De modo a compreendermos efetivamente como se demarcaram os períodos inerentes à arte literária é de fundamental importância situarmo-nos diante do contexto histórico, com objetivo de detectarmos as possíveis influências manifestadas por este no trabalho artístico de seus representantes.
Para tanto, antes de adentrarmos sobre as particularidades que marcaram a segunda fase modernista, muito bem representada pela conhecida “geração de 1930”, façamos uma volta ao passado histórico que tanto marcou a referida época. Ao final da Primeira Guerra Mundial, com a vitória da Tríplice Entente subsidiada pelos Estados Unidos, houve a instauração de vários acordos de paz que obrigavam os derrotados a assinarem sua rendição, sobretudo o Tratado de Versalhes.
Notáveis prejuízos foram conferidos à Alemanha, que teve seu exército reduzido, sua indústria bélica controlada e teve de devolver à França a região da Alsácia Lorena. Além disso, também foi obrigada a pagar aos países vencedores todos os danos causados em consequência do combate. Não só esse país, mas também os demais derrotados sentiram que sua soberania fora aos poucos sendo destituída e, assim, foi inegável o direito de resposta a tal condição. Diante disso, ditaduras foram surgindo, em especial na Itália e Alemanha. O italiano Benito Mussolini encontrou respaldo para seus objetivos nos membros do Exército e Marinha, liderando a frente fascista. Adolf Hitler, por sua vez, centrado no propósito de dominar o mundo, comandou o nazismo. Fatos estes que contribuíram para que a Segunda Guerra fosse deflagrada.
Quanto aos acontecimentos retratados em solo brasileiro, grandes transformações na esfera política eram também reveladas. Tanto que, em 1929, o presidente Washington Luís indicou como seu sucessor o então governador de São Paulo, Júlio Prestes. Mas, como sabemos, todo embate se dá entre forças adversárias, e foi assim que a frente de oposição, representada pela Aliança Liberal, lançou Getúlio Vargas para a presidência, e João Pessoa, então governador da Paraíba, como seu vice. A derrota da Aliança Liberal fez com que sua ala mais jovem, formada por famílias tradicionais de Minas e do Rio Grande do Sul, se unissem a forças tenentistas, apesar das restrições de ordem ideológica pertencente a ambos os grupos.
No entanto, Prestes opôs-se ao acordo (decorrente da união entre as duas forças opostas) e lançou um manifesto no qual se declarava um socialista revolucionário, condenando o apoio conferido à Aliança Liberal. Apesar disso, a Aliança seguiu em frente e se tornou vitoriosa, levando Getúlio Vargas ao poder. Iniciava-se então a Era Vargas e, consequentemente, por meio de decisões atribuídas por ele (extinção dos partidos políticos, suspensão da campanha presidencial e a Constituição de 1934), implementou-se a tão conhecida Ditadura do Estado Novo.
Munidos de tais pressupostos, passaremos agora a enfatizar as peculiaridades referentes à já citada geração de escritores que compuseram a segunda fase do Modernismo brasileiro. E, diga-se de passagem, todas essas inquietações se fizeram refletir nas produções literárias do período em voga.
A geração de 1930 veio consolidar as inovações propostas pela primeira fase modernista. Porém, o contexto histórico, tão discutido anteriormente, exigia que se implantasse uma literatura um pouco mais voltada para a realidade social brasileira, razão pela qual a fase é também conhecida como neorrealista. Digamos que ela tenha feito uma retomada parcial às características proferidas pelo Realismo/Naturalismo.
Não obstante, é relevante mencionar que houve um desapego a todo aquele cientificismo, característico da era naturalista. Os representantes pautaram-se pela observação das relações entre o homem x meio e entre o homem x sociedade. Outro aspecto bastante peculiar é que o componente ficcional da geração em estudo foi o fator emocional dos personagens – abnegado no Naturalismo em virtude das correntes filosóficas, sobretudo o Determinismo, que considerava o homem como sendo produto do meio, da raça e do contexto histórico.
Assim sendo, a prosa desse período se subdividiu em três vertentes. Vejamos cada uma de modo particular:
Prosa regionalista – Antes promulgada pela estética romântica, a prosa renasce de modo veemente, embora com uma “nova roupagem” no que se refere à temática e à linguagem, tendo no regionalismo nordestino, sua principal fonte de inspiração. Os problemas sociais desencadeados pela crise, a atividade açucareira e suas correntes migratórias para o eixo Sul/Sudeste expressavam o caos em que vivia a população em meio ao descaso dos políticos. Tal posicionamento foi representado em primeira instância por José Américo de Almeida, com sua obra A bagaceira.
Prosa urbana – Cultuada pelos representantes românticos, a prosa urbana era retratada pela vivência do homem na cidade e seus conflitos sociais, enfatizando as dualidades já mencionadas: relação entre ser humano e meio e ser humano e sociedade.
Prosa intimista – Trata-se de uma inovação no período. Com base nas teorias freudianas e em outras correntes psicológicas, houve o predomínio do interesse pela investigação e sondagem do mundo interior dos personagens e seus prováveis conflitos íntimos. Dionélio Machado e Lúcio Cardoso foram grandes mestres nesta arte representativa.
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