Abaporu, de Tarsila do Amaral – uma das figuras representativas do Modernismo brasileiro
Façamos primeiramente uma breve contextualização no que tange aos aspectos ligados ao cenário político e econômico referente à época em que eclodiram as manifestações de uma arte totalmente voltada para o resgate de uma cultura nacionalista, na qual o objetivo foi tão somente abolir tudo aquilo que denotasse reprodução, cópia, em referência aos moldes até então instituídos.
Para tanto, enfatizaremos acerca dos aspectos elementares que norteavam a política da vigente época. Alguns estados brasileiros, sobretudo, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul eram comandados pelas oligarquias – elites formadas pelos grandes cafeicultores mineiros e pelos paulistas, notáveis produtores de leite – , razão pela qual se deu a conhecida nomenclatura: política café com leite. Não deixando, porém, de mencionar que todo esse poder que a eles era destinado se voltava apenas para interesses próprios, configurado como sendo “um governo de poucos”.
Um verdadeiro contraste mesclava-se em meio a toda essa estável economia – as demais regiões, representadas pelo Centro, Norte e, em especial, o Nordeste, ficavam a mercê do descaso, tendo como consequência o agravamento de problemas sociais. Nesta última, predominava o comando coronelista, latifundiários que comandavam “exércitos” de jagunços que, se formos analisar, retomavam aos moldes trovadorescos – o regime servil ocupava lugar de destaque, no qual a não concordância podia implicar em sérias punições, a quem quer que fosse.
Tais inquietações corroboraram para que houvesse uma reação por parte das camadas sociais. Não diferente ocorreu, pois a valorização da moeda com vistas a conter a queda do preço do café contribuiu para o aumento de preços desproporcionais ao aumento do salário, e a crise, aos poucos, foi sendo desencadeada. Diante de tal situação, vários setores da sociedade se mobilizaram, inclusive os militares que se demonstravam ansiosos por uma política centralizadora. Todos esses propósitos geraram inúmeros movimentos, entre eles, o Movimento Tenentista, chefiado por Luís Carlos Prestes, a Revolta do Forte de Copacabana e a Revolta de 1924.
Sem contar que, em 1929, houve a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque (crack), cujo resultado foi a falência de uma boa parcela representada pela burguesia do mundo inteiro, inclusive a brasileira. Entretanto, em meio a esse clima revolucionário, a sociedade burguesa carioca e paulista ainda era fortemente influenciada pelos ditames culturais oriundos da Belle Époque, conduzindo as práticas sociais como um todo, visto que o francês era considerado chique, esplendoroso.
A arte literária também se manifestou diante desse clima de insatisfação por meio do evento considerado como marco introdutório do movimento modernista – A Semana de Arte Moderna, ocorrida no Teatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922. O evento tinha como principal objetivo uma renovação ideológica, baseando-se em uma temática com identidade própria, retratando um verdadeiro repúdio aos modelos “importados”. Tal concepção já teria sido cultuada pelos representantes pré-modernistas, e os modernistas apenas trataram de aperfeiçoá-la.
As produções artísticas referentes à geração de 1922 foram demarcadas por um considerável experimentalismo, tanto na forma quanto na temática, evidenciado pelos pressupostos conferidos pela Semana. Dentre as características que a elas se remetem estão:
* Rompimento com o academicismo literário antes cultuado, principalmente, pelos representantes parnasianos;
* Ruptura com a gramática normativa voltada para uma acirrada erudição;
* Desapego às formas previamente fixadas, optando pela liberdade formal, pelo emprego do verso livre, pelas composições irregulares e pelo atributo à pontuação subjetiva ou a ausência desta e
* Livre associação de ideias, na qual o discurso se perfaz de uma linguagem cotidiana, coloquial, aproximando-se do prosaico.
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