O advento da internet trouxe algumas inovações para a modalidade escrita, entre elas, o emprego da hashtag. Mas, afinal, para que serve uma hashtag?
Há alguns anos, com o advento e popularização da internet, fomos apresentados a um novo tipo de linguagem específico da área da informática. Muitas inovações foram parar nos mais conceituados dicionários da língua portuguesa, que anexaram verbetes até então tidos como estrangeirismos, como o verbo “deletar”, oriundo da palavra “delete”, que, em inglês, significa “apagar”. Um novo universo de possibilidades linguísticas nos foi apresentado, e com ele surgiram também muitas dúvidas!
Quem, vinte anos atrás, identificaria de imediato o símbolo “@”? A “arroba”, que antes era apenas um símbolo mercantil empregado para substituir a palavra da língua inglesa at, hoje é utilizada para indicar a localização de endereços de correio eletrônico, ou seja, de e-mails. Além dela, outro símbolo tornou-se ainda mais popular, a “#” (hashtag, que é mais popularmente conhecida na língua portuguesa como “jogo da velha” ou “cerquilha”). Antigamente, as hashtags serviam apenas para acionar recursos adicionais em telefones fixos e móveis, mas hoje elas ganharam uma nova significação, principalmente para quem usa as redes sociais.
Muitas pessoas, menos íntimas dos símbolos da informática, perguntam-se: “Afinal, para que serve uma hashtag?”. Na informática, a inspiração para usar o símbolo veio do IRC (Internet Relay Chat), um tipo de protocolo de comunicação utilizado na rede para bate-papos e trocas de arquivos. No IRC, você inicia uma mensagem com a # e adiciona o nome do canal para indicar que ela pertence a certo grupo ou assunto. Inicialmente era essa a sua função: indexar um tópico ou assunto nas redes sociais com o objetivo de permitir o acesso de todos a uma determinada discussão, já que, ao clicar nas hashtags, elas transformam-se em hiperlinks (hiperligação de um texto a outros documentos, resultando em um hipertexto).
Pareceu confuso? Vamos então a um exemplo de uso da hashtag: Vamos supor que, nesta data, cientistas divulgaram a cura da AIDS. Rapidamente a notícia espalhou-se no mundo virtual, e usuários das mais diversas redes sociais começaram a compartilhar opiniões sobre o assunto utilizando a seguinte hashtag: #curadaAIDS. Dentro de poucos minutos, o assunto é identificado como o mais discutido na rede graças ao uso do símbolo #, que permite que ele seja indicado como elemento de um grupo ou assunto. Ao clicar na hashtag compartilhada por um amigo, seja no Twitter, no Instagram ou no Facebook, você é redirecionado para uma nova página, na qual tem acesso a todos os comentários que utilizaram #curadaAIDS, podendo, assim, ficar informado sobre a discussão.
Quando iniciamos uma mensagem com o símbolo “#”, indicamos que ela pertence a um grupo ou determinado assunto para o qual ela será indexada
Mas por que será que algumas pessoas utilizam a hashtag inadvertidamente? Não é incomum encontrar postagens recheadas de hashtags empregadas fora de seu propósito original, não é verdade? Elas não são parte de nenhum assunto muito comentado no Brasil ou no mundo, no entanto, estão lá, marcando presença em uma postagem sobre uma viagem, uma festa com os amigos ou outras experiências bem pessoais (#partiuacademia). Acontece que, quando utilizadas assim, sem nenhum motivo aparente, as hashtags transformam-se em verdadeiras vilãs da língua portuguesa! Quando as hashtags entram pela janela, todos os sinais importantes de nossa língua portuguesa saem pela porta! Todos: o til, o acento agudo, o acento circunflexo e até mesmo os sinais de pontuação saem de cena para que o dinamismo da escrita (característica muito comum à informática) seja privilegiado.
O emprego indevido ou exagerado das hashtags faz com que elas endossem um assunto que vem sendo discutido há algum tempo pelos linguistas: a importância da língua padrão nos meios eletrônicos. A velocidade e o dinamismo da comunicação, elementos inerentes à linguagem da internet, colocam as regras da gramática tradicional em segundo plano. Ortografia, sintaxe e outras partes constituintes da língua são preteridas para que os usuários possam se comunicar com maior agilidade. Até aí tudo bem, vide a existência das variantes linguísticas, importante fator que deve sim ser considerado. Contudo, infelizmente, os mais incautos acabam cometendo um erro muito comum: a inadequação linguística.
Saber utilizar a linguagem nas diferentes situações comunicacionais é indispensável. O ideal é que sejamos poliglotas em nossa própria língua. Se para divulgar uma hashtag é preciso dispensar as regras da gramática, tudo bem, mas não vale transferir a linguagem própria da informática para textos formais, cujo objetivo passa longe das conversas informais que travamos nas redes sociais. O uso exagerado das hashtags propicia a disseminação de situações confusas, mensagens que, de tão desconexas, transformam-se em um verdadeiro desafio para a compreensão humana, visto que não estão amparadas por qualquer tipo de pontuação ou acentuação, elementos que facilitariam a vida do leitor. Portanto, o ideal é ter bom senso e utilizar as hashtags de acordo com sua funcionalidade. Você quer provocar um efeito de humor com suas #s? Ok, mas cuidado para não ser incompreendido, afinal de contas, quem se comunica sempre espera que o interlocutor entenda sua mensagem, não é verdade?