Imergir no universo literário é, sobretudo, constatar o rico e precioso trabalho que o poeta realiza com a linguagem. Assim, há distintas criações, sejam elas manifestas sob a forma de versos ou sob o estilo prosaico. Em se tratando da poesia, tal aspecto parece ganhar ainda mais notoriedade, a começar pelo que nos apresenta Carlos Drummond de Andrade, em uma das suas muitas criações:
Consideração do poema
Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.
[...]
Há de se inferir que o poeta em questão deixa bem claro que o poema, para ser considerado como tal, não precisa, necessariamente, se constituir de todos os elementos, tais como rimas, métrica e estrofes. Contudo, um deles lhe é imprescindível: o ritmo, tal qual manifestado no poema em questão.
Dessa forma, nosso intuito maior é justamente enfatizar a importância desse nobre aspecto, cuja presença de outro elemento parece dar ainda mais vivacidade a tal manifestação: as rimas. Assim, entre as peculiaridades por elas apresentadas, há aquela voltada para os tipos de sons que apresentam – foco principal de nossa discussão.
As rimas podem assim se classificar:
Rimas consoantes – Manifestam-se pela coincidência de fonemas, tendo em vista a última vogal tônica de cada verso. Observemos um exemplo:
Velhas Árvores
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
[...]
Olavo Bilac
Constatamos a perfeita sintonia que há entre os páreos “belas/procelas” e “amigas/cantigas”.
Rimas assoantes ou toantes – Apresentam perfeita identificação sonora entre as vogais, tendo em vista a última vogal tônica até o final de cada verso.
Ódio sagrado
Ó meu ódio, meu ódio majestoso,
meu ódio santo e puro e benfazejo,
unge-me a fronte com teu grande beijo,
torna-me humilde e torna-me orgulhoso.
[...]
Cruz e Souza
Por meio do exemplo em questão há de se constatar que a referida semelhança se faz presente entre os páreos “majestoso/orgulhoso” e “benfazejo /beijo”.
Aproveite para conferir a nossa videoaula relacionada ao assunto: