Clarice Lispector foi uma das mais importantes escritoras brasileiras. Seu inconfundível estilo intimista traz descrições psicológicas e epifanias.
Clarice Lispector (1920-1977) foi uma importante escritora brasileira. Sua produção marcou a literatura do século XX e seu estilo intimista popularizou as narrativas psicológicas no Brasil.
Lispector é um marco em nosso Modernismo e suas obras continuam entre as mais lidas no país. A autora, vale lembrar, figura como uma das primeiras autoras a ganhar notoriedade nacional, ao lado de grandes nomes, como Rachel de Queiroz e Cecília Meireles, tendo, portanto, também um papel fundamental para desconstruir preconceitos e ampliar o horizonte para tantas outras mulheres na literatura.
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Biografia
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 1920. Entretanto, já em 1922, a autora veio para o Brasil com sua família, que fugia da Guerra Civil Russa e da perseguição crescente aos judeus na Europa.
A autora passou boa parte da infância em Recife, capital de Pernambuco, e sua vida adulta foi predominantemente vivida no Rio de Janeiro. Lispector também foi jornalista e exerceu funções diplomáticas. Suas crônicas, publicadas nos jornais da época e posteriormente reunidas em livros, são ainda hoje lidas e consideradas importantes retratos da vida cotidiana do Rio de Janeiro de então.
Enquanto escritora de obras literárias, Clarice Lispector alcançou grande importância como uma das fundadoras da literatura intimista no Brasil, tornando-se uma das prosadoras mais lidas do país.
No ano de 1977, vitimada por um câncer, a autora faleceu na cidade carioca, deixando dois filhos e uma vasta obra que marcaria para sempre a literatura brasileira.
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Características
O estilo de Clarice Lispector é inconfundível. Suas personagens, geralmente mulheres, vivenciam situações cotidianas e, na banalidade do dia a dia, passam por diversos conflitos psicológicos. Conhecido como intimista, o modo como Lispector escreve consegue penetrar por profundos e complexos pensamentos e conflitos nas personagens. As descrições psicológicas são, portanto, uma marca de Lispector.
Além disso, em geral, nas narrativas da escritora ocorre a epifania – uma espécie de revelação com a qual a personagem passa a compreender algo novo sobre si ou sobre a realidade. Normalmente, as epifanias acontecem após acontecimentos corriqueiros.
Por fim, vale dizer que algumas das histórias criadas por Clarice Lispector têm traços do cotidiano da própria autora. Um exemplo disso é o conto O amor, obra em que se narra o dia de uma mulher chamada Ana, que, ao sair para fazer compras e observar um cego mascando chicletes, passa por uma série de processos reflexivos que a levam a perceber diversas questões sobre sua vida.
A história de Ana tem como pano de fundo o Rio de Janeiro, em que Clarice Lispector também vivia. A personagem, inclusive, faz um passeio cheio de significados simbólicos e subjetividade pelo Jardim Botânico. Veja, a seguir, um trecho do começo desse conto:
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranquilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
[...]
O amor, Clarice Lispector
Obras
Clarice Lispector escreveu diversos romances, contos e crônicas durante sua vida. As obras mais conhecidas da autora são:
- Perto do Coração Selvagem (1943)
- Laços de Família (1960)
- A Legião Estrangeira (1964)
- A Paixão segundo G.H. (1964)
- Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969)
- O Ovo e a Galinha (1977)
- A Hora da Estrela (1977)
Frases
Veja, abaixo, algumas frases famosas da escritora:
“A palavra é meu domínio sobre o mundo.”
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”
“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.”
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