O dadaísmo é considerado a mais radical das vanguardas artísticas do século XX. O movimento dadaísta ou dadá tinha a ruptura como meta e “a destruição também é criação” como lema. A proposta dadaísta relaciona-se ao fim da estética, ou seja, à desvinculação da produção artística com aquilo que até então se entendia como arte. A proposta era a negação de todas as regras e de todas as tradições.
“Dadá” não significa nada – e, portanto, pode também significar tudo. Nascido em meio à Primeira Guerra Mundial, o dadaísmo queria escandalizar o gosto popular e rejeitar, subverter todos os valores vigentes.
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Contexto histórico
A Europa via-se imersa no colapso bélico da Primeira Guerra Mundial, conflito de proporções estrondosas como nunca se tinha visto antes, o que influenciou diretamente os artistas dadaístas. A intensidade e violência do confronto destruíram o senso lógico e a suposta ordenação da civilização, gerando nos artistas o desprezo pelos valores culturais – que instituíam o bom senso estético, a alta cultura, o que era belo e, ao mesmo tempo, permitiam o horror e a matança generalizada.
A destruição causada pela guerra foi o motor principal para o movimento. Os artistas dadaístas franceses e alemães exilaram-se na Suíça, por não concordarem com o posicionamento de seus países de origem durante a Primeira Grande Guerra, e levaram para a arte esse protesto contra uma cultura e uma civilização incapazes de evitar o aniquilamento massivo, a desgraça e a ruína.
A arte, portanto, deveria negar os valores vigentes, levantar a bandeira do absurdo e chocar, escandalizar, já que a ruína da guerra não parecia chocante o suficiente para que os governantes europeus cessassem fogo.
Origem do dadaísmo
Como a maioria das artes de vanguarda, o dadaísmo teve origem em textos de manifesto. Inauguraram o movimento o “Primeiro Manifesto Dadá”, escrito por Hugo Ball, e o “Manifesto do Senhor Antipirina”, escrito por Tristan Tzara. A partir desses textos, os artistas instituíram o que pretendiam com o dadaísmo.
“Dadá é uma nova tendência da arte. [...] Dadá vem do dicionário. É bestialmente simples. Em francês quer dizer "cavalo de pau". Em alemão: "Não me chateies, faz favor, adeus, até à próxima!" Em romeno: "Certamente, claro, tem toda a razão, assim é. Sim, senhor, realmente. Já tratamos disso." E assim por diante. Uma palavra internacional. Apenas uma palavra e uma palavra como movimento. É simplesmente bestial. [...] Ao fazer dela uma tendência da arte, é claro que vamos arranjar complicações. Psicologia Dadá, literatura Dadá, burguesia Dadá e vós, excelentíssimo poeta, que sempre poetastes com palavras, mas nunca a palavra propriamente dita. Guerra mundial Dadá que nunca mais acaba, revolução Dadá que nunca mais começa.”
(trecho do “Primeiro Manifesto Dadá”, de Hugo Ball)
“Dadá é a nossa intensidade: ergue as baionetas sem consequência a cabeça samatral do bebê alemão; Dadá é a vida sem pantufas e paralelas, que é por e contra a unidade e decididamente contra o futuro; sabemos de ciência certa que o nosso cérebro vai transformar-se em almofada confortável, que o nosso antidogmatismo é tão exclusivo como o funcionário, que não somos livres e gritamos liberdade; estrita necessidade sem disciplina e moral e cuspimos na humanidade.”
(trecho do “Manifesto do Senhor Antipirina”, de Tristan Tzara)
Características do dadaísmo
- Oposição a qualquer noção de equilíbrio;
- Niilismo, negação veemente de todos os valores vigentes na civilização e na cultura;
- Defesa do absurdo, do ilógico e do irracional;
- Experimentação de formas e técnicas;
- Rejeição a qualquer regra e valorização da liberdade total;
- Desprezo do subjetivismo e do convencionalismo;
- Valorização da antiarte;
- Obras que têm como objetivo escandalizar o público.
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Principais artistas do dadaísmo
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Hugo Ball (1886-1927)
Fundador do movimento, foi poeta, escritor, crítico, dramaturgo e filósofo. De origem alemã, exilou-se na Suíça durante a Primeira Guerra Mundial. Ball é considerado o pai da poesia fonética ou poesia sonora, forma de lírica dadaísta que fragmentava as palavras em sílabas fonéticas individuais, retirando qualquer significado ou sentido originais. O autor, muitas vezes, declamava essas poesias em performances no Cabaret Voltaire, espaço que abriu em colaboração com outros artistas e que chamou de “cabaré artístico”.
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Marcel Duchamp (1887-1968)
Duchamp foi um pintor e escultor francês famoso por seus ready-mades, objetos que são escolhidos aleatoriamente e que, após uma leve intervenção do artista, tornam-se obra de arte. É o caso de Fonte, um urinol de louça que Duchamp enviou a uma mostra, em 1917, mas que foi rejeitado. O artista ficou conhecido também por pintar bigodes na Mona Lisa, em clara demonstração de desprezo pela arte acadêmica. Inventou mecanismos ópticos, fez curtas-metragens e colagens.
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Max Ernst (1891-1976)
Pintor e escultor alemão, fez parte também de outros movimentos de vanguarda, como o surrealismo. As temáticas do inconsciente e da irracionalidade eram constantes em sua produção. Criou novas técnicas na pintura e na escultura, como a assemblage – uma colagem tridimensional feita de materiais não tidos como artísticos (folhas, objetos, pedras, restos) –, a raspagem, a fricção e a decalcomania.
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Raul Hausmann (1886-1971)
Um dos dadaístas mais experimentais, Raul Hausmann assinava suas obras com o pseudônimo Der Dadasophe, e foi pintor, escultor e poeta. Também foi o inventor da fotomontagem. Como Hugo Ball, também escreveu diversos poemas sonoros, além de produzir também o que chamou de “poemas de cartaz”, criando mecanismos e recursos tipográficos para que os poemas sonoros fossem visualizáveis.
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Tristan Tzara (1896-1963)
Tristan Tzara é o pseudônimo de Samuel Rosenstock, poeta judeu nascido na Romênia. Foi um dos fundadores do movimento dadaísta, explorando o caráter arbitrário da linguagem, a subversão da lógica por meio da linguagem poética e a valorização do acaso durante a produção artística.
Dadaísmo na literatura
“Pegue num jornal.
Pegue numa tesoura.
Escolha nesse jornal um artigo que tenha o tamanho que você quiser dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida cuidadosamente cada uma das palavras que formam esse artigo e ponha-as num saco.
Agite suavemente.
Retire em seguida cada recorte um após outro.
Copie conscenciosamente na ordem por que deixaram o saco.”
(“Para fazer um poema dadaísta”, Tristan Tzara)
O poema acima ilustra a proposta da estética dadaísta na literatura: subverter o sentido lógico da linguagem. Por meio da técnica da colagem, os dadaístas realocavam os vocábulos de acordo com o acaso, sem a mediação racional ou lógica, libertando as sentenças de uma obrigatoriedade com o sentido.
A experimentação literária do dadaísmo valorizava o caos e o absurdo e rompia também com a noção de significado dos vocábulos. Por meio de poemas fonéticos, os dadaístas fragmentavam as palavras em unidades silábicas sonoras, que, por sua vez, eram recombinadas, criando novas imagens.
“Com estes poemas sonoros nós queríamos prescindir da linguagem que o jornalismo tinha tornado desolada e impossível”, disse Hugo Ball a respeito da técnica. A proposta era a libertação da palavra de sua função utilitária, restrita a um único significado.
gadji beri bimba glandridi laula lonni cadori
gadjama gramma berida bimbala glandri galassassa laulitalomini
gadji beri bin blassa glassala laula lonni cadorsu sassala bim
gadjama tuffm i zimzalla binban gligla wowolimai bin beri ban
o katalominai rhinozerossola hopsamen laulitalomini hoooo
gadjama rhinozerossola hopsamen
bluku terullala blaulala loooo
zimzim urullala zimzim urullala zimzim zanzibar zimzalla zam
elifantolim brussala bulomen brussala bulomen tromtata
velo da bang bang affalo purzamai affalo purzamai lengado tor
gadjama bimbalo glandridi glassala zingtata pimpalo ögrögöööö
viola laxato viola zimbrabim viola uli paluji malooo
tuffm im zimbrabim negramai bumbalo negramai bumbalo tuffm i zim
gadjama bimbala oo beri gadjama gaga di gadjama affalo pinx
gaga di bumbalo bumbalo gadjamen
gaga di bling blong
gaga blung
(“Gadji beri bimba”, poema sonoro de Hugo Ball)
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