Dando continuidade aos nossos estudos acerca dos sinais de pontuação, enfatizando as devidas situações em que se encontram aplicáveis mediante o discurso, analisaremos agora as circunstâncias relacionadas às reticências, aspas, parênteses e colchetes. Vejamos:
Reticências ( ... ):
Caracterizam-se por indicar uma interrupção na ordem sequencial da frase. Manifestando-se por meio dos seguintes casos:
* Para indicar suspensão ou interrupção do pensamento.
Ex.: Caminhava tranquilamente pelo bosque, quando de repente...
* Representar hesitações comuns, visivelmente demarcadas pela oralidade.
Ex.: Não quero acompanhá-los no passeio porque... porque estou indisposta, ok?
* Indicar que houve supressão de trechos mediante a trancrição de um determinado texto de autoria alheia.
Ex.:
Eu não existo sem você
Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você
(...)
Vinícius de Moraes
Aspas ( “”):
Manifesta-se diante das situações relacionadas à:
* Representação de legendas e obras.
Ex.: “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa – caracterizada como verdadeira obra-prima da literatura brasileira e lusófona.
* Nas citações ou transcrições de trechos com fontes bibliográficas.
Ex.:
“Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade... ”
Machade de Assis, A cartomante.
* Para destacar palavras ou expressões no intento de conferir-lhes ênfase, tais como as palavras estrangeiras, gírias, arcaísmos e neologismos de forma geral.
Exs.:
Nestas férias, visitamos a “cidade maravilhosa” e ficamos encantados com tamanha beleza.
Várias pessoas ficaram famosas ao participarem dos “Realities Shows”.
Parênteses [ ( ) ]:
Sua incidência manifesta-se por meio das seguintes circunstâncias:
* Para demarcar uma indicação de natureza explicativa.
Ex.: As orações assindéticas são caracterizadas pela ausência do conectivo (conjunção).
*Para separar um comentário ou uma reflexão.
Ex.: As eleições estão se aproximando (e tomara que o povo saiba escolher quem serão nossos futuros representantes), a menos de três meses exerceremos nosso dever civil.
* Na indicação de fontes bibliográficas.
Ex.:
Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
(Mário Quintana)
Colchetes ( [ ] ):
Possuem função semelhante a dos parênteses, entretanto, seu uso é bastante restrito, relacionando-se somente aos escritos de cunho didático, filológico ou científico. Eis alguns casos em que estes se materializam:
* Em definições de verbetes trazidas pelo dicionário, fazendo referência à etimologia da palavra.
Ex.: Charge – s.f. cartum em que se faz ger., crítica social e política. [Cf. cartum.]
*Para isolar o termo latino sic (“assim”) com vistas a indicar que, mesmo parecendo estranho, pertence ao texto ora em questão.
“Hamlet observa a Horácio que há mais cousas [sic] no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. (Machado de Assis)
* Para representar os sons da fala, em se tratando de uma determinada palavra.
Ex.: amam [ãmãw]; lobo [lobu]...