Antero de Quental foi um poeta português. Integrou a geração de 70, composta por escritores realistas. No entanto, a poesia desse autor também apresenta traços do romantismo.
Antero de Quental nasceu em 18 de abril de 1842, na ilha portuguesa de São Miguel. Mais tarde, fez faculdade de Direito na Universidade de Coimbra, tornou-se socialista e foi o principal porta-voz do realismo no debate literário conhecido como a questão coimbrã. Publicou seu primeiro livro — Sonetos de Antero — em 1861.
O poeta, que cometeu suicídio em 11 de setembro de 1891, fez parte da geração de 70, que introduziu o realismo em Portugal. Apesar disso, as obras do autor também apresentam traços românticos, como a melancolia e o misticismo. No entanto, chama atenção o racionalismo verificado no rigor formal de seus sonetos.
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Resumo sobre Antero de Quental
- O escritor português Antero de Quental nasceu em 1842 e faleceu em 1891.
- O poeta fez parte da geração de 70, introdutora do realismo em Portugal.
- Ele foi o principal defensor do realismo no debate que ficou conhecido como a questão coimbrã.
- As obras de Antero de Quental também apresentam traços românticos.
Biografia de Antero de Quental
Antero de Quental nasceu em 18 de abril de 1842, na ilha portuguesa de São Miguel. Era membro de uma família tradicional da região. Seu avô — André da Ponte de Quental — foi signatário da Constituição de 1822. No entanto, como estudante no curso de Direito, na Universidade de Coimbra, o jovem poeta se destacou por combater o conservadorismo.
O autor publicou seu primeiro livro — Sonetos de Antero — em 1861. Após terminar a faculdade, aprendeu o ofício de tipógrafo e o exerceu, em 1867, quando morou em Paris. Ali, o escritor teve contato com a classe operária e também assistiu a algumas aulas no Collège de France.
Ao voltar a Portugal, escreveu o artigo “Portugal perante a Revolução de Espanha”, em defesa da república. Em 1868, esteve nos Estados Unidos e no Canadá. De volta às terras lusitanas, foi morar com seu amigo Jaime Batalha Reis (1847-1935). Em 1871, os dois amigos moravam em uma casa em Lisboa, na rua dos Prazeres, onde recebiam amigos como Eça de Queirós e outros intelectuais que compunham o famoso Cenáculo.
Em 1870, Antero de Quental foi um dos fundadores do jornal democrata A República. No ano seguinte, foi um dos organizadores das Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, que abrigavam discussões acerca de questões políticas, sociais e econômicas do país. Já em 1875, ajudou a criar o Partido Socialista Português, além da Revista Ocidental.
Nos anos de 1878 e 1879, voltou a viver na França, mas para tratar de problemas de saúde. De volta a Portugal, adotou as filhas de seu amigo Germano Meireles (1842-1877) e foi candidato a deputado pelo Partido Socialista. Nos próximos anos, dedicou-se à escrita e à criação das filhas, antes de se matar, em 11 de setembro de 1891.
A questão coimbrã
A questão coimbrã está relacionada ao famoso debate literário entre autores portugueses, em 1865 e 1866. De um lado, aqueles que defendiam o realismo e, de outro, os que enalteciam o romantismo. A luta foi travada por meio dos periódicos da época, que publicavam textos de ambos os lados da disputa.
Como a maioria desses intelectuais estava ligada à Universidade de Coimbra, a discussão ficou conhecida como questão coimbrã. Além disso, cada lado tinha o seu porta-voz. Desse modo, o escritor António Feliciano de Castilho (1800-1875) defendia o romantismo, enquanto Antero de Quental era a jovem voz do realismo.
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Estilo literário de Antero de Quental
Antero de Quental fez parte da geração de 70, responsável pela introdução do realismo em Portugal. No entanto, suas obras também apresentam traços do romantismo. Assim, genericamente, elas possuem as seguintes características:
- Elementos utópicos
- Crítica sociopolítica
- Melancolia
- Pessimismo
- Morbidez
- Erotismo
- Misticismo
- Idealização do amor
- Rigor formal
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Principais obras de Antero de Quental
- Sonetos de Antero (1861)
- Beatrice e fiat lux (1863)
- Odes modernas (1865)
- Bom senso e bom gosto (1865)
- A dignidade das letras e as literaturas oficiais (1865)
- Defesa da Carta encíclica de sua santidade Pio IX (1865)
- Portugal perante a Revolução de Espanha (1868)
- Causas da decadência dos povos peninsulares (1871)
- Primaveras românticas (1872)
- Considerações sobre a filosofia da história literária portuguesa (1872)
- A poesia na atualidade (1881)
- Os sonetos completos (1886)
- A filosofia da natureza dos naturistas (1886)
- Tendências gerais da filosofia na segunda metade do século XIX (1890)
- Raios de extinta luz (1892)
Sonetos de Antero de Quental
Vamos analisar dois sonetos de Antero de Quental. No primeiro, intitulado “Sonho”, o eu lírico afirma que sonhou que o vento o levava pelo espaço, e as estrelas lhe perguntavam onde estava “a nossa irmã”, mas o eu lírico não respondia. Por fim, no final do soneto, ele se dirige a uma interlocutora — ao que tudo indica, a mulher amada — e diz que não ousava contar às estrelas que ela era falsa e indigna delas. Assim, o poema se mostra realista, já que não idealiza a mulher amada:
Sonhei — nem sempre o sonho é coisa vã —
Que um vento me levava arrebatado,
Através desse espaço constelado
Onde uma aurora eterna ri louçã…
As estrelas, que guardam a manhã,
Ao verem-me passar triste e calado,
Olhavam-me e diziam com cuidado:
Onde está, pobre amigo, a nossa irmã?
Mas eu baixava os olhos, receoso
Que traíssem as grandes mágoas minhas,
E passava furtivo e silencioso,
Nem ousava contar-lhes, às estrelas,
Contar às tuas puras irmãzinhas
Quanto és falsa, meu bem, e indigna delas!
Já o soneto “Desesperança” traz o pessimismo romântico ao mostrar que o amor é algo que não dura, não passa de “sombra d’uma hora” ou “nuvem”. O eu lírico diz que devemos afastar de nós “quem mais se abraça/ Com mais ânsia, à nossa alma”. Ele sugere que a esperança é um sonho e que a desventura nunca é só engano. Então, ele diz para a alma se envolver em si própria, e, paradoxalmente, expressa uma esperança — que haja ventura na desesperança:
Vai-te na asa negra da desgraça,
Pensamento de amor, sombra d’uma hora,
Que abracei com delírio, vai-te, embora,
Como nuvem que o vento impele… e passa.
Que arrojemos de nós quem mais se abraça,
Com mais ânsia, à nossa alma! e quem devora
Dessa alma o sangue, com que vigora,
Como amigo comungue à mesma taça!
Que seja sonho apenas a esperança,
Enquanto a dor eternamente assiste.
E só engano nunca a desventura!
Se em silêncio sofrer fora vingança!...
Envolve-te em ti mesma, ó alma triste,
Talvez sem esperança haja ventura!
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Frases de Antero de Quental
A seguir, vamos ler algumas frases de Antero de Quental, extraídas de seu livro Sonetos completos. Para isso, fizemos uma adaptação, isto é, convertemos seus versos em prosa:
- “As nações, com sorriso bestial, abrem, sem ler, o livro do futuro.”
- “A noite é a imagem da Verdade, que está além das coisas transitórias.”
- “Não é mortal o que eu em ti adoro.”
- “Conheci a Beleza que não morre e fiquei triste.”
- “O presente, a aspirar sempre ao futuro: o futuro, uma sombra mentirosa.”
- “Só males são reais, só dor existe; prazeres só os gera a fantasia.”
- “O pensamento, que mil planos traça, é vapor que se esvai e se dissolve.”
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[1] Grupo Editorial Global (reprodução)