A gradação é um recurso estilístico usado para aumentar (ou diminuir) a intensidade de um discurso por meio de termos dispostos sequencialmente. Há dois tipos de gradação: a ascendente (clímax) e a descendente (anticlímax). Vamos aprender melhor sobre eles.
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O que é gradação?
A gradação é uma figura de linguagem em que se utiliza uma ordenação progressiva de palavras ou de termos relacionados entre si de modo a aumentar ou diminuir a ideia que se expressa no enunciado. Por isso, é também classificada por alguns gramáticos como figura de acumulação.
Que efeito cria a gradação?
A sequência de palavras ou de termos que se utiliza na gradação intensifica ou ameniza o discurso, reforçando ou abrandando a estrutura semântica discursiva como um todo. Veja neste exemplo:
O dia estava bonito, muito belo, verdadeiramente exuberante.
A gradação acima ocorre porque a sequência de termos torna o dia cada vez mais belo, indo do “bonito” ao “verdadeiramente exuberante”.
“Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.”
(Gregório de Matos)
Nesses versos de Gregório de Matos, os termos, dispostos em sequência, relacionam-se semanticamente, havendo uma gradual intensificação entre eles. Todos passam uma ideia de extinção decorrente da decomposição, que vai se tornando cada vez mais intensa de acordo com os termos sublinhados.
Classificação
Há duas classificações possíveis de acordo com o efeito que a gradação causa: clímax e anticlímax.
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Clímax ou gradação ascendente
O clímax é conhecido como gradação ascendente por haver a intensificação semântica entre os termos dispostos em sequência. Vejamos alguns exemplos:
“O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso”
(Chico Buarque)
Nesses versos de Chico Buarque, a gradação ascendente se dá pela descrição com adjetivos cada vez mais fortes e impactantes: o guerreiro passa de vistoso a temido e, no auge, a poderoso.
“E como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora”
(Adriana Calcanhotto)
Nesse verso da música composta e interpretada por Adriana Calcanhotto, há uma gradação ascendente no sentido de que o calo proporciona uma proteção mais rígida do que a segunda pele. Por sua vez, a casca é ainda mais rígida do que o calo. Por fim, a cápsula protetora tem uma proteção ainda mais forte do que a da casca.
“Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida
Existem tantas
Um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
A anestesia mal aplicada
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio”
(Paulo Coelho e Raul Seixas)
Nesses versos compostos por Paulo Coelho e Raul Seixas, é possível sentir o clímax na forma como as possibilidades de morte imaginadas pelo eu lírico evoluem para maneiras cada vez mais trágicas e lentas, começando por um acidente de carro e chegando até o câncer espalhado pelo corpo. Esse efeito pode ser visto até no arranjo da canção. No entanto, pode-se dizer que há, também, um anticlímax, quando, da morte mais séria e trágica, o eu lírico passa repentinamente para a menos trágica: “um escorregão idiota” e fatal. Mas o que exatamente é anticlímax?
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Anticlímax ou gradação descendente
O anticlímax, por sua vez, é conhecido como gradação descendente por haver uma suavização semântica, ou seja, os termos em sequência têm significados cada vez menos intensos. É o que acontece nos exemplos a seguir.
“Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo...”
(Machado de Assis)
Ao justificar sua fala, a personagem José Dias (do romance Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis) utiliza a gradação descendente por começar pelo mais intenso dos argumentos, a veneração, e torná-los cada vez mais suaves, passando pela estima e pelo afeto, até se tornar um mero dever.
“Quando porém me encontrei diante da realidade: nossa velha casa demolida, as árvores arrancadas, o cavalinho de alvenaria [...] descido de seu pedestal na cumeeira, senti um aperto na garganta, comecei a chorar.”
Esse trecho de Anarquistas, graças a Deus, escrito por Zélia Gattai, mostra um exemplo de anticlímax ao descrever as mudanças da antiga casa da narradora, começando a descrição pela maior e mais impactante para terminar no menor detalhe de todos.
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Exercícios resolvidos
Questão 1 - Leia o enunciado abaixo e responda ao que se pede:
“Ela adora viajar. Deseja conhecer toda a cidade.”
Reescreva o enunciado de modo a inserir no trecho destacado uma gradação ascendente.
Resolução
“Deseja conhecer toda a cidade, o estado, o país, o continente, o mundo.”
Questão 2 - Leia os enunciados abaixo.
1) Passaram-se dias, meses, anos, e seguimos esperando.
2) Começou com uma brisa, que se tornou ventania e, por fim, vendaval.
3) Parecia que ninguém podia me ouvir gritar, chamar, sussurrar nada.
As gradações presentes nos enunciados acima são, respectivamente:
A) Clímax; clímax; clímax.
B) Anticlímax; anticlímax; anticlímax.
C) Clímax; clímax; anticlímax.
D) Anticlímax; clímax; anticlímax.
E) Clímax; anticlímax; anticlímax.
Resolução
Alternativa C. Nota-se o clímax, no primeiro enunciado, em “dias, meses, anos”, havendo prolongamento do tempo de espera; no segundo, temos “brisa”, “ventania” e “vendaval” como clímax, tornando o vento mais intenso; e, no terceiro, há anticlímax em “gritar”, “chamar” e “sussurrar”, já que o tom de voz é descrito em uma altura cada vez menos elevada para ser ouvido.