de unhas geladas
que apertou até calar seu claro canto.
Ele era minha alegria,
meu pão alegre, a felicidade
do vinho compartilhado
e do descobrimento
que ia marcando com seu ponteiro:
a graça fabulosa
de meu bom companheiro tilintante.
Ai, sim, já sem um som,
enterrado, furtando-se ao silêncio
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Alguns autores famosos de elegia
- Arquíloco (680-645 a. C.) — Grécia.
- Simónides (556-468 a. C.) — Grécia.
- Catulo (84-54 a. C.) — Roma.
- Tibulo (54-19 a. C.) — Roma.
- Propércio (43 a. C.-17 d. C.) — Roma.
- Ovídio (43 a. C.-18 d. C.) — Roma.
- Petrarca (1304-1374) — Itália.
- François Villon (1431-1463) — França.
- Jorge Manrique (1440-1479) — Espanha.
- Sá de Miranda (1481-1558) — Portugal.
- Garcilaso de la Vega (1503-1536) — Espanha.
- Luís Vaz de Camões (1524-1580) — Portugal.
- Pierre de Ronsard (1524-1585) — França.
- John Milton (1608-1674) — Inglaterra.
- Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) — Alemanha.
- Manuel du Bocage (1765-1805) — Portugal.
- Alphonse de Lamartine (1790-1869) — França.
- P. B. Shelley (1792-1822) — Inglaterra.
- Giacomo Leopardi (1798-1837) — Itália.
- Fagundes Varela (1841-1875) — Brasil.
- Paul Verlaine (1844-1896) — França.
- Rainer Maria Rilke (1875-1926) — Tchéquia.
- Fernando Pessoa (1888-1935) — Portugal.
- Federico García Lorca (1898-1936) — Espanha.
- Jorge Luis Borges (1899-1986) — Argentina.
- Cecília Meireles (1901-1964) — Brasil.
- Pablo Neruda (1904-1973) — Chile.
- Mario Quintana (1906-1994) — Brasil.
- Vinicius de Moraes (1913-1980) — Brasil.
- Octavio Paz (1914-1998) — México.
Fontes
CAMÕES, Luís de. Canções e elegias. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000177.pdf.
LAGE, Rui Carlos Morais. A elegia portuguesa nos séculos XX e XXI: perda, luto e desengano. 2010. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Letras, Universidade do Porto, Porto, 2010.
MACHADO, Cinthya Sousa. Elegia renascentista: estudo e tradução das elegias de Jacopo Sannazaro. 2017. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
NERUDA, Pablo. Elegia. Tradução de Olga Savary. Porto Alegre: L&PM, 2005.
SILVA, Márcia Regina de Faria da. Amor e guerra na elegia latina. PRINCIPIA, Rio de Janeiro, n. 25, 2012.
SILVA, Márcia Regina de Faria da. Ovídio e as inovações na elegia latina. PRINCIPIA, Rio de Janeiro, n. 26, 2013.