Derivação imprópria

Por Guilherme Viana

Derivação imprópria ocorre quando uma palavra tem sua classificação gramatical alterada devido ao contexto em que foi utilizada, ganhando, assim, um novo significado.

A derivação imprópria traz um novo significado à palavra, sendo essa classificada de modo diferente do original.

A derivação imprópria é um processo de formação de palavras que altera a classificação gramatical original de uma palavra, fazendo com que ela ganhe um novo significado ao ser usada em outro contexto, mas mantendo a sua forma original. Outros tipos de formação de palavra por derivação são as derivações prefixal, sufixal, parassintética e regressiva, que alteram a forma da palavra.

Veja também: Ortografia — o conjunto de regras estabelecidas pela gramática normativa para a grafia das palavras

Resumo sobre derivação imprópria

  • É um dos processos de formação de palavras.
  • Nela, a palavra é usada em um contexto diferente do original, tendo sua classificação gramatical inicial alterada naquele enunciado. Assim, é formada uma nova palavra, tendo um novo significado com a mesma forma original.
  • Os processos de formação de palavras por derivação são:
    • prefixal;
    • sufixal;
    • parassintético;
    • prefixal ou sufixal;
    • regressivo;
    • impróprio.
  • Com exceção da derivação imprópria, que não altera a forma da palavra, os outros tipos de derivação alteram a forma da palavra.

O que é a derivação imprópria?

A derivação imprópria é um processo no qual uma palavra tem sua classificação gramatical original alterada. Isso se dá para ela ser encaixada em outro contexto, ganhando um novo significado por meio de um processo de formação de palavras. Esse processo de formação de palavras é muito comum na língua portuguesa e já trouxe uma série de palavras novas ao vocabulário.

Exemplos de derivação imprópria

Na derivação imprópria, uma palavra tem sua classificação original alterada de forma que possa a ser usada em um contexto que pede outra classe gramatical. Desse modo, a forma da palavra se mantém, mas sua classificação muda, gerando uma nova palavra com um novo significado (apesar de mantida a forma da palavra primitiva que a originou).

É possível transformar substantivos em adjetivos, adjetivos em substantivos, verbos em substantivos, entre outras modificações possíveis. Veja os exemplos a seguir.

  • Verbo → substantivo

Resolvemos não fazer nada até entardecer.

O entardecer daquela cidade era belo e poético...

Nesse primeiro caso, a palavra “entardecer” é originalmente um verbo. Entretanto, no segundo enunciado, ela é usada como um substantivo, ou seja, é uma nova palavra que mantém a forma do verbo que a originou, mas ganhando um novo significado: não se trata mais da ação de entardecer (como no verbo), e sim de um substantivo que indica a transição entre o dia e a noite.

  • Adjetivo → substantivo

Esse vestido é muito belo.

O belo é muito discutível.

A palavra “belo” é originalmente um adjetivo, mas pode ser usada como substantivo, como sinônimo de “beleza”, como é o caso do segundo enunciado.

  • Substantivo → adjetivo

Tem um ninja nessa história.

Ela foi muito ninja pra vencer a prova.

A palavra “ninja”, originalmente um substantivo, foi usada como um adjetivo no enunciado, como sinônimo de uma pessoa muito ágil, habilidosa.

  • Adjetivo → advérbio

Fábio é o mais alto.

Fábio fala alto.

A palavra “alto” é classificada originalmente como adjetivo. No segundo enunciado, porém, ela é usada como advérbio, modificando o verbo “fala”.

  • Conjunção → substantivo

Nós íamos, porém tivemos um imprevisto.

Esse porém foi o que nos impediu de ir.

A palavra “porém” é uma conjunção coordenativa. Ao ser transformada em substantivo no segundo enunciado, ela ganha o significado de “empecilho”, “contratempo”.

  • Pronome → substantivo

Aquilo não foi nada.

Eu sinto um nada em meu peito.

A palavra “nada”, classificada originalmente como um pronome indefinido, transforma-se em substantivo no segundo enunciado.

Leia também: Composição — o processo de formação de palavras baseado na junção de palavras ou de radicais já existentes

Processo de formação de palavras por derivação

Além da derivação imprópria, há outros tipos de formação de palavras por derivação.

→ Derivação prefixal

Uma nova palavra é formada adicionando-se um prefixo à palavra primitiva.

Ex.: culto - inculto

→ Derivação sufixal

Uma nova palavra é formada adicionando-se um sufixo à palavra primitiva.

Ex.: casa - casamento

→ Derivação parassintética

Uma nova palavra é formada adicionando-se um prefixo e um sufixo ao mesmo tempo à palavra primitiva. É necessário que ambos sejam elementares para formar-se a palavra, não sendo possível existir uma palavra apenas com um ou com outro.

Ex.: tarde - entardecer

→ Derivação prefixal e sufixal

Uma nova palavra é formada adicionando-se um prefixo e um sufixo. Difere-se da derivação parassintética, pois é possível haver uma palavra apenas com um ou com outro, sendo uma soma dos dois casos.

Ex.: leal - deslealdade (desleal/lealdade)

→ Derivação regressiva

Uma nova palavra é formada reduzindo-se a forma da palavra primitiva.

Ex.: perder - perda

Saiba também: 10 erros gramaticais que ninguém deveria cometer

Exercícios resolvidos sobre derivação imprópria

Questão 1

(FCC - Adaptado)

Considere o conto de Carlos Drummond de Andrade e a exposição de Celso Cunha, para responder à questão.

Texto I

A beleza total

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços.

A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa.

O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito.

Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um dia cerrou os olhos para sempre. Sua beleza saiu do corpo e ficou pairando, imortal. O corpo já então enfezado de Gertrudes foi recolhido ao jazigo, e a beleza de Gertrudes continuou cintilando no salão fechado a sete chaves.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012) 

Texto II

As palavras podem mudar de classe gramatical sem sofrer modificação em sua forma. A este processo de enriquecimento vocabular pela mudança de classe das palavras dá-se o nome de derivação imprópria.

(Celso Cunha. Gramática essencial, 2013. Adaptado.)

Verifica-se um exemplo de derivação imprópria no seguinte trecho:

A) A moça vivia confinada num salão (3° parágrafo).

B) Sua beleza saiu do corpo (4° parágrafo).

C) Não ousavam abranger o corpo inteiro (1° parágrafo).

D) A moça já não podia sair à rua (2° parágrafo).

E) Houve um engarrafamento monstro (2° parágrafo).

Resolução:

Alternativa E

A palavra “monstro” é originalmente um substantivo; porém, no contexto apresentado, foi usada como adjetivo para indicar algo “monstruoso”, sendo um típico caso de derivação imprópria.

Questão 2

(Fuvest)

Leia os versos abaixo, pertencentes a uma cantiga de amigo, do trovadorismo português.

“Ai, flores, ai flores do verde ramo

se sabedes novas do meu amado?

Ai, Deus, e u é”

(sabedes = sabeis; u = onde)

Encontre no trecho acima DOIS exemplos de derivação imprópria e transcreva-os.

Resolução:

As palavras “novas” e “amado” são dois exemplos de derivação imprópria no trecho, pois, apesar de serem originalmente classificadas como adjetivos, são usadas como substantivos no excerto.

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